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França/vacinas

Associação contra vacinas processa laboratórios na França

A obrigatoriedade das vacinas está em pleno debate na França. Uma ação contra os laboratórios Sanofi, Pfizer, Eli Lilly e GlaxoSmithKline será levada à justiça por uma associação de famílias que exige uma reparação por supostos efeitos colaterais causados pela vacina contra rubéola, sarampo e caxumba, que seria responsável por casos de autismo.

Associação composta por famílias exigem reparação por supostos danos causados pela vacinação pediátrica.
Associação composta por famílias exigem reparação por supostos danos causados pela vacinação pediátrica. Pixabay
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Marcos Fernandes, especial para a RFI

A líder do movimento, a militante Martine Ferguson-André, alega que o autismo de seu filho é resultado das cinco doses de vacina que ele recebeu quando tinha dez meses.

O nome da associação responsável pela ação não deixa dúvidas quanto ao teor da acusação contra os laboratórios: “Autismo Vacinação”. De acordo com a advogada especializada em saúde pública Marie-Odile Bertella-Geffroy, conselheira do grupo, “as famílias querem saber se existe uma ligação entre as vacinas e o autismo. Essa pergunta deve entrar no debate público. A ação poderá impulsionar as pesquisas a respeito na França, que são insuficientes”, afirma.

O processo se inspira em uma polêmica que já existe nos Estados Unidos, onde o presidente Donald Trump também cogitou a possível ligação entre a vacinação e o autismo. Segundo especulações, o chefe da Casa Branca teria nomeado Robert Kennedy Junior, um advogado americano conhecido por se opor à vacinação, para presidir uma comissão que irá “investigar a eficácia das vacinas”.

Sem provas científicas

Entretanto, a tese de que existe um elo direto entre vacinas e o desenvolvimento de autismo em crianças não é recente e já foi discutida em diversos estudos desde os anos 1990. O responsável por iniciar a polêmica discussão, Andrew Wakefield, teve suas pesquisas duramente criticadas e foi inclusive expulso da Ordem de Médicos da Grã-Bretanha por divulgar dados falsos. Atualmente Wakefield mora nos EUA, onde recebe apoio do governo Trump.

O professor especialista em imunologia pediátrica do Collège de France Alain Fischer, entrevistado pela RFI, diz que o argumento de que não existe muito material científico sobre o assunto é sem fundamento. O próprio estudo de Wakefield provocou uma série de outras pesquisas em outros países, mas que não conseguiram até hoje provar a existência de uma ligação direta entre as substâncias que compõem as vacinas e o autismo.

“A literatura científica está disponível, com cerca de dezenas de artigos. Esse elo entre vacinas e autismo não foi observado estatisticamente”, afirma Fischer. “Tudo isso é o que podemos chamar de ‘fake news’. É uma manipulação da informação, uma campanha de difamação da vacinação”.

Coletividade em jogo

Dentro desse contexto, a ação da associação Autismo Vacinação vai precisar de muito esforço se quiser ser levada adiante. Mas Bertella-Geffroy já conseguiu chamar atenção para sua causa. "Toda vez que uma polêmica acontece em torno desse assunto, isso dá crédito às afirmações dessas pessoas”, lamenta o professor Fischer. “Os grupos contra a vacinação estão mais organizados e têm uma equipe de comunicação mais profissional. Cada vez que os jornais falam a respeito, eles ganham visibilidade”.

O ataque aos laboratórios chega num momento delicado às terras francesas, ao mesmo tempo que o governo pretende aprovar um projeto para aumentar o número de vacinas obrigatórias de três para onze. “A cobertura vacinal é insuficiente na França. A vacinação é o que permitiu salvar milhões de vidas”, afirmou a Ministra da Saúde Agnès Buzyn em uma conferência de imprensa. “Não podemos permitir que crianças e adolescentes morram porque não foram vacinados”.

Para o professor Fischer, a ação contra os laboratórios é gravíssima pois pode influenciar questões maiores de saúde pública. “Quando nos vacinamos, nós protegemos a nós mesmos e também àqueles que não podem ser vacinados por diversas razões, como os recém-nascidos, os muito idosos ou as pessoas com doenças autoimunes. A vacinação não é um assunto individual, mas de solidariedade coletiva”. O laboratório Sanofi não respondeu aos pedidos de entrevista da RFI. 

Com informações de Alfred Aurenche

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