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França/agressões

Agressões contra médicos sobem na França e uma das causas é o Dr Google

Em 2018, 1.126 médicos foram agredidos durante a consulta na França, de acordo com um relatório publicado nesta quinta-feira (4) pela Ordem de Medicina. Um dos principais motivos é o questionamento em relação ao tratamento proposto, explica o presidente da Federação dos Médicos da França, Jean-Paul Hamon. Um fenômeno, diz, que surgiu com as pesquisas na Internet.

O número de agressões contra médicos na França subiu 10% em relação a 2018
O número de agressões contra médicos na França subiu 10% em relação a 2018 pixabayCCO/DarkoStojanovic
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O número total de agressões notificadas representa um aumento de 10% em relação a 2017. O relatório mostra que cerca de 31% dos incidentes estão relacionados ao atendimento, 16% à recusa do médico em falsificar um documento (como uma licença de trabalho, por exemplo) e 11% ao tempo de espera. Na grande maioria dos casos, os profissionais são vítimas de agressões verbais ou ameaças, mas em 18% deles foram roubados e 7% tiveram o consultório saqueado.

Cerca de 7% foram agredidos fisicamente e, em 3% dos casos, os pacientes utilizaram uma arma para intimidar o profissional. Os clínicos-gerais são as vítimas mais frequentes e correspondem a 70% das queixas. As médicas representam 49% das vítimas.

“Há um aumento da falta de civilidade”, avalia Jean-Paul Hamon, que atende em Clamart, na periferia sudoeste de Paris. “Os médicos que exercem sozinhos em seus consultórios estão menos protegidos”, diz. “Não trabalham dentro de um búnquer”, ironiza o clínico francês. Outra razão desse fenômeno, declara Hamon, é a “degradação da imagem do médico” no país. “Se os médicos não são respeitados pelo Estado, por que os pacientes os respeitariam?”, alfineta.

Dr Google atrapalha vida dos médicos

O clínico-geral chama a atenção para o papel que exerce a Internet na desconfiança em relação aos profissionais. “O mundo mudou. Antes os pacientes tinham menos informações. Agora, as pessoas vêm ao consultório e acham que conhecem bem sua patologia porque foram pesquisar na Internet. Por conta disso, pensam que podem exigir algum tratamento ou medicamento”, exemplifica. “O médico pode ter problemas para explicar isso às que têm certeza absoluta de que sabem do que estão falando”, observa.

A pesquisa na rede facilitou a vida dos pacientes em diversos sentidos, mas a informações que circulam on-line nem sempre são confiáveis ou podem ser interpretadas corretamente por não-especialistas. “Há pacientes sensíveis ao problema, outros são incapazes de entender”, lamenta o médico francês. Outro problema apontado por ele é a impaciência na sala de espera, principalmente nas cidades maiores. Cerca de 54% dos incidentes ocorreram em grandes cidades, 20% no subúrbio e 17% na zona rural.

“Quando eu era substituto em um consultório no interior, às vezes eu saía para fazer um parto e voltava duas horas depois. Ninguém reclamava. A secretária, que também fazia a faxina e a refeição, dizia para eu parar e comer. Eu não queria porque a sala de espera estava cheia, e ela respondia: “vem comer porque você não sabe o que te espera”, conta. “Os moradores sabiam que eu era o único médico disponível e me respeitavam”, afirma.

Paciente demais

Jean Paul Hamon relata um incidente vivido em seu consultório atual. “Eu me lembro de uma pessoa que esperou tranquilamente por sua vez, sentada, e deixou um casal entrar. Eles queriam passar na frente de todos, porque o filho deles estava com 38 de febre”, disse. “Essa mulher, que esperou por uma hora, que não protestou e nem disse nada, estava com uma peritonite (inflamação da cavidade abdominal) generalizada e devia estar sentindo uma dor atroz. Há pessoas razoáveis e outras muito exigentes. Nem sempre é fácil”, declara.

Para ele, a solução é que os médicos possam trabalhar em boas condições, em locais equipados para poder receber os pacientes da maneira mais adequada. “Apesar de tudo, a medicina é uma carreira maravilhosa e felizmente há relativamente poucas agressões, senão seríamos obrigados a transformar o consultório em um búnquer. Isso seria incompatível com o exercício da Medicina que necessita de empatia e de um mínimo de tempo para examinar os pacientes”, declara.

 

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