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Carnaval também tem preconceitos e maus tratos a animais

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Carnaval é música, diversão e festa, mas também esconde outras facetas não muito alegres do Brasil. Algumas são mais conhecidas, como os acidentes de trânsito e o turismo sexual. Mas outras costumam passam despercebidas pelos foliões, como a exploração de animais ou a propagação de preconceitos através das famosas marchinhas de carnaval.

O 11º desfile preventivo da banda Alegria Sem Ressaca reuniu, na manhã deste domingo, dia 23, mais de mil foliões na orla de Copacabana.
O 11º desfile preventivo da banda Alegria Sem Ressaca reuniu, na manhã deste domingo, dia 23, mais de mil foliões na orla de Copacabana. abradonline.org.br
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Os desfiles das escolas de samba atraem visitantes do mundo inteiro, encantados com o samba e as cores das fantasias. Poucos se questionam sobre a origem de tantas plumas e penas que adornam os corpos das musas dos desfiles. Daniele de Miranda, coordenadora da União Libertária Animal, uma entidade do Rio de Janeiro, afirma que as escolas ainda não abrem mão destes adereços, símbolos do carnaval.

“As alas comuns já usam penas e plumas artificiais. O problema está nas rainhas e madrinha de bateria, que precisam de fantasias mais luxuosas, glamourosas. Como elas saem na mídia, buscam os materiais mais nobres, de origem animal, como o faisão ou o avestruz”, explica.

O Brasil é um dos maiores importadores mundiais do produto, graças ao Carnaval. Daniele explica que a técnica para arrancar as penas e plumas provoca sofrimento das aves, e as deixam expostas ao sol e a infecções.

“Eles usam a técnica de zíper para retirar as penas, ou seja, puxam para arrancá-las. Os avestruzes são criados artificialmente, mantidos em confinamento e vivem aproximadamente 40 anos, durante os quais têm uma retirada anual das plumas”, diz Daniele. “As pessoas não pensam muito na procedência das penas, e quando tocamos no assunto elas dizem que as penas caem naturalmente. Não é nada disso: é uma indústria.”

Músicas nada politicamente corretas

Você já parou para pensar no que dizem as letras das marchinhas de carnaval? Enquanto algumas celebram somente festa, outras, como “O Teu Cabelo Não Nega”, têm uma conotação sexista e machista incontestável. Ainda assim, estão na boca de todo o brasileiro e voltam a tocar nos salões a cada ano. A antrópologa Goli Guerreiro observa que essas músicas surgiram na década de 30, e nunca mais foram abandonadas.

“Essas músicas de duplo sentido, muitas racistas, são uma tradição da história da música carnavalesca. Desde 1932, com O Teu Cabelo Não Nega, que isso começa a se estabelecer como padrão: falar da mulata, da morena, de desejo e sexualidade, do corpo da mulher negra”, recorda. Goli afirma que, nos anos 80 e 90, os blocos carnavalescos afro trazem questões mais sociais, de combate ao preconceito, mas ainda assim não abandonam as frases pejorativas.

“A música dos blocos afro vem com uma tendência altamente politizada, conscientizada. Seria o avesso desse processo de desvalorização da mulher ou do negro. Mas mesmo dentro desse ambiente, na axé music, aparecem músicas que falam do cabelo duro, como a de Luiz Caldas, embora ele seja um expoente, um músico muito sofisticado do ponto de vista instrumental”, analisa.

Abusos de álcool na mira

Campanhas mais conhecidas, como de prevenção aos abusos do álcool, também invadem a folia. No último domingo, foi a vez do bloco Alegria Sem Ressaca tomar as ruas do Rio de Janeiro para alertar sobre os excessos de bebida e drogas durante as festas. A intenção, explica a psicóloga Leila Velger, produtora da banda, não é pregar a abstinência.

“O maior índice de entrada nas emergências de politraumatizados, acidentados do trânsito e violências domésticas ocorre entre o período do Natal e o Carnaval. É quando as pessoas ingerem maior quantidade de bebidas e drogas para ficarem ‘alegres’”, destaca. “A nossa proposta é desmistificar isso: você não precisa de álcool e drogas para ficar alegre. Não que seja proibido, que seja horrível. A bebida pode ser boa no lazer, quando consumida comedidamente por quem pode. Mas pode ser muito prejudicial para aqueles que são dependentes químicos e não conseguem parar.”

 

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