Imprensa francesa destaca o caso do arcebispo francês acusado de ter encoberto padre pedófilo
Os principais jornais franceses desta terça-feira (8) destacam o início do julgamento do arcebispo francês Philippe Barbarin e de cinco ex-responsáveis de sua diocese acusados de não terem denunciado à Justiça agressões sexuais contra menores.
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“Não sei do que sou culpado” é a manchete do jornal Aujourd’hui en France, em referência a uma declaração de Barbarin. “Estou aqui por respeito à justiça do meu país e por respeito às vítimas”, disse o arcebispo, citado na reportagem de Libération.
O arcebispo, de 68 anos, “leu uma declaração como se fosse uma missa, com a voz hesitante, faltando improvisação, mas mantendo o tom e o ritmo com o objetivo de capturar a atenção do auditório”, relata o Aujourd’hui en France. “Em sete minutos, ele apresentou sucintamente sua versão dos fatos. A seu favor.”, acrescenta Libération.
Escoteiros abusados
O escândalo estourou em 2015, depois que várias vítimas denunciaram o padre Bernard Preynat por abusos cometidos entre 1986 e 1991. As mesmas vítimas também apresentaram uma denúncia contra Barbarin por não ter recorrido à Justiça, embora estivesse a par dos fatos.
"Queremos saber a verdade sobre o silêncio e sobre a institucionalização do silêncio. Saber como e por que durante 50 anos o padre Preynat pode abusar das crianças", afirmou Alexandre Hezes, o primeiro a prestar queixa sobre o caso.
Depois de seis meses de investigação e de seis horas de interrogatório do cardeal, de 68 anos, a Procuradoria de Lyon arquivou o caso em 2016. Várias vítimas lançaram um procedimento de citação direta. Na França, isso permite à vítima recorrer diretamente a um tribunal penal. A defesa disse esperar que o julgamento "restabeleça a verdade". "Não se repara uma injustiça com outra", declarou um dos advogados de Barbarin, Jean-Félix Luciani.
Pierre Durieux, ex-braço direito de Barbarin, também está em julgamento. Ele também leu um documento, com frases reproduzidas por Aujourd’hui en France: “Entendo o vosso sofrimento, a vossa cólera [...], mas é contra a justiça nos acusar, trinta anos mais tarde, coletivamente”.
Christian Burdet, abusado pelo padre Preynat, declarou, com lágrimas nos olhos: “É difícil agora sermos considerados como os culpados". "Culpados de terem vindo, adultos, pedir satisfação à hierarquia católica”, acrescenta o jornal francês.
Se condenados, os acusados podem pegar até três anos de prisão e pagar multas de até € 45 mil (cerca de R$ 191 mil).
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