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França/Protesto

Protesto em Paris diz “não ao tapete vermelho de Macron à extrema direita do Brasil”

Com o nome “Não ao tapete vermelho em Bercy para a extrema direita brasileira”, um coletivo de 20 associações promoveu em Paris uma marcha contra o encontro promovido pelo patronato francês entre empresários do país e representantes do governo de Jair Bolsonaro. Segundo os organizadores, cerca de 50 pessoas entre franceses e brasileiros protestaram contra a delegação que esteve na capital francesa para participar do 6° Fórum Econômico Brasil-França, evento promovido pelo Medef, a maior organização patronal francesa, que aconteceu nesta quarta-feira (5) na sede do Ministério da Economia da França.

Cerca de 50 pessoas protestaram contra a delegação que esteve a Paris participar do Fórum Econômico Brasil-França, evento promovido pelo Medef, a maior organização patronal francesa.
Cerca de 50 pessoas protestaram contra a delegação que esteve a Paris participar do Fórum Econômico Brasil-França, evento promovido pelo Medef, a maior organização patronal francesa. RFI/Márcia Bechara
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Para Rebeca Lang da Alerte France-Brésil, uma das organizadoras do protesto, a importância do evento foi mandar uma mensagem clara, “tanto para o governo brasileiro, quanto para o francês”: “Não vamos sair das ruas”, afirmou. “Uso muito a hashtag #dasruasdomundonãosairemos, desde a queda da [ex-presidente] Dilma Rousseff. A gente não desassocia o que acontece hoje com sua destituição ilegal. A importância desse movimento é saber também que várias associações francesas, Ongs e partidos políticos nos apoiam desde quando começamos a denunciar o golpe em 2016 e continuam conosco”, disse Lang.

Lang contou à reportagem da RFI que o governo Macron teria retirado sua participação do 6° Fórum Econômico França-Brasil, entre o governo Bolsonaro, representado pelo seu ministro General Santos Cruz, a CNI (Confederação Nacional das Indústrias) e o MEDEF International. "Ontem foi confirmado que a representante do Macron que deveria estar presente no Fórum se retirou. O nome dela não aparece mais no programa do encontro, mas ela estava inscrita", disse.

A imprensa francesa menciona de maneira mais tímida a ausência de Agnès Pannier-Runacher, a Secretária de Estado do Ministro da Economia e Finanças da França, inicialmente anunciado no programa, mas lembra que, segundo sua equipe, sua presença não havia sido oficialmente confirmada e sua agenda "não permitiu que ele participasse do evento".

Fabien Cohen, secretário-geral da Ong France-Amérique Latine (FAL), afirmou que o encontro desta quarta-feira promovido pelo Medef francês, com representantes do governo Bolsonaro, representa um perigo não apenas para o povo brasileiro e a Amazônia, mas também para o resto do planeta. “Elas agravam a conivência com o campo da extrema direita que hoje se desenvolve através do mundo”, afirma. Cohen esteve à frente de diversos debates e conferências organizadas pela FAL sobre as ameaças da chegada dos ultraconservadores de Bolsonaro ao poder, antes mesmo da eleição presidencial de 2018.

900 empresas francesas estão hoje presentes no Brasil, onde empregam 500 mil pessoas, contabilizando um total de investimentos que supera os € 23,6 bilhões, mais de R$ 100 bilhões.

Perigo para a Amazônia

“Infelizmente vemos hoje, com esse convite de Bercy [Ministério da Economia da França], neste Fórum organizado pelo patronato francês com o brasileiro, um encontro que visa colocar os interesses de nossos povos sob o jugo econômico das indústrias e das multinacionais. É um perigo para o planeta, querem desmatar esse grande pulmão verde a golpes de projetos internacionais. A multiplicação de ofertas feitas por Bolsonaro do patrimônio público que resta no Brasil nos parece terrível”, disse.

Cohen repercute informações que foram publicadas no Courrier International da semana passada, que revelou em manchete que “o desmatamento explode no Brasil”. Segundo o site, a destruição da floresta amazônica observada durante a primeira quinzena de maio dobrou em comparação com o mesmo período de 2018, quando a derrubada ilegal de árvores já havia atingido um nível recorde, um equivalente a 7.000 campos de futebol. A imprensa brasileira afirmou na ocasião que, apenas durante esse período, a região perdeu 19 hectares por hora de floresta protegida, totalizando cerca de 6.800 hectares.

Fabien Cohen critica também a responsabilidade do governo francês. “Espero que Macron seja sensível a essa escalada do fascismo na Europa. Ele estabeleceu esta ligação entre a França e o Brasil de Bolsonaro, e isso é muito preocupante. Se ele continuar nesse ritmo, em pouco tempo ele se conectará com a Itália de Salvini, com Orbán [na Hungria]. Hoje temos uma escalada do fascismo da extrema direita a serviço do ultraliberalismo seja no Brasil, ou na Argentina de Macri, na Colômbia”, avalia. “O que se passa na América Latina é algo que não vai ao encontro do interesse popular”, resume.

Plano Condor

Cohen lembra também dos refugiados políticos das ditaduras do Brasil, Chile e Argentina, “esses que viveram o Plano Condor”. “Vamos organizar um colóquio sobre isso. Existe não apenas a instauração de uma coalizão da extrema direita no mundo, não somente na Europa e na América Latina, não podemos deixar de pensar no que se passa na Asia e no extremo Oriente, mas existe hoje essa tentativa de instaurar um regime como o Condor, dirigido por pessoas de extrema direita”, afirma.

“Operação Condor” foi o nome dado a uma campanha de assassinatos e ao movimento militarista antiguerrilhas conduzida conjuntamente pelos serviços secretos das ditaduras do Chile, Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o apoio tácito dos Estados Unidos, em meados da década de 1970.

"Bolsonaro, um fiel seguidor de Trump, tenta instaurar esse regime que nos preocupa ainda mais do que a atual criminalização de movimentos sociais que aumenta, inclusive na França, com a presença massiva da polícia nas manifestações dos coletes amarelos e todas as violências policiais que assistimos contra os sindicalistas", afirma o secretário-geral da FAL.

Cohen acredita que "existe alguma coisa entre o que questiona a liberdade e a ultraliberalização econômica". "O nível a que isso chegou no plano geopolítico no Brasil mostra que, se a França permitir esse tipo de coisa, será terrível. Temos não só o direito de nos preocuparmos como o direito de nos tornarmos resistência a isso", concluiu.

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