Políticos franceses se mostram divididos sobre decisão de Macron de atacar a Síria
A retaliação dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido ao regime sírio, com bombardeios efetuados contra três locais de desenvolvimento, produção e estocagem de armas químicas, na província de Homs e nos arredores de Damasco, divide a classe política francesa.
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O ex-presidente socialista François Hollande, que defendeu em 2013 uma intervenção contra o ditador sírio, Bashar Al-Assad, mas foi contrariado por uma desistência de última hora de Barack Obama, então na chefia da Casa Branca, considera que a intervenção ocidental deste sábado (14) foi justificada, mas deve ser acompanhada de maior pressão diplomática e política sobre a Rússia e o Irã", aliados de Damasco.
O secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure, também manifestou apoio à decisão do presidente Emmanuel Macron. "O silêncio das nações ante os ataques químicos repetidos do regime sírio abria caminho a uma jurisprudência criminosa quanto à possibilidade de violar as convenções internacionais" e isso foi revertido. O socialista defende negociações para solucionar o conflito sírio no âmbito da ONU.
À direita, as opiniões divergem. O presidente da bancada do partido conservador Os Republicanos no Senado, Bruno Retailleau, teme que a demonstração de força pontual da França alimente o terrorismo. Já o presidente da região Hauts-de-France, Xavier Bertrand, ex-ministro do governo Sarkozy, considerou "justa" a retaliação da França, saudando de passagem "o profissionalismo das Forças Armadas francesas".
O centrista Jean-Christophe Lagarde destacou que "há muito tempo o regime sírio vem ignorando as decisões do Conselho de Segurança da ONU e o direito internacional". "É uma honra a França ter a ocasião de mostrar que está à altura de seu papel histórico e ter tomado essa iniciativa", declarou Lagarde.
Extremos condenam Macron
A condenação à decisão de Macron vem dos extremos do espectro político. O líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, considerou os bombardeios "graves e irresponsáveis". Ele defendeu "um recuo" e o "retorno à calma" na Síria. "É um dia ruim. É hora de voltar à calma e a única coisa que importa é realizar uma conferência internacional na qual todos participem, incluindo os curdos", disse Mélenchon. "Conto com a frieza dos russos para manter as coisas assim", continuou ele, enfatizando "o extremo perigo" de continuar a escalada militar.
Na rede social Twitter, a líder de extrema-direita Marine Le Pen, da Frente Nacional, criticou a intervenção. "Esses ataques à Síria nos levam a um caminho de consequências imprevisíveis e potencialmente dramáticas". "A França perde a ocasião de figurar na cena internacional como uma potência independente e equilibrada no mundo", afirmou Le Pen.
Banalização de armas químicas
Poucas horas depois do ataque coordenado com americanos e britânicos, o presidente francês declarou que Paris e seus aliados não podiam mais "tolerar a banalização do uso de armas químicas". Macron afirmou que "os fatos e a responsabilidade do regime sírio não deixam a menor dúvida sobre a morte de dezenas de homens, mulheres e crianças por armas químicas, no dia 7 de abril, em Duma".
"A linha vermelha fixada pela França em maio de 2017 foi ultrapassada. Assim, eu ordenei às forças francesas para intervir [...] contra o arsenal químico clandestino do regime sírio", ressaltou Macron.
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