Notre-Dame: as fake news que tentaram instrumentalizar a tragédia
O terrível incêndio na Catedral Notre-Dame de Paris, ocorrido na segunda-feira (16), foi seguido de uma enxurrada de rumores na internet. A principal notícia falsa compartilhada foi a tese de atentado, mas a pista de uma ação criminosa já foi descartada pela polícia.
Publicado em:
O contexto atual que fez da França um palco de diversos atentados nos últimos anos contribuiu para o rápido compartilhamento de fake news em torno da tragédia de Notre-Dame. Várias notícias na internet recusam a pista de um simples acidente e supõem um atentado terrorista.
O influente site francês de extrema direita, Fdesouche, divulgou a especulação de que o incêndio teria tido dois focos, o que “provava” a hipótese de um ato intencional. A publicação foi rapidamente reproduzida no Twitter por Jean Messiha, do partido Reunião Nacional (ex-Frente Nacional), afirmando que a confirmação desse dado acabaria com a hipótese de um acidente.
Des sources parlent de 2 départs de feu à #NotreDame : au niveau de la flèche et à l’opposé.
Jean MESSIHA (@JeanMessiha) 15 avril 2019
Si cette information était confirmée, la thèse de l’accident, avancée comme une quasi certitude par nombre de médias dès le début alors que personne n’en sait rien, deviendrait bancale...
Outro elemento utilizado para “comprovar” a tese de um atentado é uma imagem onde, segundo os internautas, é possível ver a silhueta de um homem caminhando entre as chamas. A agência de notícias AFP já desmentiu a suposição, afirmando que se tratava, em realidade, da estátua de uma virgem.
La photo de gauche circule depuis hier soir, certains laissant entendre que cette personne est à l'origine de l'incendie de Notre-Dame.
AFP Factuel 🔎 (@AfpFactuel) 16 avril 2019
Il s'agit en réalité de la Vierge du trumeau du portail du Cloître, la seule grande statue de portail non détruite pendant la Révolution
1/ pic.twitter.com/Le4IXlipNb
Diversas contas falsas de mídias conhecidas, como CNN ou BuzzFeed, compartilharam desde o início do incêndio artigos confirmando um atentado. Um deles mostrava imagens de um carro-bomba com inscrições árabes perto da catedral – fotos que datam de 2016, quando quatro mulheres foram presas por terem abandonado o veículo no local. Enquanto isso, no verdadeiro canal de televisão FoxNews, Philippe Karsenty, vereador da cidade de Neuilly, disse que “o politicamente correto decidiu que foi um acidente”, para a surpresa do repórter.
A surreal moment on Fox, Shepard Smith has to abruptly end an interview with a French elected official who says about the Notre Dame fire that the "politically correct will try to tell you this is an accident" pic.twitter.com/aUwoH7YVpl
Tyler Monroe (@tylermonroe7) 15 avril 2019
YouTube: como piorar a situação tentando ajudar
Já uma montagem, publicada no canal “Johnny Rockslide” no YouTube, acrescentou gritos de “Alá é grande” às imagens do incêndio – algo que não ocorreu. “Estou contente de ter partido desta seita. Feliz e orgulhosa de ser ex-muçulmana”, diz um dos comentários na página. “Como os franceses podem abraçar pessoas que claramente os desprezam [?]”, interroga um outro. “Deixem de ser burros, isto é fake”, aponta, por sua vez, o usuário “bae Nation”.
Para piorar a confusão, o algoritmo do YouTube fez uma ligação com o atentado do 11 de Setembro em Nova York na parte “vídeos relacionados” das imagens ao vivo da Notre-Dame em chamas.
I'm so glad we let tech platforms eat the journalism industry.
Ryan Broderick (@broderick) 15 avril 2019
Now, I can sit and watch a live stream of Notre Dame burning while YouTube's fake news widget tells me about 9/11 for some reason. pic.twitter.com/FhAtE4DqtB
A plataforma assumiu o erro, afirmando paradoxalmente que queria, na verdade, “contextualizar” a informação e lutar contra as fake news. “Estes painéis são decididos por algoritmos e nossos sistemas às vezes podem tomar uma decisão errada”, afirmou o YouTube em um comunicado, antes de desativar a função.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro