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França

Ação policial para tirar ecologistas de área ocupada vira pesadelo para Macron

O governo francês enfrenta há uma semana a resistência de militantes ecologistas e agricultores que centenas de policiais tentam, sem sucesso, expulsar da localidade de Notre Dame des Landes, um município de 2 mil habitantes na região oeste do país. O conflito ameaça se tornar um fiasco para o presidente Emmanuel Macron pelos excessos cometidos pelas forças policiais.

"Zadistas" e policiais se enfrentam em Notre Dame des Landes, nas proximidades de Nantes (oeste), em imagem do dia 10 de abril.
"Zadistas" e policiais se enfrentam em Notre Dame des Landes, nas proximidades de Nantes (oeste), em imagem do dia 10 de abril. REUTERS/Stephane Mahe
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Macron já tem fama de arrogante e autoritário. Agora, ele se vê ameaçado de perder uma batalha que estava praticamente vencida contra ativistas que protagonizam o que alguns definem como "a mais velha luta da França", iniciada há 50 anos.

Por ordem do governo, 2.500 policiais iniciaram na última segunda-feira (9) uma operação para expulsar ativistas que ocupam ilegalmente uma área denominada ZAD – sigla para "zona de desenvolvimento autorizada", rebatizada pelos militantes de "zona a defender", no pequeno município de Notre Dame des Landes. A imensa área, de 1.650 hectares, estava destinada à construção de um segundo aeroporto na região, mas o projeto foi abandonado em janeiro por decisão de Macron. O centrista foi corajoso ao enterrar o projeto, depois de sucessivos governos deixarem esse "abacaxi" sem solução durante décadas.

Nos últimos dez anos, agricultores, ecologistas e militantes anticapitalistas transformaram a área rural ocupada em uma comunidade sustentável. Eles dividiram o terreno em pequenas propriedades, construíram cerca de 90 alojamentos rudimentares, trouxeram tratores, animais e suas famílias. Com o abandono do projeto do aeroporto, os "zadistas" receberam um prazo das autoridades para deixar o local, mas alguns recalcitrantes permaneceram com a intenção de ficar nas terras. Foi aí que a polícia interveio.

O conflito, que estava praticamente resolvido, voltou às manchetes quando os canais de TV começaram a mostrar as imagens da ação policial. Desde o primeiro dia, as forças de segurança agiram com brutalidade para desalojar os "zadistas" da fazenda 100-Noms, demolindo cabanas e o chiqueiro onde estavam cabras e ovelhas. O restante da semana foi marcado por enfrentamentos diários entre ativistas e policiais, com bombas de gás lacrimogênio explodindo em meio a um lamaçal (por causa da chuva), no santuário verde que os militantes lutaram durante anos para preservar. Dezenas de pessoas ficaram feridas. Ao menos 29 cabanas foram destruídas.

Conflito renasce

A imprensa local descreve os ocupantes como "moderados, pessoas que estavam dispostas a cumprir a lei e só precisavam de mais tempo". O governo havia dado um prazo até 23 de abril para que os "zadistas" declarassem seus projetos, mas talvez tenha se precipitado nas expulsões apenas para enviar um sinal de autoridade da parte de Macron.

O resultado é que centenas de ativistas anticapitalistas e ecologistas estão retornando à região, para "reforçar a luta". Um protesto pacífico reuniu neste domingo (15) cerca de 4 mil pessoas na "ZAD", segundo autoridades locais. Os "zadistas" divulgaram um comunicado dizendo que 20 mil pessoas participaram da manifestação. Durante a manhã, aconteceram novos enfrentamentos entre policiais e manifestantes.

No sábado (14), cerca de 7 mil pessoas participaram de uma passeata em Nantes condenando a ação do governo. A manifestação também degenerou, com vitrines quebradas e instalações públicas, como pontos de ônibus, vandalizados.

O governo Macron ainda enfrentou outra manifestação de apoio aos "zadistas" e migrantes no sul do país, em Montpellier. A polícia interveio para dissipar o protesto com bombas de gás lacrimogênio. Ao menos 43 pessoas foram detidas.

Uma nova semana vai começar e ninguém arrisca imaginar o que pode acontecer no pântano que se tornou a "ZAD" de Notre Dames des Landes para Macron.

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