França registra criação de empregos, mas "coletes amarelos" mantêm protestos
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O presidente francês, Emmanuel Macron, deve anunciar no início da semana que vem medidas concretas para superar a crise dos "coletes amarelos". O teor das decisões é guardado a sete chaves, mas o primeiro-ministro Edouard Philippe passou a semana garantindo que o chefe de Estado compreendeu o recado das ruas e irá anunciar reformas de impacto.
O movimento dos "coletes amarelos" começou no dia 17 de novembro e é dominado por uma queixa de perda de poder aquisitivo, atribuída à alta carga fiscal (45,3% do PIB em 2016) e ao elevado custo de vida no país. Um estudo recente de economistas alemães mostrou que o euro ajudou a corroer o poder de compra dos franceses.
Mais de 1,5 milhão de cidadãos participaram, desde janeiro, de consultas públicas para apontar sugestões de reformas ao governo. Eles manifestaram quatro exigências: uma forte redução dos impostos, acesso a serviços públicos em áreas isoladas, como nas zonas rurais, participação direta nas decisões políticas e uma política climática que não seja baseada na cobrança de taxas e novos tributos. Cerca de 35% dos participantes pediram que o Imposto de Renda (IR) seja mais equilibrado e justo.
Imposto escalonado
Uma das alternativas em estudo seria aumentar de cinco para sete o número de alíquotas do IR, para torná-lo mais progressivo. Atualmente, o sistema conta com cinco alíquotas: 0% (isentos), 14%, 30%, 41% e 45%. Duas frações adicionais de 10% e 20% poderiam ser criadas.
Os participantes também defenderam outras soluções para diminuir a pressão tributária, como dividir à metade o imposto cobrado nos bens de primeira necessidade, acabar com incentivos fiscais que foram pensados sob medida para setores que geram emprego, como a construção civil, mas acabaram favorecendo a especulação imobiliária e a camada mais rica da população.
Outra pista evocada foi simplificar o acesso aos benefícios sociais. O sistema é tão diversificado e burocratizado que as pessoas de baixa renda sequer conseguem preencher a papelada e ter acesso a um complemento de renda que é de direito. Quanto ao restabelecimento do Imposto de Solidariedade Sobre a Fortuna, uma reivindicação insistente dos "coletes amarelos", não há sinais de que o governo pretenda ceder.
Desgaste político
O presidente centrista, chamado nas ruas de "monarca arrogante", suou a camisa nas consultas públicas. Em algumas cidades, passou mais de 8 horas discutindo com os franceses que se reuniram em ginásios e prefeituras. Para o governo, foi um exercício de democracia participativa direta. Mas, nos bastidores, a imagem é de um presidente isolado.
O jornal Le Parisien publicou uma matéria, no dia 30 de março, dizendo que Macron estava à beira de um "burn out", uma crise de exaustão extrema.
Menor desemprego em dez anos
Ao mesmo tempo em que ele enfrenta protestos de uma parcela da população, a economia francesa deu sinais positivos nesta semana. Uma pesquisa da Agência Nacional de Empregos (Pôle Emploi/Credoc) revelou que as empresas francesas projetam criar 2,7 milhões de empregos em 2019, o que vai produzir o índice de desemprego mais baixo dos últimos dez anos. Se a estimativa for confirmada, serão 350.000 vagas a mais do que em 2018. A conjuntura parece favorável para quem trabalha, mas ela não resolve o problema da perda do poder de compra gerada por baixos salários e pensões de aposentadoria modestas.
Fatores externos ainda podem gerar impacto negativo nesse cenário: o Brexit tende a prejudicar alguns setores da economia francesa e a União Europeia elege um novo Parlamento no fim de maio. Caso os partidos populistas tenham votação expressiva, é o clima global de confiança no bloco que será prejudicado, e a França por tabela. Macron foi eleito com um programa pró-europeu; se perder essa eleição para a extrema direita, ele sai desmoralizado.
Enquanto o presidente francês dá os últimos retoques a seu plano, os "coletes amarelos" voltam às ruas neste sábado (13) para o 22° ato do movimento.
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