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Linha Direta

Desvalorização de peso argentino preocupa mercados e o Brasil

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As bolsas asiáticas e europeias reagem mal diante das dúvidas sobre a estabilidade das moedas dos países emergentes. Em Tóquio, o índice Nikkei fechou nesta segunda-feira (27) em queda de 2,51%. As praças de Paris, Frankfurt e Londres iniciaram as operações em baixa, revelando as preocupações dos investidores com as turbulências do câmbio. A maior dor de cabeça é o peso argentino, que tem sofrido desvalorizações diárias.

O governo da Argentina anunciou nesta sexta-feira, que continuará com autorização de compra de dólares.
O governo da Argentina anunciou nesta sexta-feira, que continuará com autorização de compra de dólares. REUTERS/Enrique Marcarian
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Além da desvalorização do peso, o governo de Cristina Kirchner tem dado sinais que confundem o mercado. Na sexta-feira, Buenos Aires anunciou a diminuição da taxa do imposto sobre despesas turísticas e compras no cartão de crédito no exterior, mas as autoridades argentinas acabaram voltando atrás.

O governo argentino anunciou que a partir desta segunda-feira os argentinos vão poder comprar dólares desde que tenham capacidade fiscal de compra. A Receita Federal argentina vai se basear na declaração do imposto de renda para autorizar ou não quem pode comprar dólares e dizer quanto essa pessoa pode comprar.

De acordo com o correspondente da RFI em Buenos Aires, Márcio Resende, essa situação é a mesma que existia até julho de 2012, quando as restrições cambiais ficaram ainda mais rígidas. Na época, a Receita Federal argentina praticamente não permitia a compra de dólares por ninguém, mas o governo diz que agora o sistema “vai funcionar melhor”.

Segundo analistas, a medida visaria ganhar tempo até março, quando o governo espera que os exportadores comecem a liquidar os dólares das colheitas agrícolas.

Expectativas

É grande a expectativa sobre uma desvalorização ainda maior do peso argentino, depois de três jornadas consecutivas nas quais a moeda perdeu 19% do seu valor. Foi a maior queda do valor da moeda desde a crise de 2002.

O governo argentino decidiu flexibilizar a possibilidade, antes vedada aos argentinos, de comprarem dólares. A medida visa combater o mercado paralelo onde o dólar vale 60% a mais. Mas a desvalorização tem impacto sobre a inflação e pode levar o país à recessão.

A inflação de janeiro já estaria em torno de 5%, enquanto a projeção para o ano está em torno de 40%. O correspondente da RFI explica que diante do atual nível de inflação, ficar com pesos no bolso significa perder poder aquisitivo diariamente.

“Como não existe nenhum investimento que mantenha o poder de compra da moeda, é preciso gastar o dinheiro logo antes que valha menos no dia seguinte. Além de consumir, a outra alternativa é comprar dólares. E a moeda americana é o refúgio preferido dos argentinos”, diz Márcio Resende.

A grande expectativa é com relação ao comportamento dos argentinos e dos mercados a partir desta segunda-feira. “Se tudo sair como o governo espera, o valor do dólar se manterá estável, mas as reservas do Banco Central vão diminuir. Se não der certo, as reservas cairão mais e o dólar aumentará ainda mais”, informa.

Resende lembra que em outubro de 2011, o governo implementou uma série de restrições para evitar que os dólares saíssem do país. As reservas que eram de 52 bilhões de dólares, atualmente são de 29 bilhões.
Um dólar valia 4,26 pesos; hoje, 8 pesos. Desde que as restrições cambiais começaram em 2011, a moeda já se desvalorizou 90%. E desde que 2014 começou, 23%. E, como consequência, houve uma aceleração imediata da inflação.

“Os produtos com componentes importados deixaram de ser vendidos porque ninguém sabe quanto vai custar. Começaram as remarcações de preços em lojas e supermercados”, constata o jornalista. Segundo Márcio Resende, enquanto o governo argentino dá sinais de “desorientação, autoritarismo e improvisação, do lado do mercado, as reações são de desconfiança, insegurança e temores”

Impacto no Brasil

Se o governo aplicar um plano de ajuste na economia, opção não descartada, a Argentina poderá crescer menos, e, consequentemente, comprar menos do exterior. “A Argentina é o terceiro principal mercado para as exportações brasileiras, especialmente de manufaturas que geram mais emprego no Brasil”, lembra o correspondente.

Segundo ele, para combater a inflação, o objetivo do governo argentino é permitir limites aos reajustes salariais. Isso está na rota de colisão com os sindicatos e pode ser o estopim para um conflito social.

Se os salários forem reajustados abaixo da inflação, isso pode indicar um segundo semestre de recessão e desemprego, cenário desfavorável para as exportações brasileiras. Para evitar uma drenagem veloz de dólares, o governo poderá apertar ainda mais as restrições às importações. “No fundo, qualquer cenário prejudica o Brasil”, avalia.
 

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