Francesas saem às ruas para defender melhores condições para prática do aborto
Milhares de francesas se juntaram neste sábado (28) à mobilização internacional no Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto. Apesar de o país ter legalizado o aborto há 44 anos, feministas do movimento "Planning Familial" (Planejamento Familiar) organizaram ações em Paris, Bordeaux, Lille, Marselha e outras cidades francesas. Elas recordaram que 47.000 mulheres morreram em decorrência de abortos clandestinos em todo o mundo, em 2018. Na França, mesmo sendo legal, o procedimento é frequentemente alvo de ataques.
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Em Bordeaux (sudoeste), a manifestação pró-aborto teve "batucada feminista". O cortejo pela descriminalização do aborto em escala mundial contou com 300 manifestantes, muitas delas vestidas com coletes amarelos – que também voltaram a se mobilizar aos sábados. Nos cartazes, liam-se slogans como "O aborto é sagrado" e "Aborto é um direito, os integristas é que estão fora da lei".
A música também marcou o protesto em Paris. Um coletivo de mulheres que atua no Hospital Tenon, o único estabelecimento público a praticar o aborto no 20° distrito da capital, reivindicou a contratação de um profissional de referência em caráter permanente, alegando que a frequente troca de plantonistas interfere no direito das mulheres de praticarem o aborto no local.
Centros sobrecarregados
A ginecologista Danièle Gaudry, uma das organizadoras da manifestação parisiense, criticou o fechamento, em sete anos, de 60 centros credenciados que realizavam o procedimento em todo o país. As militantes francesas querem que o aborto seja considerado como um ato cirúrgico oferecido de maneira obrigatória pelos hospitais da rede pública, e não figure como uma escolha de cada unidade.
"Todos os hospitais públicos deveriam realizar abortos de acordo com a lei, mas alguns preferem praticar uma 'ciência' mais nobre ou que remunere mais; outros acreditam que um estabelecimento que pratica o aborto em uma determinada região é suficiente, tudo isso em detrimento das mulheres", diz a ginecologista. "Existem disparidades territoriais flagrantes e, em Paris, que realiza um quarto dos abortos na França, os centros estão sobrecarregados", afirma a médica.
Segundo uma pesquisa das agências regionais de saúde (ARS), o tempo médio na França entre a solicitação da mulher e o aborto é de 7,4 dias no nível nacional, mas varia de 3 a 11 dias, em média, de acordo com a região. O estudo aponta "áreas tensas" na maioria das regiões do país.
Nesta semana, a ministra da Saúde, Agnès Buzyn, reforçou o "direito fundamental" ao aborto na França. Mas as feministas lembram que o acesso à interrupção voluntária da gravidez permanece um direito frágil, que sofreu pequenos retrocessos ao longo dos últimos 40 anos, tanto pela pressão política ou religiosa quanto pela falta de recursos.
A Liga dos Direitos Humanos reivindica a remoção do artigo que faculta ao médico o direito de recusar um aborto por "questão de consciência".
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