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Franceses marcham contra a islamofobia

"Viver juntos é urgente", diziam cartazes levados por milhares de pessoas que participaram neste domingo (10) de uma manifestação contra a islamofobia em Paris. O protesto chama a atenção da população para o preconceito visando os muçulmanos e foi convocado após uma série de episódios recentes de discriminação no país.

Manifestação contra a islamofobia reuniu mais de 13 mil pessoas em Paris. Em 10 de novembro de 2019.
Manifestação contra a islamofobia reuniu mais de 13 mil pessoas em Paris. Em 10 de novembro de 2019. GEOFFROY VAN DER HASSELT / AFP
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“Por que criar polêmica por um pedaço de tecido, por algo que não ameaça ninguém”, perguntou à reportagem da RFI uma jovem que portava o véu islâmico. “Existe sobre nós um olhar pesado, eu já fui vítima de agressões, passei por vários choques emocionais e me reergui. Hoje não devo nada a ninguém”, acrescentou.

A marcha saiu no início da tarde da Gare du Nord, estação de trem no norte da capital, e seguiu em direção à Praça da Nação, na região leste. "Solidariedade com as mulheres de véu", cantavam os participantes que também empunhavam bandeiras da França, país da Europa Ocidental com a maior comunidade muçulmana (7,5% da população).

Porém, a França oscila entre as denúncias de "estigmatização" de que os muçulmanos seriam vítimas e o desafio da "radicalização". Por essa razão, a classe política estava dividida sobre o comício convocado por várias personalidades e organizações como o Coletivo contra a Islamofobia na França. O grupo é acusado de estar ligado a uma corrente ideológica radical, a Irmandade Muçulmana, que promove o chamado Islã Político e defende o estabelecimento de um Estado baseado em princípios religiosos.

Debate sobre o véu e o secularismo

A convocação para a marcha foi feita em 1° de novembro, quatro dias após o ataque a uma mesquita em Bayonne, no sudoeste da França, e ganhou espaço num contexto de debates sobre o uso do véu islâmico e o secularismo na sociedade francesa.

"Eu conheço a definição da laicidade desde os 13 anos, desde que eu porto o véu islâmico e tem gente de 50 anos que não entende isso", disse à RFI uma manifestante.

O clima também foi afetado por uma série de ataques jihadistas nos últimos anos, particularmente os de 13 de novembro de 2015, em Paris. 

"Há um nível de ódio que não deve ser excedido. Estamos abertos a críticas, mas não devemos ultrapassar certos limites de agressão", disse Larbi, um empresário de 35 anos que participava do protesto.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Francês de Opinião Pública, “42% dos muçulmanos que vivem no país afirmam terem sido vítimas de alguma forma de discriminação ligada à religião”.

"Queremos ser ouvidos, defender uma sociedade mista e viver juntos, para não sermos segregados", disse Asmae Eumosid, uma mulher de 29 anos, que usava um véu e que veio do subúrbio de Paris para protestar.

Cerca de 13 mil pessoas marcharam na capital, segundo uma contagem realizada pela empresa Occurence feita para veículos da imprensa. 

Críticas do governo e da extrema direita

Um manifesto reuniu assinaturas de apoio de vários líderes políticos, principalmente dos partidos de esquerda (socialistas, comunistas e ecologistas). No entanto, nos últimos dias, alguns deles pediram para terem seus nomes retirados da lista. O PS anunciou a organização de uma futura manifestação contra o racismo.

Vários representantes do partido, no entanto, estavam presentes na marcha ao lado do líder da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon. Também na rua, Ian Brossat, porta-voz do Partido Comunista, disse "existir um clima de ódio contra os muçulmanos". "Não podemos ficar omissos", acrescentou, repudiando os ataques da extrema direita.

No sábado, véspera do evento, Marine Le Pen, presidente do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), disse que a marcha era uma manifestação "de mãos dadas com os islâmicos".

Membros do governo francês também criticaram a iniciativa, descrita como "insuportável", "clientelista e comunitária" pelo secretário de Estado da Juventude, Gabriel Attal. Evocando "ambiguidades", Elisabeth Borne, ministra da Transição Ecológica e Solidária, disse que a marcha coloca as pessoas "umas contra as outras".

Manifestações em Marselha e Toulouse

Em Marselha, no sudoeste da França, algumas centenas de pessoas, entre elas famílias muçulmanas, sindicalistas e ativistas de esquerda, se reuniram na tarde deste domingo sob o slogan "A islamofobia mata". Uma multidão cantou "somos todos filhos da República".

Claudine Rodinson, uma aposentada de 76 anos, dizia não entender aqueles que "perderam a dignidade" com os diferentes.

 

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