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"Número de suicídios de adolescentes cresce no Brasil", revela Marlene Iucksch

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Em 2017, a editora Juruá lançou no Brasil o livro “Baleia Azul, o trágico convite aos adolescentes” de Marlene Iucksch e Jean-Marc Bouville. O livro trata do jogo ou desafio da Baleia Azul, uma espécie de manipulação psicológica de adolescentes pela internet que já levou jovens ao suicídio em vários países.

Marlene Iucksch: "No Brasil, infelizmente, as famílias estão muito sozinhas".
Marlene Iucksch: "No Brasil, infelizmente, as famílias estão muito sozinhas". RFI
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A brasileira Marlene Iucksch, coautora do livro, é psicóloga e psicanalista, radicada há quase 30 anos na França. Especialista em psicologia clínica e relações familiares pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pela Universidade Paris 5, Marlene escreveu o livro em parceria com o psicanalista francês Jean-Marc Bouville.

“O desafio da Baleia Azul é um convite feito aos adolescentes, moças e rapazes, para que, em 50 etapas, eles cheguem ao suicídio”, explica Marlene. “O jogo começa com um convite de amizade, que vai, pouco a pouco, afastando o jovem do seu espaço social, familiar, escolar, conduzindo o rapaz ou a moça, de maneiras distintas, ao longo de 50 dias até o suicídio”.

Proteção no Brasil deixa a desejar

Se, na Europa, as polícias especializadas em crimes cibernéticos conseguiram fechar vários websites do desafio da Baleia Azul, além de prender e condenar um homem na Rússia por incitação ao suicídio, o controle exercido pelas autoridades brasileiras tem sido muito menos eficaz.

“No Brasil, eu e Jean-Marc Bouville constatamos que muitos websites continuam abertos. É verdade que há menos vítimas do que no início do jogo. Mas, na semana passada, por exemplo, nós soubemos de mais um adolescente no Rio de Janeiro, de uma família que nós conhecemos, que se suicidou por causa do jogo da Baleia Azul”, alerta Marlene.

Independentemente do jogo ou desafio, o apoio aos jovens em risco de cometer suicídio no Brasil ainda deixa muito a desejar se comparado ao que se faz na Europa.

“Na França houve, nos últimos quinze anos, todo um trabalho de prevenção, iniciado pelos pais e pelas instituições, com uma clara diminuição do número de suicídios e uma melhor abordagem do problema dos adolescentes em risco. Já no Brasil, essa questão se agrava. O número de suicídios de adolescentes vem aumentando. O problema está, realmente, se agravando”, revela Marlene.

A vulnerabilidade da adolescência

O mal-estar social, o isolamento, o desaparecimento da vida escolar são sinais de que algo não vai bem com o jovem. Se, aparentemente, o jogo da Baleia Azul desapareceu dos radares, como explica Marlene Iucksch, outros jogos e desafios poderão surgir atacando o mesmo ponto frágil: a vulnerabilidade psicológica do adolescente.

Normalmente, as vítimas são “adolescentes que vivem dramas familiares intensos desde a infância, até que, na adolescência, esses dramas explodem. Há ainda a questão da sexualidade, da orientação sexual do adolescente. Na infância, isso está mais ou menos adormecido. Na adolescência, a transformação do corpo, a chegada do interesse pela sexualidade, assim como a necessidade do adolescente de se afastar da família, descobrindo-se enquanto jovem a caminho da idade adulta, são questões que vão, seguramente, acarretar problemas. O jogo da Baleia Azul se aproveita desse momento para tentar afastar o adolescente do seu espaço social. Essa é uma questão para a qual os pais devem estar atentos”, avisa Marlene.

No Brasil da crise moral, política e econômica, essa vulnerabilidade do adolescente se torna ainda mais sensível, segundo a psicóloga.

“As famílias brasileiras estão passando por um momento grave. Um momento de transformação muito importante. Aqui na Europa, na França, as famílias têm um acompanhamento social. Há um acompanhamento de proteção à infância, com diferentes formas de abordagem. No Brasil, infelizmente, as famílias estão muito sozinhas. As famílias mais fragilizadas não têm como ajudar os adolescentes a passar dessa fase da infância à idade adulta”, alerta Marlene. “Faltam instituições, no Brasil. Faltam serviços organizados, articulados entre si, escolas, hospitais, serviços médicos, serviços públicos de prevenção que acompanhem o adolescente e a sua família nesses casos”.

 

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