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Ditadura/Argentina

Líder das Avós da Praça de Maio encontra neto após 36 anos de busca

Estella de Carlotto, uma figura histórica da associação Avós da Praça de Maio – organização que trabalha na busca e restituição de crianças sequestradas ou desaparecidas durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983) –, encontrou seu neto, após 36 anos de investigações. A informação foi divulgada nesta terça-feira (5).

Estela de Carlotto, presidente da associação Avós da Praça de Maio.
Estela de Carlotto, presidente da associação Avós da Praça de Maio. REUTERS/Marcos Brindicci/Files
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“Eu não queria morrer sem antes abraçá-lo. Brevemente poderei fazer isso”, disse a militante de 83 anos. Estella explicou que o neto ficou muito emocionado com a notícia, após um primeiro contato por telefone, na terça-feira (5). “Quero compartilhar essa notícia com vocês. Ainda não conhecemos a história completa, mas ela será revelada”, declarou, na sede das Avós da Praça de Maio, em Buenos Aires.

De acordo com relatos de um companheiro de prisão da filha de Estella, Laura de Carlotto, o bebê Guido nasceu no presídio, em 26 de junho de 1978. Integrante da guerrilha Montoneros, Laura foi torturada e assassinada na prisão durante a ditadura. O pai de Guido é Oscar Montoya, também integrante dos Montoneros e morto durante o regime militar.

Os parentes de Laura e Oscar não se conheciam, já que o casal vivia na clandestinidade e sem contato com a família durante a ditadura. Estella também não tinha conhecimento da gravidez da filha; a informação foi obtida através de vários depoimentos de sobreviventes da guerrilha. A confirmação que Guido é filho de Laura e Oscar foi divulgada após testes de DNA.

Vítima dos Anos de Chumbo

Guido, pianista e compositor de 36 anos, foi criado com o nome de Ignacio Hurban. Em 2012, ele chegou a participar do ciclo “Músicas pela Identidade”, evento organizado pelas Avós da Praça de Maio, dentro do projeto de investigação das crianças roubadas durante a ditadura.

Sem imaginar que ele próprio era uma das vítimas dos Anos de Chumbo argentinos, Ignacio compôs uma música sobre o regime militar e a publicou em março na rede musical Bandcamp. Um dos trechos da canção (clique ao lado para ouvir), que se chama Para la Memória, diz: “O exercício de não esquecer nos dará a possibilidade de não repetir. Não se fecharam as portas nem as feridas de tempos atrás”.

 

500 bebês foram roubados durante a ditadura

As Avós da Praça de Maio calculam que 500 bebês de opositores políticos tenham sido roubados de suas mães e adotados por partidários do regime, geralmente policiais ou militares. Até hoje, mais de cem crianças sequestradas durante o período puderam ser identificadas e retomar o contato com suas famílias.

Um dos ditadores do período, Jorge Videla (1976-1981) foi condenado em 2012 a 50 anos de prisão por roubo de crianças durante o regime militar argentino. Ele morreu na prisão no ano seguinte.

A ditadura argentina deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos, de acordo com organizações de defesa dos Direitos Humanos.

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