Acessar o conteúdo principal
França

Comitê Nacional de Ética diz que França maltrata seus idosos

A sociedade francesa tem um grave problema com os idosos. Essa constatação, feita pelo do Comitê Nacional de Ética (CCNE), gera polêmica atualmente na França. Na quarta-feira (16), o órgão publicou um relatório que denuncia um cotidiano de exclusão, maus-tratos e preconceito na terceira idade, especialmente nas casas de repouso.

Uma casa de repouso para idosos na França. Foto de arquivo.
Uma casa de repouso para idosos na França. Foto de arquivo. Fred TANNEAU / AFP
Publicidade

No total, a França contabiliza 6,1 milhões de pessoas com idade acima dos 75 anos, o que corresponde a 9% da população. Tradicionalmente, no país, os idosos são enviados pelas famílias a casas de repouso, onde a média de idade é de 85 anos.

Para o CCNE, é justamente nas casas de repouso onde os idosos são vítimas da "guetoização", um termo usado pelo órgão para descrever a segregação na terceira idade. Por isso, em seu relatório, o comitê questiona qual o sentido de concentrar milhares de pessoas em casas de repouso.

Quase 578 mil idosos vivem nesses locais – 3 em cada 4 são mulheres. Em média, eles permanecem nesses estabelecimentos dois anos e meio.

Internações forçadas

O preço desta “hospedagem” nas casas de repouso é literalmente caro: custa, em média, € 1.949 (equivalente a R$ 8.158) por mês. Mais grave ainda são as consequências da experiência nesses estabelecimentos. 

Segundo o relatório, os idosos que vivem nesses locais incorporam uma concepção negativa do envelhecimento. A maioria deles relata se sentir como uma carga extra à sociedade e não existir mais como indivíduo.

Muitas das pessoas que foram obrigadas pelas famílias a viverem nesses estabelecimentos desenvolvem uma depressão e acabam morrendo. Não é à toa que a taxa de suicídio mais alta é entre as pessoas com mais de 75 anos, 30 para 100 mil pessoas; sendo que a média nacional é de 14,9 suicídios para 100 mil pessoas.

“Agismo”, o preconceito contra os idosos

O comitê também denuncia o "agismo" na França, o que classifica como o preconceito contra as pessoas mais velhas. É essa falta de adaptação e compreensão da sociedade em relação aos idosos que faz, por exemplo, que os sêniors sejam examinados vestidos, às pressas, porque os profissionais de saúde não têm paciência para esperá-los se despirem durantes as consultas médicas. "Esse mau hábito pode conduzir ao desconhecimento de sinais clínicos que permitiriam o reconhecimento e o tratamento em tempo de doenças graves", publica o relatório.

Outro exemplo dado pelo CCNE é a falta de prioridade que os idosos têm nos serviços de emergência, devido à dificuldade dos sêniors de expressarem rapidamente seus sintomas. Por isso, para o comitê, "esse agismo é tão perigoso quanto inconsciente".

Diante dessas constatações, o órgão faz um apelo pela adaptação da sociedade aos mais velhos, propondo alternativas concretas para melhorar o cotidiano dos idosos, como, por exemplo, um melhor financiamento dos idosos pelo Estado. O comitê também sugere o desenvolvimento de "casas de repouso fora das casas de repouso", instalando um ou dois andares deste tipo de estabelecimento em novos prédios. Mas, sobretudo, o CCNE recomenda que se reflita na ajuda aos mais vulneráveis, ensinada desde os primeiros anos da escola "como um dever democrático necessário".

Quem são os idosos na França

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee), dos 6,1 milhões de idosos franceses, apenas 25% vivem sós; 85% são dependentes.

Outros dados reunidos pelo CCNE são alarmantes: 50% dos idosos não têm amigos, 79% não têm mais contato com irmãs e irmãos, 41% não conversam com os filhos e 64% não fazem qualquer atividades fora de suas residências ou das casas de repouso.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.