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Vinhos/França

“Apodrecimento generalizado” dos vinhedos na França: prejuízos chegam a € 1 bi

Com uma em cada dez videiras doentes, “a safra francesa de vinhos ameaça murchar violentamente em 2018”, anunciou nesta terça-feira (19) o jornal Le Monde. Em entrevista ao site de France Info, o diretor-adjunto do Instituto Francês do Vinho, Christophe Riou, explicou nesta quarta-feira (20), no entanto, que as variações climáticas causadas pelo aquecimento global não são as únicas causas desse declínio. Segundo ele, as vinhas também foram atingidas na França por doenças causadas por bactérias, fungos e vírus.

O setor vinícola responde por cerca de € 10 bilhões na França.
O setor vinícola responde por cerca de € 10 bilhões na França. REUTERS/Regis Duvignau/File Photo
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Para lutar contra o que chama de “apodrecimento generalizado”, Christophe Riou afirmou que soluções vêm sendo buscadas “através da criação de um plano de luta lançado em 2016”. Segundo o especialista, “em primeiro plano estão as doenças da madeira, mas também há vírus, bactérias, fungos, fatores climáticos e até mesmo secas ou acidentes como o granizo”. Riou também destaca a “mudança climática que está acelerando e agravando a situação, fenômeno observado desde o início dos anos 2000”.

As doenças e as intempéries possuem um impacto não apenas na quantidade, mas especialmente na vitalidade e longevidade das vinhas na França. Estima-se que 10% das vinhas tenham se tornado improdutivas devido a estes fatores. Segundo o jornal Le Monde, isso terá um impacto em importante setor da economia francesa, que gera emprego e rotatividade. O prejuízo está sendo calculado em € 1 bilhão para o setor vitivinícola.

Segundo o Instituto Nacional de Investigação Agrícola da França, a doença mais preocupante nos vinhedos franceses – a “esca” - é atribuída a um complexo de cogumelos, que apareceram há cerca de 20 anos no local e que também são comuns em outras vinhas, como na Austrália, Líbano e África do Sul. São doenças diferentes, algumas das quais foram estudadas durante séculos, que se manifestam por meio de necrose de madeira das vinhas ou a presença nela da chamada "podridão branca". As folhas também apresentam defeitos de coloração, podem secar e apresentar distúrbios vasculares. Quando afetadas, as árvores podem definhar e morrer dentro de apenas alguns dias.

Práticas devem mudar nos vinhedos franceses

Segudo Riou, o enorme problema, que ameaça um verdadeiro patrimônio agrícola da França, é causado por um conjunto de fatores específicos no trabalho com os vinhedos. “Quando falamos de práticas, é que encorajamos os produtores de vinho a serem mais respeitosos com as árvores e menos mutiladores. Sabe-se hoje que os fungos progridem através de feridas e, portanto, quanto menos cortes, melhor”, explica, durante a entrevista a France Info.

O especialista explica que as vinhas têm um circuito de seiva, que precisa ser respeitado. “Técnicas foram implementadas para renovar as vinhas, como o implante, que permite a criação de um broto a partir de um novo enxerto, ou a liberação de fermentos e preserva o antigo sistema radicular e elimina a madeira doente”, conta. “As alterações climáticas obrigam-nos a rever estas práticas, a adaptar o nosso sistema cultural”, revela Riou.

A França investiu recentemente cerca de € 4,5 milhões em pesquisas sobre a recuperação de vinhedos doentes. “Cerca de 14 programas foram desenvolvidos, envolvendo quase cem equipes mobilizadas de outras disciplinas, como a silvicultura ou exames médicos tecnológicos, o que agora nos permite escanear as cepas de vinho”, revela. “Mas esses resultados vão produzir resultados a médio e longo prazo e precisamos de soluções de curto prazo. Existem hoje cerca de 300 produtores de vinho mobilizados nessas redes para desenvolver treinamentos e testar essas novas práticas”, conta Christophe Riou.

O setor na França

No ano passado, a França foi o segundo maior produtor de vinho do mundo, atrás apenas da Itália e à frente da Espanha. No entanto, em 2017 a produção francesa caiu 17% em valor, em um contexto onde episódios de geada destruíram vinhedos nas regiões francesas de Bordelais, Charentes, Jura e Alsácia.

O mercado interno também é potente, a França é hojeo segundo maior consumidor de vinho, depois dos Estados Unidos. O vinho também atrai turistas para a França: 10 milhões de pessoas visitam museus do vinho, fazendas e adegas a cada ano. 10 mil vinícolas na França são anualmente visitadas e 66 estados do país produzem vinho. O setor responde por cerca de € 10 bilhões na economia francesa.

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