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França

França: cuidadores de idosos fazem greve para denunciar maus-tratos

O governo francês enfrenta uma greve nacional nesta terça-feira (30) dos profissionais que trabalham em estabelecimentos para idosos dependentes, conhecidos no país pela sigla Ehpad. Os trabalhadores da área denunciam a falta de meios materiais e de pessoal para garantir um atendimento digno e humano aos idosos. Os relatos de familiares e dos próprios funcionários dão a impressão que a França maltrata seus velhinhos.

Funcionários de casas de repouso para idosos fazem greve nacional inédita na França.
Funcionários de casas de repouso para idosos fazem greve nacional inédita na França. PHILIPPE HUGUEN / AFP
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A situação é considerada inadmissível para o sexto país mais rico do mundo. Cuidadores escreveram cartas abertas às autoridades da Saúde, gravaram vídeos e postaram depoimentos nas redes sociais, contando a engrenagem cotidiana que enfrentam, motivo de esgotamento físico e emocional. Eles relatam que têm o tempo cronometrado para executar os cuidados básicos: "20 minutos por dia por paciente", "3 minutos para administrar um medicamento", "5 minutos para trocar um curativo", "15 para um banho completo".

Os cuidadores pedem aos franceses para imaginar o quanto é duro respeitar esse ritual diante de um paciente na maioria das vezes sofrendo de uma doença neurodegenerativa, que tem dificuldades de deglutição, a mobilidade reduzida, quando já não está ausente com mal de Alzheimer avançado.

Funcionários de casas de repouso para idosos fazem greve inédita na França. Eles cruzam os braços nesta terça-feira reivindicando mais verbas para o setor e principalmente a contratação de mais pessoal.
Funcionários de casas de repouso para idosos fazem greve inédita na França. Eles cruzam os braços nesta terça-feira reivindicando mais verbas para o setor e principalmente a contratação de mais pessoal. DAMIEN MEYER / AFP

Setecentos mil idosos em situação de dependência

No final de 2016, a França contava com 728 mil residentes em casas de repouso. A média de idade era de 85 anos. A média de cuidadores é de seis para cada dez pacientes. Os diretores dos Ephad reivindicam que essa relação aumente de oito para dez, enquanto os sindicatos da categoria reivindicam um cuidador por idoso.

As condições de higiene são o ponto crítico das queixas. Em entrevista à rádio pública France Info, Christiane Croisy, de 67 anos, diz que visita sua mãe de 97 anos e sua sogra de 98 anos quase diariamente. As duas senhoras estão hospedadas em uma clínica do departamento Loir-et-Cher (centro). "É insuportável: vemos as fraldas encharcadas e as toalhas de banho espalhadas no chão." O odor da urina acumulada pelos problemas de incontinência dos doentes dá náuseas em Christiane.      

Em outro departamento, Isère (sudeste), Aline Bernard afirma que se recusa a criticar o pessoal, "insuficiente e esgotado de realizar tarefas tão ingratas". É ela, que está com 76 anos, que vai diariamente ao estabelecimento onde a mãe centenária está internada para dar as refeições. "Sei que os funcionários não terão o tempo necessário para passar com ela", declara Aline, conformada.

Os cuidadores denunciam um serviço calculado de forma muito apertada, com o objetivo de gerar o menor custo possível. Mas isto deixa os velhinhos sem a merecida atenção. Em alguns estabelecimentos, a ducha, teoricamente proposta uma vez por semana, alternada com a higiene diária no leito, passa a só ser administrada a cada 15 dias ou três semanas, por falta de tempo do pessoal.

Mensalidade é cara e o serviço deficiente

A França conta com um sistema de casas de repouso públicas, privadas, outras mantidas por associações ou em um regime chamado privado e lucrativo. Em tese, para escolher um estabelecimento, as famílias consultam um site do governo que propõe uma lista com vários critérios: preço, localização, tipo de atendimento e serviços prestados. Mas, na prática, o familiar aceita a primeira proposta que aparece após a morte de algum idoso. É possível passar vários anos na fila de espera.

Os preços variam conforme a região do país, mas a média nacional é de € 1.950, cerca de R$ 7.650. Em uma clínica privada, a mensalidade pode saltar facilmente para R$ 15.600. Quando a aposentadoria do idoso não é suficiente para cobrir esta despesa, é comum os herdeiros venderem a casa onde a pessoa morava para pagar os custos de internação.

Um grande número de franceses afirma só ter enviado um familiar à casa de repouso quando não conseguiu mais cuidar corretamente da pessoa em casa. Os cuidadores confirmam que a população chega a esses estabelecimentos com a saúde cada vez mais comprometida, o que gera uma situação de dependência que pode perdurar por vários anos.

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