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Novas tecnologias não substituem o professor na sala de aula, dizem especialistas

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Doze milhões de alunos do ensino fundamental e médio de toda a França voltaram às aulas nesta terça-feira (2) para um ano letivo que será marcado por mudanças no ritmo escolar, mas também por uma maior inserção tecnológica dos estabelecimentos de ensino. Apesar do anúncio de um importante plano digital para educação francesa, uma pesquisa divulgada nesta semana mostrou que os franceses consideram que o papel do professor na sala de aula é insubstituível.

Após as férias de verão, escolas de toda a França voltaram às aulas nesta terça-feira (2).
Após as férias de verão, escolas de toda a França voltaram às aulas nesta terça-feira (2). REUTERS/Jean-Paul Pelissier
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O presidente francês, François Hollande, anunciou ontem que o governo tem um importante plano digital para a educação francesa. Para Hollande, a inserção das novas tecnologias nas escolas francesas é uma questão de “ambição nacional”.

O anúncio deste importante investimento na educação veio na mesma semana em que uma pesquisa realizada pelo instituto OpinionWay para o Casden - banco cooperativo da Educação, Pesquisa e Cultura - mostrou que o professor é insubstituível.

Para 84% dos entrevistados, nenhuma nova tecnologia ou a internet pode superar o papel dos educadores na sala de aula. A maioria das pessoas ouvidas, no entanto, acredita que os professores precisam se adaptar às demandas da era digital.

Insubstituíveis

O diretor da sociedade de conselho em políticas educativas Education et Terriroires, Serge Pouts-Lajus, é categórico ao afirmar que as novas tecnologias não têm o poder de substituir um professor. "Faz muito tempo que discutimos este assunto. E chegamos sempre à mesma conclusão: a função dos educadores não está ameaçada por computadores, pela internet ou outras ferramentas da era digital”, ressalta.

Sobre o ensino à distância, Pouts-Lajus lembra que o mecanismo existe há muito tempo e que serve para adultos geralmente formados e que desejam fazer uma especialização, por exemplo. “Pensar no ensino à distância para alunos do ensino primário, quando as crianças estão começando a ler e a escrever e precisam do apoio dos professoresnão é uma perspectiva razoável", salienta.

Lajus admite, no entanto, que a instituição escolar está em crise em todo o mundo pela falta de adaptação às novas tecnologias. Para ele, é urgente que educadores e governos empreendam reformas em seus sistemas de ensino. "A demora para que a reforma do sistema escolar aconteça se deve à dificuldade de educadores e governos de entrar em acordo sobre como deve ser uma escola do século 21, que integre as novas tecnologias e que considere que seus alunos têm formas diferentes de aprendizado hoje em dia”, analisa.

O especialista em novas tecnologias na educação lembra que muitos estudos divulgados nos últimos anos vêm apontando que os jovens perderam sua capacidade de concentração nas aulas. “Vemos que isso acontece somente na escola. Quando os jovens jogam videogames ou utilizam as redes sociais, eles não têm problemas de atenção e podem ficar muito tempos concentrados nessas ferramentas. Isso nos mostra que a organização do sistema escolar precisa ser profundamente revisado", conclui.

Espaços de aprendizagem

A professora e pesquisadora da área de cultura digital da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e do SENAI-CIMATEC, Lynn Alves, que também é coordenadora do grupo de pesquisa Comunidades Virtuais, acredita que o sistema escolar deve utilizar as novas tecnologias, como redes sociais, jogos e softwares de comunicação instantânea, como espaços de aprendizagem. “Não podemos pensar na mera substituição da função do professor pelas novas tecnologias. Mas é necessário que os educadores utilize essas interfaces comunicacionais, construindo um sentido para elas na sala de aula”, sugere.

Lynn Alves salienta que, para que as novas tecnologias encontrem um espaço efetivo no aprendizado, os professores precisam ser formados. “O educador deve utilizar esse significado que a tecnologia tem na vida dele, porque ele também é um usuário, e transferi-lo para a sala de aula. Além disso, é necessário aproveitar a experiência que os alunos têm com as novas tecnologias, lembrando que eles não são apenas consumidores, mas que eles também produzem conteúdos, e valorizar esse potencial.”

Brasil

A professora relata que o Brasil tem vários projetos de inserção de novas tecnologias nas salas de aula desde os anos 80, desenvolvidos pelo Ministério da Educação (MEC), através dos núcleos de tecnologias educacionais, que formam os professores das redes públicas e municipais. Outros projetos importantes são desenvolvidos pelas universidades brasileiras, especialmente através de programas de pós-graduação.

Lynn Alves sublinha, entretanto, que a falta de infraestrutura técnica das escolas prejudica o funcionamento destes projetos. “Existe essa política que oferece essa interação com as novas tecnologias na educação, mas falta infraestrutura para concretizar esses projetos”, diz.

De acordo com a professora, o maior desafio dos educadores é adaptar essas tecnologias ao cenário escolar. Ela acredita que essas novas ferramentas não podem ser meros instrumentos didáticos, mas ferramentas para criar “novas formas de pensar”. “O objetivo não é usar o tablet para uma tarefa que se fazia antes no caderno, mas construir um sentido para essa nova ferramenta. Trabalhamos com essa perspectiva de que as tecnologias são espaços de aprendizagem, para desenvolver habilidades cognitivas, afetivas, sociais, entre outras”, finaliza.

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