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Rendez-vous cultural

Em Paris, paraense canta em “La Bohème” vestido de astronauta

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Atalla Ayan é irrequieto e cheio de energia. Ele acaba de interpretar Rodolfo, personagem de “La Bohème”, de Giacomo Puccini, num dos templos da ópera mundial, a Bastilha, em Paris. Depois de tirar a roupa de astronauta, o tenor conversou com a RFI Brasil.

Cenário lunar de "La Bohème", na Ópera Bastilha, em Paris.
Cenário lunar de "La Bohème", na Ópera Bastilha, em Paris. @Berndt Uhlig/Opéra Nationale de Paris
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Sim, roupa de astronauta. O responsável pela concepção artística, o alemão Claus Gurth, transpôs a Paris da boemia do final do século 19 para o futuro intergaláctico. Então, Roldolfo e seus amigos estão numa astronave, perdidos no espaço sideral.

A ousadia artística provocou muitas vaias, desde o primeiro dia até o último, mas que logo se aplacam quando começa a música conduzida pelo prestigiado maestro venezuelano Gustavo Dudamel.

“Eu adorei essa nossa produção”, diz Atalla, sem economizar entusiasmo. “Sou a favor de produções modernas, sou um artista, tenho a mente aberta. Mas entendo que um francês mais velho possa não gostar”, avalia, a respeito das vaias de todo começo de espetáculo.

Os Três Tenores e Leandro e Leonardo

A ópera invadiu a sala e a vida de Atalla Ayan, numa tarde em que ele assistia TV. “Era em 1998, ano de Copa na França, e passou um comercial do CD dos Três Tenores [Pavarotti, Domingo e Carreras]. Eu tinha de 12 para 13 anos. Achei lindo, diferente, e comecei a imitar”. Incentivado por um tio já falecido, ele começou a estudar, primeiro no conservatório Carlos Gomes, em Belém, e depois na Universidade Federal do Pará. “Mas daí começaram as viagens, eu tranquei o curso e nunca mais concluí”, conta.

Ele confessa que já foi fã da dupla sertaneja Leandro e Leonardo. “Eu era muito musical, batucava e cantava tudo. Hoje eu respeito o artista, mas não é mais o meu gosto”, conta.

Atalla Ayan, 32 anos, é descendente de sírios que foram para a Amazônia nos anos 1930. Ele está ligado há cinco anos à Ópera de Sttutgart, na Alemanha. “Adorei cantar na França, tenho vontade de vir para cá”, ele deixa escapar.

Rodolfo amazônico

“Rodolfo é um sonho de qualquer tenor”, explica Ayan. “Vocalmente é difícil, é longo, mas é uma grande satisfação poder cantá-lo. ‘La Bohème’ é uma ópera fantástica, Puccini era um profeta, ele inovou”, acrescenta. “Tenho uma ligação pessoal com Rodolfo, pois foi a minha estreia e em casa, no Theatro da Paz, com meu tio, grande incentivador, e minha mãe na plateia”.

‘La Bohème’, encenada pela primeira vez em Turim, em 1896, estreou no Brasil apenas quatro anos depois, em 1900, no Theatro da Paz, construído na fase áurea do ciclo da borracha na Amazônia.

Sobre as influências, ele diz que Luciano Pavarotti é o principal. “Foi o melhor Rodolfo de todos os tempos. Sempre escuto. Tem também Enrico Caruso e Giuseppe di Stéfano. Jussi Björling, sueco, tinha a técnica mais perfeita. E tem também o francês Roberto Alagna, com quem cantei – em francês – ‘Cyrano de Bergerac’ no Met [Metropolitan, em Nova York]. Que voz! Admiro muito Plácido Domingo, que fez o que fez, cantou um repertório difícil e continua se apresentando. Agora mais como barítono, mas também com quase 80 anos”.

 

 

 

 

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