Acessar o conteúdo principal
Linha Direta

Passado dramático e crise afetam interesse imobiliário pelo World Trade Center

Publicado em:

Um dos maiores símbolos da Nova York contemporânea, especialmente de sua pujança financeira, é o Wolrd Trade Center. Depois da destruição das Torres Gêmeas durante os ataques terroristas de 2001, a área conhecida como Ground Zero, nas imediações de Wall Street, recebeu atenção dedicada de urbanistas, arquitetos e autoridades dos EUA. Mas o peso da memória e a economia acabaram afetando a ocupação do complexo.

Imagem do novo complexo do Wolrd Trade Center, que ainda não conseguiu atrair o número esperado de locatários.
Imagem do novo complexo do Wolrd Trade Center, que ainda não conseguiu atrair o número esperado de locatários. onewtc.com
Publicidade

Eduardo Graça Aranha, correspondente da RFI Brasil em Nova York

Depois de toda a complicação das obras no local, incluindo a demora nas escavações e as muitas considerações das famílias das vítimas em um espaço considerado sagrado pelos moradores da metrópole, a dificuldade agora parece ser a da ocupação dos prédios.

Situado quase no limite setentrional de Manhattan, com vista privilegiada tanto para o Brooklyn quanto para Nova Jersey, ao lado do encontro do Rio Hudson com o Oceano Atlântico, o complexo de cinco prédios, museu, memorial e uma estação de transportes foi bolado para atrair conglomerados privados na capital informal do planeta. Mas isto não está acontecendo.

Desinteresse

Até o momento, o One Trade Center, o prédio principal do novo complexo de edifícios, está ou 50% vazio ou com ocupação de 50%, dependendo de quem fala sobre um empreendimento tão simbólico para a cidade.

A última grande notícia para os empreendedores – que são o governo do Estado de Nova York e a The Durst Organization, um gigante do mercado imobiliário - foi o anúncio da mudança, em novembro, das redações e escritórios da empresa de comunicação especializada em publicação de revistas como a “Vogue”, “New Yorker” e a “Vanity Fair”, do grupo Condé Nast, de seu quartel-general em Times Square.

A Condé Nast assegurou um espaço nobre no principal prédio do complexo do novo One WTC em 2011 e vai ocupar 24 dos 104 andares. E os demais? Desde então, a expectativa era de que outros grupos de porte ou ainda maiores seguissem o exemplo deles, mas isso não aconteceu.

A Condé Nast alugou o espaço por 25 anos, em um negócio estimado em US$2 bilhões, que tinha mesmo de ser celebrado. Na época, a empolgação foi tamanha que a Downton Allliance, uma parceria público-privada criada para estimular a economia da região sul de Manhattan, estimou que outros 15 conglomerados de mídia planejariam se mudar para a área nos anos seguintes. O problema é que eles estão de olho em espaços mais baratos.

O grupo Time, por exemplo, acaba de anunciar que vai ocupar vários andares do antigo World Finantial Center, que fica ao lado, mas não conta com a pujança arquitetônica do novo  World Trade Center. E o Bank of New York Mellon, que chegou a cogitar acompanhar a Conde Nast, também está em negociações adiantadas com o prédio vizinho, o Finantial Center.

Expectativas até a abertura

Até agora, apenas 55% do espaço total do primeiro prédio tem ocupação garantida. E somente um outro grupo privado especializado em publicidade, o Kids Creative, seguiu a Condé Nast em direção ao prédio.

Todos os demais andares já ocupados estão reservados para agências do governo. Na semana passada, foi anunciada uma redução no preço do aluguel de 10% para tentar atrair novos inquilinos de peso. O 1 WTC deve abrir no fim de novembro, então os empreendedores, que investiram quase US$ 4 bilhões, estão desesperados para fechar novos contratos nos próximos cinco meses. De qualquer forma, já se pode dizer com certeza que o investimento do governo e da Durst não será recuperado em curto prazo.

Podemos nos perguntar qual é o mistério por trás da dificuldade em se levar empresas para lá. O local, como se sabe, é dos mais seguros da cidade, especialmente erguido para enfrentar explosões ou potenciais ataques terroristas, e tem um certificado de excelência de meio-ambiente. Esta falta aparente de interesse poderia estar ligada ao maior trauma da cidade, que ocorreu justamente naquele local há 12 anos e meio?

Crise econômica

Esta é uma especulação que ninguém aqui aceita como fato concreto. O nova-yorkino da gema se considera, antes de tudo, um forte. E os empreendedores asseguram que qualquer questão relacionada à segurança não entra nesta equação.

A resposta mais lógica parece ser a velha e nem sempre boa economia. Em 2011, quando a Condé Nast anunciou que se mudaria de mala, cuia e revistas para o novo World Trade Center, havia uma expectativa enorme quanto à retomada da economia americana e, como sabemos, ela não aconteceu no ritmo desejado pelo setor produtivo.

Os empreendedores também argumentam que as Torres Gêmeas, nos anos 70, também demoraram para conseguir ocupar todos os seus andares e que o Empire State já foi apelidado, nos anos 30, de Empty State (ou seja, ‘vazio’).

O primeiro prédio totalmente reconstruído na área, o 7 World Trade Center, já está com ocupação total, e duas grandes firmas de publicidade estão negociando suas mudanças para a antiga área do Ground Zero, também de acordo com os empreendedores. Por outro lado, o 4 World Trade Center, que tem o metro quadrado mais caro do que o 7, só tem 51% do espaço ocupado, e todo por agências governamentais.

Ou seja, aquela que já foi chamada de Torre da Liberdade, corre o risco de abrir as portas no fim do ano na pele de um elefante branco, mais por conta dos ares econômicos do que do peso da história daquele endereço específico.

De qualquer modo, os moradores da cidade que transitam pelo Brooklyn, pelo sul de Nova Jersey ou pela ilha de Manhattan, já se acostumaram a usar a espiral da torre como referência no skyline mais famoso do mundo. O que não é pouca coisa. Vamos então ficar atentos para ver se nos próximos meses uma das torres mais famosas do planeta não vai ficar vazia, ou cheia, dependendo do olhar do observador – pela metade.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.