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Um pulo em Paris

Secador de cabelo de ouro e jantares de rei: ministro francês nega abusos e permanece no cargo

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O ministro francês da Transição Ecológica, François de Rugy, respondeu na manhã dessa sexta-feira (12) às denúncias de gastos indevidos de dinheiro público, reveladas pela imprensa. O representante do governo negou todas as acusações e disse que não pretende deixar o cargo. O episódio traz novamente à tona a questão do desvio de verba no país, tema que já provocou a queda de vários políticos.

O Ministro François de Rugy se emociona durante entrevista ao canal BFMTV ao comentar as acusações de Mediapart
O Ministro François de Rugy se emociona durante entrevista ao canal BFMTV ao comentar as acusações de Mediapart Captura de vídeo BFMTV
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De dezenas de jantares suntuosos, regados a vinhos que custam mais de € 500 a garrafa, até a compra de objetos inusitados, como um secador de cabelo folheado a ouro, a lista de luxos e caprichos de François de Rugy e sua mulher Séverine Servat é longa. A situação só piorou com a revelação de que o ministro teria beneficiado de uma moradia social que geralmente é destinada a pessoas de baixa renda.

Desde então, os pedidos de demissão de De Rugy surgem de todos os lados. Principalmente porque o ministro sempre disse, desde que foi nomeado presidente da Assembleia Nacional em 2017, que uma de suas prioridades era evitar qualquer tipo de abuso de bens públicos pelos políticos.

Emocionado, De Rugy se explicou nessa sexta-feira em um programa de rádio e televisão. Diante de Jean-Jacques Bourdin, um dos jornalistas mais virulentos da mídia francesa, o ministro disse, quase aos prantos, que estava sendo vítima de uma campanha de difamação e que pretendia processar os responsáveis.

“Nunca, em toda minha vida, eu solicitei uma moradia social”, declarou De Rugy. “Eu darei todas as provas”, insistiu o ministro, dizendo que alugou um apartamento após seu divórcio, mas que não se tratava de uma moradia beneficiando de um sistema privilegiado. “Quando todos os dias divulgam novas informações falsas, a gente pode até ter vontade de abandonar tudo. Mas eu não farei isso. Eu não tenho nenhuma razão para pedir demissão”, respondeu aos que pedem sua saída do cargo.

De Rugy também respondeu às críticas sobre o custo dos jantares servidos para grupos de amigos na Assembleia Nacional. “Eu nem gosto de lagosta. Sofro de intolerância. Não bebo champanhe e detesto caviar. E agora estão dizendo que eu pedi para servir lagosta!”, se irritou, em referência às imagens de mesas fartas de frutos do mar, divulgadas pela imprensa e nas redes sociais. O ministro diz ser alvo de um complô contra “os que governam”. “É uma obsessão de decapitação”, martelou, em alusão à Revolução francesa, quando os líderes do país, acusados de abuso de poder e de levarem uma vida luxuosa, foram decapitados.

Fraude fiscal derrubou alguns ministros

Essa não é a primeira vez que os políticos franceses são sancionados por sua conduta, inclusive na história recente do país. No próprio governo Macron, a ministra do Esporte, Laura Flessel, deixou o cargo em setembro de 2018, menos de uma semana após ter sido nomeada. Acusada de irregularidade fiscal ligada a uma empresa gerida por seu marido, ela preferiu renunciar.

Casos similares também foram registrados nos diferentes partidos tradicionais franceses, seja na direita ou na esquerda. O ex-primeiro-ministro e pré-candidato à presidência François Fillon, de direita, teve que abandonar a campanha após a revelação de que sua mulher beneficiaria de um emprego-fantasma.

Quando o socialista François Hollande presidia a França, seu ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, foi indiciado por lavagem de dinheiro após ter confessado que escondia uma conta bancária no exterior há quase 20 anos. Durante o mesmo mandato, a ministra da Francofonia, Yamina Benguigui, foi afastada do governo, acusada de ter mentido sobre sua declaração de patrimônio, enquanto o secretário de Estado para o Comércio Exterior, Thomas Thénenoud, renunciou após a revelação de que devia para o Fisco.

Charles de Gaulle reembolsava até o lanche dos netos

A maior parte desses escândalos são revelados pela imprensa e, em alguns casos, os envolvidos deixaram seus cargos antes mesmo da justiça agir. E mesmo nos episódios em que não houve renúncias, os políticos tiveram que se explicar.

Cada vez que um escândalo do gênero é divulgado, a mídia local faz alusão à Revolução Francesa e relembra a postura do general Charles de Gaulle, que dirigiu o país entre 1959 e 1969. Defensor da separação entre a vida pública e a vida privada, ele se orgulhava pagar suas contas telefônicas pessoais e reembolsava até mesmo o lanche que comiam seus netos quando passavam pelo Palácio do Eliseu.

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