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França

Multinacionais francesas pagam menos impostos com centenas de filiais em paraísos fiscais

Em plena crise social dos coletes amarelos, um relatório da ONG Attac revela neste domingo (20) que 40 grandes empresas francesas, cotadas na Bolsa de Valores de Paris, contribuíram para aprofundar as desigualdades no país entre 2010 e 2017.

Coletes amarelos na manifestação de sábado (19) em Paris.
Coletes amarelos na manifestação de sábado (19) em Paris. REUTERS/Charles Platiau
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Nesse período, o lucro dessas companhias – Total, Carrefour, Renault, Danone, entre outras – aumentou 10%. Elas distribuíram 44% a mais em dividendos aos seus acionistas, ao mesmo tempo em que pagaram 6,4% a menos de impostos e reduziram em 20% as contratações na França. O salário dos dirigentes, por outro lado, subiu 30%.

No relatório intitulado "As grandes empresas francesas, um impacto desastroso para a sociedade e o planeta", os economistas da Attac passaram "pente-fino" no balanço das multinacionais francesas, avaliando o desempenho das companhias segundo três critérios: social, climático e fiscal. O objetivo do levantamento é provocar um debate às vésperas da abertura do Fórum Econômico Mundial de Davos, que vai reunir a elite de empresários e dirigentes na Suíça.

Colaboradores excluídos dos ganhos

Os resultados do estudo são edificantes: os assalariados que produzem os lucros dessas companhias não participam de forma justa do benefício financeiro que eles geram. O Estado francês também perde bilhões de euros de arrecadação devido à prática sistemática de otimização e evasão fiscal.

Em 2017, as 40 maiores empresas francesas declararam possuir pouco mais de 16 mil filiais no mundo, sendo que 15% delas se encontram em territórios identificados como "paraísos fiscais e judiciais", ou seja, cerca de 2.500 unidades. O relatório mostra que mesmo possuindo participação acionária em várias empresas, o Estado francês não consegue promover uma mudança de comportamento na distribuição dos dividendos. Um exemplo citado é o da Engie, no setor de energia. O Estado francês detém 24% do capital da empresa, mas das 2.300 filiais da companhia, 327 são baseadas em paraísos fiscais.

A contribuição das multinacionais francesas no combate ao aquecimento global também é questionada pela Attac. Em 2017, 22 companhias declararam ter aumentado em 5% suas emissões de gases do efeito estufa.

Proposta para diminuir diferença de salários

Para reverter essas "injustiças", a Attac apresenta três propostas. Em primeiro lugar, diminuir de 1 a 10 a diferença de remuneração entre o salário mais baixo e o mais alto pago na mesma companhia, incluindo os ganhos do dirigente. Em alguns casos, essa diferença é de 1 para 250. Em segundo lugar, substituir o mercado de carbono europeu por uma política fiscal dissuasiva nas plantas industriais mais poluentes. Por fim, a ONG sugere a realização de um levantamento público, país por país, dos ativos das grandes empresas, principalmente nos paraísos fiscais, para que elas sejam submetidas à legislação tributária francesa.

As desigualdades na distribuição das riquezas e um sentimento profundo de injustiça social têm revoltado trabalhadores em vários países. Na França, os coletes amarelos denunciam as dificuldades de viver com salários baixos e estagnados, um custo de vida cada vez mais alto, enquanto os dirigentes das grandes empresas ganham salários astronômicos e ainda escapam ao pagamento de impostos, criando dificuldades para o sistema de redistribuição.

Mulheres coletes amarelos voltam às ruas

Neste sábado, 84 mil coletes amarelos estiveram nas ruas, 7 mil apenas em Paris. Pela primeira vez, não houve incidentes graves. As mulheres coletes amarelos, que agora fazem protestos separadamente, voltam às ruas neste domingo. Duas ações estão programadas, uma em Paris, nos arredores da Torre Eiffel, e outra em Toulouse, na região sul.

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