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Literatura/Salão do Livro de Paris

Brasil aposta em vitrine do Salão do Livro de Paris para divulgar escritores premiados

O Salão do Livro de Paris, o maior da França, abriu suas portas ao público nesta sexta-feira (15). O Brasil participa do evento pelo 8° ano consecutivo e nesta edição 2019 trouxe uma delegação pequena de apenas três escritores: Ana Paula Maia, Rodrigo Lacerda e João Paulo Cuenca.

O estande do Brasil no Salão do Livro de Paris que foi aberto ao público nesta sexta-feira, 15 de março de 2019.
O estande do Brasil no Salão do Livro de Paris que foi aberto ao público nesta sexta-feira, 15 de março de 2019. A. Brandão RFI
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Neste ano, pela primeira vez na história do Salão do Livro de Paris, fundado há 39 anos, o evento não homenageia apenas um país, mas um continente: a Europa. Um gesto simbólico a menos de dois meses das eleições europeias, em um contexto de avanço do populismo.

Estande da literatura europeia
Estande da literatura europeia A. Brandão RFI

O “Livre Paris” é a maior vitrine do setor editorial francês, quase 4 mil autores e ilustradores participam desta 39ª edição. Mais de 165 mil pessoas devem visitar o Centro de Convenções da Porta de Versalhes até a próxima segunda-feira (18), último dia da feira. A expectativa é que eles ajudem a reaquecer as vendas de livros nos pais, que registram queda pelo segundo ano consecutivo. Paradoxalmente, o estudo “Os franceses e a leitura”, publicado dois dias antes da inauguração do salão, aponta que nunca se leu tanto na França. As editoras querem aproveitar essa tendência para reaquecer o setor.

Participação tradicional do Brasil

A presença brasileira no salão de Paris, que teve seu ponto alto em 2015 quando o país foi pela segunda vez o convidado de honra do evento, é menor do que em anos anteriores. Neste ano, o estande brasileiro, organizado pela Embaixada de Paris, é menor e apenas três escritores, todos premiados, com livros já traduzidos, mas ainda com pouca visibilidade no mercado francês, foram especialmente convidados.

João Paulo Cuenca tem dois romances publicados em francês: “O único final feliz para uma história de amor é um acidente” e “Descobri que estava morto”. O escritor que também é cineasta participa de uma mesa redonda no sábado (17) sobre “Política e literatura no Brasil de hoje”. No mesmo dia, a também carioca Ana Paula Maia fala sobre “ficção e morte”.

Painel com os escritores brasileiros convidados no Salão do Livro em Paris
Painel com os escritores brasileiros convidados no Salão do Livro em Paris A. Brandão RFI

O universo masculino e violento de Ana Paula Maia

Ana Paula Maia tem dois de seus sete livros publicados na França pela editora Anacaona: “De gados e homens” e “Carvão Animal”. Sua obra não aborda a violência urbana muito presente atualmente em autores nacionais. Seu universo ficcional é masculino e violento, mas seu contexto é outro. Em entrevista à RFI, Ana Paula Maia lembra que começou a escrever “muito antes do movimento atual (de empoderamento das mulheres). O universo feminino não me interessa dentro do espaço da ficção. (…) Todas as minhas histórias têm uma relação do homem com o trabalho. Meu espaço é rural, é o interior. (…) É um outro contexto de violência, que está nas margens das cidades, nas relações de homem e animal. Não é uma violência que retrata o país, a favela, a milícia. A minha violência não está na mídia. É você ir para o matadouro e mostrar como funciona”.

Ana Paula Maia já participou do Salão do Livro de Paris em 2015 e de outros eventos literários na França, mas sua obra ainda é desconhecida no país. A escritora, que venceu o importante prêmio São Paulo de Literatura em 2018 com seu romance, “Assim na terra como embaixo da terra”, espera com essa participação no evento, ter mais visibilidade no mercado francês. Ela não entende porquê faz menos sucesso na França do que em outros países: “Até hoje não consegui emplacar. Não sei o porquê! Meus dois livros foram publicados por uma editora muito pequena. Eu nunca tive muita repercussão na mídia. Nunca saiu uma resenha, mas tive uma repercussão interessante no boca a boca”. Ela busca uma nova editora no país.

Literatura e natureza

Rodrigo Lacerda é o único dos três escritores convidados pelo estande do Brasil a participar pela primeira vez do Salão do Livro parisiense. O carioca radicado em São Paulo tem um livro publicado em francês, o premiado “O fazedor de velhos”, pela La Joie de Lire. O livro foi publicado em 2012 e Rodrigo Lacerda também espera que essa vinda a Paris “gere novos contatos e quem sabe a publicação de outros romances”.

O escritor Rodrigo Lacerda
O escritor Rodrigo Lacerda A. Brandão RFI

O escritor participa no domingo de uma mesa redonda no estande do Brasil sobre “Literatura e natureza”, tema de seu último livro “Reserva natural”. A obra reúne dez contos e “tem um conceito subjacente a todas as histórias que é a tentativa de pensar a relação do homem com a natureza. Não só com a natureza externa, mas com a natureza interna e a dificuldade que se tem de lidar com esses dois planos: o da conservação do meio ambiente e o do controle de sua própria natureza que lhe prega peças e lhe faz agir as vezes contra os seus próprios interesses”, explica Rodrigo Lacerda à RFI.

Usando o termo de “emoções paleolíticas”, definidas pelo fundador da sociobiologia Edward Wilson, o escritor diz que são essas emoções que o interessam. São elas “que conectam a gente com os homens de todos os tempos. É isso que explica o fato de a gente estar lendo Homero até hoje, ou Shakespeare. Acho um desafio conectar essas emoções com o mundo contemporâneo”.

Conceição Evaristo

A programação do estande do Brasil também conta com a participação de autores que residem na França, como Marcia Camargos, especialista da obra de Monteiro Lobato, e Luciano Pereira, que lança em Paris o livro em francês “Le rôle du samba dans la constitution de la société brésilienne” (O papel do samba na constituição da sociedade brasileira), pela editora L’Harmattan.

A escritora Conceição Evaristo
A escritora Conceição Evaristo A. Brandão RFI

Outra escritora brasileira de renome que marca presença no evento é Conceição Evaristo. Ela veio participar do lançamento de seu primeiro livro de poesia traduzido para o francês : “Poemas de recordação e outros movimentos”, publicado pela prestigiosa Éditions des Femmes. A escritora mineira, que já tem dois romances publicados na França, é celebrada aqui como “a grande voz da literatura afro-brasileira engajada”.

Andando pelo salão, mais uma descoberta inusitada de uma brasileira no evento. Em um mini estande, ao lado do espaço brasileiro, a editora Sete, de Fortaleza, participa pela primeira vez divulgando um único romance: “O segredo da boneca russa”, de Celma Prata. Diante da nossa surpresa, a escritora afirmou “que era um sonho participar de um salão internacional. Como não teve oportunidade de traduzir seu primeiro romance, achou que estando no espaço poderia fazer contatos para publicá-lo aqui”. Ela acha que a história, que se passa em parte em Paris e conta o exílio de uma mãe durante a ditadura militar, pode interessar. Mas vale a pena pagar tanto dinheiro (cerca de € 700 pelo espaço, fora o custo de passagens e estadia) para tentar vender um livro em português numa feira francesa? pergunto. Celma Prata conta com o interesse da comunidade brasileira de Paris.

Celma Prata no estande para o único livro apresentado: O segredo da Boneca Russa
Celma Prata no estande para o único livro apresentado: O segredo da Boneca Russa A. Brandão RFI

 

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