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Anticúpula G7

“G7 exibe vitrine de políticas catastróficas e agrava desigualdades”, dizem militantes antiglobalização

Uma centena de ONGs francesas e bascas inauguraram nesta quarta-feira (21) a "anticúpula do G7", encontro que reúne milhares de militantes antiglobalização. Os participantes estão determinados a mostrar que o grupo dos sete países mais ricos do mundo, formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, mais a União Europeia, não só tem falhado em cumprir suas promessas, como tem agravado a pobreza, as desigualdades, a crise climática e desestabilizado a geopolítica mundial.

A economista Aurélie Trouvé, da ONG Attac e da plataforma Alternativas G7.
A economista Aurélie Trouvé, da ONG Attac e da plataforma Alternativas G7. CAMILLE CASSOU / AFP
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A anticúpula acontece em três cidades do país basco, na fronteira entre a França e a Espanha: Urrugne, Hendaye e Irun. Este triângulo fica a poucos quilômetros de Biarritz (sudoeste), onde os sete chefes de Estado do G7 vão se reunir de 24 a 26 de agosto.Até sexta-feira (23), o evento da sociedade civil oferece uma centena de conferências, animadas por 200 palestrantes. Os participantes vão discutir alternativas às políticas neoliberais e a questão da emergência climática, entre outros assuntos na agenda.

O tema escolhido pelo presidente Emmanuel Macron para o encontro do G7 – a luta contra as desigualdades – deixa as lideranças dos movimentos sociais e antiglobalização mais reivindicativos. “Não dá para definir as regras do mundo entre sete chefes de Estado dos países mais ricos; a regulação deve ser multilateral, respeitando a diversidade dos povos, das nações e um conjunto de valores, como o respeito aos direitos humanos fundamentais”, defendeu a economista Aurélie Trouvé, porta-voz da ONG Attac France e membro da plataforma Alternativas G7.

Em entrevista à RFI, Trouvé afirmou que o objetivo da anticúpula é mostrar a oposição entre dois mundos. “De um lado, estarão os sete chefes dos países mais ricos, fechados num palácio em Biarritz, cercados por um esquema de segurança policial e militar inacreditável, para discutir políticas a serviço dos mais ricos e das multinacionais”. Do outro lado, segundo ela, a anticúpula vai reunir os movimentos sociais que desejam um mundo mais aberto, plural e reivindicativo, amparado em iniciativas locais. “Nós vamos defender políticas baseadas no respeito aos direitos humanos, à solidariedade e adequadas à emergência ecológica”, explicou a militante. A programação conta com painéis variados, como "Agroecofeminismo: uma proposta em construção" ou "Alternativas aos acordos de livre comércio diante da impunidade das multinacionais", e oficinas curiosas, como a intitulada "Contrato social ou contrato sexual".

Na opinião de Trouvé, o tema escolhido por Macron para o G7 de Biarritz mostra que o presidente francês continua desconectado da realidade, após sete meses de intensa mobilização dos coletes amarelos no país.

“Vitrine de políticas catastróficas”

Maxime Combes, membro do Conselho Científico da Attac, vê o G7 completamente desarmado e incapaz de resolver as crises que ele mesmo contribui para criar e continua a gerar. “Os países do G7 são os que fomentam a financeirização da economia e da natureza, os que agravam a pobreza e as desigualdades em escala global e os que promovem a globalização econômica por meio da assinatura de acordos comerciais, como os que a União Europeia acaba de fazer com a Canadá, e quer reproduzir com o Mercosul, agravando o desmatamento e a pobreza”, enfatiza o economista. Ele compartilha a visão da colega Trouvé de que o G7 tornou-se, hoje, um fórum “ilegítimo” para lidar com as ameaças do mundo, num momento em que a globalização se fissura e a geopolítica internacional enfrenta crises sucessivas. “Temos um G7 incapaz de responder aos desafios do século 21, que são a proteção da biodiversidade, a luta contra o aquecimento global, contra a pobreza e as desigualdades, e também à grave crise geopolítica que enfrentamos.”

O seleto clube dos sete líderes mais ricos do mundo exibe uma vitrine de políticas catastróficas, segundo Trouvé. “Macron apresenta a luta contra as desigualdades como principal objetivo do encontro. Mas ele aplica uma política de redistribuição fiscal a serviço dos ultrarricos e está acabando com os mecanismos de solidariedade na França, com suas reformas ultraliberais”, observa. “Felizmente, estamos aqui para mostrar que existem políticas alternativas de distribuição das riquezas e meios de lutar contra a crise ecológica”, acrescenta.

Desde 2005, o G7 estabeleceu como objetivo erradicar a pobreza. Mas ao contrário da proposta encabeçada pelos mais ricos, o aprofundamento das desigualdades também se acentua nas democracias do Norte. “Desde que o grupo existe, os governos do G7 não cessaram de agravar as desigualdades com as suas políticas. Nos anos 1970 e 1980, a situação era melhor. Hoje, as desigualdades não param de crescer”, critica Combes.

Para combater esse quadro, as ONGs defendem a criação de tributos internacionais, como a taxa sobre operações financeiras, aumentar o imposto pago pelos mais ricos, reintroduzir a taxação do capital de maneira mais rigorosa e diminuir a remuneração dos que detêm o capital. Reduzir as desigualdades pelo topo criaria as condições para uma redistribuição social mais justa, justifica o representante da Attac.

Com a eleição do presidente americano, Donald Trump, as negociações no G7 ficaram mais difíceis. Os Estados Unidos passaram a discordar da linguagem climática adotada nos comunicados finais. As divergências em relação ao programa nuclear iraniano e a guerra comercial com a China só aumentaram as divisões. No término do encontro em Biarritz, pela primeira vez na história não deve ser publicado um comunicado final da cúpula. Se esta previsão se confirmar, será mais um sinal do estado de inoperância do grupo.

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