Acessar o conteúdo principal
Quadrinhos/Osamu Tezuka

Festival de HQ na França homenageia Osamu Tezuka, rei do mangá

Safiri é uma jovem princesa transvestida de homem, acompanhada de um anjinho atrapalhado. Ela precisa fingir que é um príncipe para não deixar o poder do Reino da Terra de Prata cair nas mãos do vilão Duque Duralumínio e seu ajudante Náilon. Esses são alguns dos personagens do desenho animado “A Princesa e o Cavaleiro”, que marcou uma geração de crianças no Brasil, nas décadas de 70 e 80.

Astro boy, o personagem mais famoso de Osamu Tezuka.
Astro boy, o personagem mais famoso de Osamu Tezuka. Tezuka Productions / 9eART+
Publicidade

Enviada especial a Angoulême

Mas antes, Safiri foi um mangá de muito sucesso do quadrinhista Osamu Tezuka, chamado de “o Hergé japonês”, em referência ao criador belga do personagem Tintim. Em Angoulême, durante o festival internacional de quadrinhos, ele é tema de uma exposição muito especial, chamada de “Osamu Tezuka, o deus do mangá”.

Através de 200 páginas de quadrinhos originais, todos desenhados à mão, o público acompanha as fases e as experimentações de Tezuka, que transpõe técnicas cinematográficas para o papel e desenvolve linguagens inovadoras para os quadrinhos durante cinco décadas.

Com Tezuka, os quadrinhos saem dos quadrinhos.
Com Tezuka, os quadrinhos saem dos quadrinhos. Foto: Patricia Moribe

Tezuka nasceu em Osaka, em 1928. O pai, fã de cinema, inicia o filho no gosto por filmes. Já a mãe levava Osamu frequentemente ver uma trupe local chamada Takarazuka, composta exclusivamente de mulheres que faziam papeis de homens. Essas influências atravessam as obras de Tezuka, como é o caso da princesa andrógina Safiri, ou uma alusão à sequências cinematográficas famosas, como a cena final de “O Terceiro Homem”, de Carol Reed, uma engenhosa sequência de planos de uma personagem que se aproxima da câmera.

O artista usava a própria vida como fonte de inspiração. Profundamente afetado pela Segunda Guerra Mundial, ele faz incursões pela história, com séries como Adolf, sobre três pessoas com esse prenome e suas vivências em tempos de conflito. Ou o autobiográfico Fortaleza de Papel, onde conta sua experiência como sobrevivente de três bombardeios em Osaka – a “Guernica de Tezuka”, como a obra já foi chamada. E, aproveitando sua formação como médico, ele cria Black Jack, um exímio cirurgião que não tem diploma, mas muita perspicácia.

"Osamu Tezuka, o deus do mangá", em Angoulême.
"Osamu Tezuka, o deus do mangá", em Angoulême. Foto: Patricia Moribe

Com o sucesso de seus mangás, Tezuka criou um estúdio de desenho animado, inspirado pelos trabalhos de Walt Disney. Workaholic, ele também criou técnicas para uma produção em massa, principalmente na série Astroboy, primeiro desenho japonês a fazer sucesso no exterior. Por exemplo, ao invés de uma animação de um segundo, que tradicionalmente precisava de 24 desenhos, ele conseguia produzir cenas de oito desenhos por segundo.

Tezuka morreu em 1989, com apenas 60 anos, de câncer. Consta que suas últimas palavras foram de protesto contra a enfermeira que lhe tirara seus apetrechos de desenho. Cinco anos depois, a Disney lançava “Rei Leão”, com uma história estranhamente parecida com a de Kimba, o leão branco, outro personagem de sucesso do artista japonês, levantando muitas discussões de plágio deslavado.

Tezuka inovou a linguagem do mangá.
Tezuka inovou a linguagem do mangá. Foto: Patricia Moribe

“O mais admirável é que ele continuou a desenvolver técnicas de quadrinhos e de roteiro até o final de sua vida. Ele competia com artistas muito mais jovens. Sua inteligência, perspicácia e interesse no material humano tornou seu mangá algo especial. Para mim, vai ser difícil alguém chegar a tal nível de realizações. Nenhum gênero impôs limites à sua narrativa extraordinária”, disse à RFI Brasil o cineasta japonês Ryoya Terao, professor de tecnologia do entretenimento, da New York City College of Technology.

Não só Tezuka, mas vários outros autores japoneses e o próprio gênero mangá estão por todos os cantos de Angoulême este ano. Stéphane Beaujean, diretor artístico do festival de Angoulême, explicou à RFI Brasil que essa distinção é um aperitivo para as grandes comemorações, a partir de junho, dos 160 anos de relações diplomáticas franco-japonesas. Além disso, o festival quer expandir sua dimensão internacional e aproveitou também os 90 anos de nascimento de Tezuka para trazer as pranchas para a exposição.

Capa de "A Princesa e o Cavaleiro", de Osama Tezuka.
Capa de "A Princesa e o Cavaleiro", de Osama Tezuka. Foto: Patricia Moribe

Beaujean lembra ainda que o Japão é a maior indústria de quadrinhos do mundo, seguida dos Estados Unidos, e depois pelo eixo franco-belga. “Os franceses são os maiores consumidores de mangá do mundo, depois do Japão”, acrescenta o diretor de Angoulême.

Osamu Tezuka certamente gostaria de ver essa homenagem, ele que chegou a vir ao festival de Angoulême, em 1982, sem chamar muita atenção. Dos cerca de 700 títulos que Tezuka publicou, uma pequena parte foi editada no Brasil. O artista japonês era amigo de Maurício de Souza, com quem publicou algumas historias juntos.

Personagens de Osamu Tezuka em cartaz para exposição em Angoulême, França.
Personagens de Osamu Tezuka em cartaz para exposição em Angoulême, França. facebook/Tezuka Osamu Official

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.