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França/Frankfurt

Literatura francesa contemporânea é destaque em Frankfurt

Acontece em Frankfurt, na Alemanha, a maior Feira do Livro do mundo. Mais de 7,3 mil editoras de cem países vão apresentar os seus produtos até domingo para um público estimado de 280 mil pessoas. Cerca de 600 escritores estarão presentes para encontros e sessões de autógrafos. A França é a convidada de honra deste ano.

Um estande da feira de livros em Frankfurt, a maior feira de livros do mundo que vai de 11 de outubro a 15 de outubro e apresenta a literatura da França como convidada de honra, em Frankfurt, Alemanha, outubro 10, 2017.
Um estande da feira de livros em Frankfurt, a maior feira de livros do mundo que vai de 11 de outubro a 15 de outubro e apresenta a literatura da França como convidada de honra, em Frankfurt, Alemanha, outubro 10, 2017. REUTERS/Ralph Orlowski
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A inauguração oficial, na terça-feira (10), teve presença do presidente francês, Emmanuel Macron, que foi recebido por Angela Merkel. A chanceler evocou a pobreza cultural que seria da Alemanha ou da França, se não contassem com a literatura da outra.

 

Já Macron criticou o crescimento do populismo e do nacionalismo no continente europeu e defendeu o poder unificador dos livros. “ Lutamos por nossos livros e nossa cultura. Sem cultura, não há Europa, e os livros são a melhor arma”, disse o presidente francês em discurso.

A cerimônia de abertura oficial contou também com a presença da ministra da Cultura francesa, Françoise Nyssen, co-diretora da editora Actes Sud, uma das mais importantes da França. Ela aproveitou para convocar uma reunião informal com alguns de seus colegas europeus para discutir a cultura na Europa. Nyssen defendeu três prioridades: proteção, liberdade e solidariedade no setor.

A importância da honraria é incontestável, como explicou Paul de Sinerty, o curador francês:

“Há 28 anos a França não era a convidada especial neste que é o encontro editorial mais importante do mundo. É um grande desafio, portanto. Depois de tantos anos, precisamos apresentar novos nomes, novos textos, mostrar o dinamismo e a energia da criação literária, intelectual e artística da língua francesa – da França e dos países francófonos. É uma oportunidade, nesta fase de retomada de diálogos entre França, Alemanha e Europa, para apresentar uma nova Europa cultural”.

A seguir, de Sinerty fala sobre a importância econômica do evento:

“Frankfurt é o principal local onde se fecham todos os negócios. Principalmente na área de cessão de direitos, o impacto deste convite se verifica indiscutivelmente junto às editoras alemãs. Desde que os parceiros e editores alemães ficaram sabendo que a França seria a convidada de honra, há dois anos, houve um pico de interesse sobre o que é editado em francês. Os números mostram e provam um aumento das traduções e cessões de direitos para o alemão”.

O francês é, aliás, a segunda língua mais traduzida na Alemanha, depois do inglês. “O último romance de Michel Houellebecq, um dos autores franceses mais conhecidos, “Submissão” (traduzido no Brasil pela editora Alfaguara em 2015), por exemplo, vende mais na Alemanha que na França.  

Outros autores em francês que vendem bem na Alemanha são Emmanuel Carrère - seus últimos livros editados no Brasil são Limónov (2011) e O Reino (2015), ambos pela Anagrama – , Valère Novarina e Yasmina Reza.

O curador francês ressalta ainda que este ano o interesse alemão vai além da França, ele se estende a outros países. “A língua francesa é proposta em Frankfurt por uma diversidade de autores e de situações de escritura excepcionais. Acho que a mensagem, muito perceptível entre os parceiros alemães, de uma cultura e de uma produção editorial de língua francesa aberta para o mundo”.

Mecanismos de vendas

Uma reportagem do jornal Le Monde descreve os bastidores das vendas de direitos em Frankfurt, com testemunhos des representantes franceses, quase que exclusivamente mulheres, na verdade, que fazem maratonas de apresentações de produtos para potenciais compradores. Uma editora explica que livros premiados são certeza de faturamento, como “Meursault, contre-enquête”, de Kamel Daoud, que levou o cobiçado Goncourt de primeiro romance em 2015 e foi facilmente comercializado em 30 países.

“Sucesso chama sucesso”, diz a reportagem do Monde. “Os americanos podem se interessar se dissermos que o livro já foi vendido para cinco países”, diz Isabelle Laffont, da JC Lattès. E se um livro já foi comprado pela Alemanha, é sempre uma boa indicação para os escandinavos, revela Nathalie Alliel, da Actes Sud, uma das grandes editoras francesas. Ela cita outras particularidades, como os argentinos, que gostam de obras de psicanálise, ou os asiáticos não se interessam pela Segunda Guerra Mundial.

Já a veterana Anne-Solange Noble, da Gallimard, uma das editoras mais tradicionais da França diz que Frankfurt é um lugar de contatos. Os contratos vão ser assinados antes ou depois da feira, que no caso da Gallimard representam cerca de € 3 milhões por ano.

Le Monde fala também de alguns casos “dominó”, a respeito do interesse que despertam um nome novo já no lançamento local. Heidi Warneke, da editora Grasset, cita “La Tresse”, obra da debutante Laetitia Colombani, lançado em maio e que já foi traduzida para 28 línguas.

Pesos-pesados

A comitiva francesa traz cerca de 180 autores, incluindo nomes novos ou consagrados como o enfant terrible Houllebecq (“Partículas Elementares”, “Plataforma”, “O Mapa e o Território”, “Submissão), a festejada Virginie Despentes (“Teoria King Kong”, lançada no Brasil pela N-1 Edições), Yasmina Reza, Leila Slimani, o jovem Édouard Louis, de apenas 24 anos, e Delphine de Vigan, entre outros.

Brasil aposta na diversidade da produção

A presença brasileira em Frankfurt vai contar com 32 editoras, reunidas através do Brazilian Publishers (BP), projeto de fomento às exportações do conteúdo editorial brasileiro, uma parceria da Câmara Brasileira do Livro (CBL) com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).

Novos modelos de negócios, produtos e serviços serão apresentados na exposição Brazilian Innovation por cinco empresas, com o objetivo de fomentar possíveis parcerias internacionais.

O Brasil fechou a edição de 2016 com US$ 620 mil em vendas de direitos autorais e livros durante o evento. A expectativa é de atingir “US$ 650 mil em 2017, já que a diversidade e beleza da produção editorial brasileira cativam cada vez mais leitores e editoras do exterior”, diz Luiz Antonio Torelli, presidente da CBL, no site da entidade.

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