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Fato em Foco

Exumação de ex-presidente João Goulart pode comprovar tese de assassinato

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Na semana passada, membros da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e da Polícia Federal, foram à cidade gaúcha de São Borja para preparar a exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, morto em 1976. O procedimento ainda não data para acontecer, mas já dá força para aqueles que acreditam que Jango na realidade foi assassinado.

Presidente João Goulart foi o último antes do golpe militar, em 1964.
Presidente João Goulart foi o último antes do golpe militar, em 1964. Wikimedia Commons
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A versão oficial é de que o último presidente do Brasil antes do Regime Militar faleceu após um ataque cardíaco, no exílio, na Argentina. Mas a confissão de um ex-agente secreto uruguaio, Mario Neira Barreiro, feita em 2003, mudou toda a história. De acordo com o homem, preso por diversos crimes comuns, João Goulart teria sido envenenado ou tomado medicamentos que incentivaram o infarto que o matou.

Desde então, João Vicente Goulart, filho de Jango, não descansa enquanto não descobrir a verdade. Para ele, a exumação do corpo para perícias é uma vitória, mesmo que, passados 37 anos, os exames possam resultar em nada.

“Depende de como estão os restos mortais, pode não dar em nada. Mas o importante é que nós fizemos tudo o possível para investigar. A exumação não é um fim para atingir a verdade: ela é apenas um dos meios”, disse Goulart.

Além dos resultados da exumação do corpo, a família aposta que documentos secretos do governo americano, até hoje escondidos do governo brasileiro, podem esclarecer a causa da morte do ex-presidente. “Existem documentos do Departamento de Estado americano e outros agentes que devem ser ouvidos, e que hoje vivem sob a proteção do governo americano, com outros nomes.”

Rosa Cardoso, a atual coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, que investiga os crimes cometidos durante a ditadura, ressalta que o pedido para ter acesso aos documentos sigilosos já foi feito aos americanos. “Estes documentos ainda estão classificados. Mas com independência disto, estes documentos podem ser desclassificados, como aconteceu com o Chile. Eles mandaram um conjunto muito grande de documentos para o Chile, que têm permitido um conhecimento muito maior sobre as condições em que ocorreu o golpe lá”, afirmou.

Para Cardoso, tudo indica que João Goulart foi mesmo assassinado. “Eu acho que nós marchamos para isso. Os indícios são muito concludentes”, avalia.

O jornalista gaúcho Juremir Machado da Silva investigou a vida do ex-presidente durante três anos e examinou cerca de 10 mil documentos da época para escrever o livro "Jango: a Vida e a Morte no Exílio". Suas pesquisas, ao contrário, o convenceram de que João Goulart morreu mesmo de causas naturais. “Tem três ou quatro atores sociais que querem que isso tenha acontecido: a imprensa, a Comissão Nacional da Verdade, o Mario Barreiro e até a família, que se converteu a esta tese”, afirmou. “Eu também gostaria que tivesse sido a ditadura, porque pesaria contra ela este fato terrível. Mas os elementos disponíveis não indicam isso. Os indícios são todos muito fracos ou se desconstituem muito rapidamente.”

Para Juremir, a principal prova até hoje, a confissão de Mario Barreiro, vem de um homem mais do que duvidoso. “Ele queria varias coisas, como não ser extraditado para o Uruguai, queria aparecer. Ele tem uma mente imaginativa: ele acumulou uma montanha de recortes de jornal e livros sobre o assunto”, descreve o escritor, que se encontrou por varias ocasiões com o suposto assassino confesso de Jango. Barreiro atualmente cumpre pena mas está em liberdade condicional.
 

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