Naufrágio de 500 clandestinos em Malta reflete impunidade de passadores
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Os conflitos políticos, principalmente no Oriente Médio e Africa, estão repercutindo de forma dramática na imigração clandestina para a Europa. São milhares de refugiados - homens, mulheres e crianças - principalmente da Síria, Líbia, Gaza, Sudão e Eritreia, que pagam fortunas a passadores inescrupulosos para tentar chegar às ilhas do sul da Itália, Malta e Lampedusa, de onde depois seguem para outros países.
O número de refugiados que tentam abrir a porta da Europa dobrou em relação a 2013 e o número de mortos é quatro vezes maior, devido à série de naufrágios que vem enlutando o Mar Mediterrâneo. Desde o começo deste ano, cerca de 2.900 pessoas perderam a vida tentando a travessia.
O caso mais recente chocou o mundo inteiro: 500 clandestinos que partiram do Egito teriam se afogado em 10 de setembro no sudeste da Ilha de Malta, depois de um conflito com passadores que afundaram o barco voluntariamente. Entre os sete únicos sobreviventes, dois são palestinos. Com a guerra em Gaza, cada vez mais jovens tentam fugir em busca de melhores oportunidades, partindo clandestinamente por túneis que vão dar no Egito. O palestino Mohammed, cujo irmão de 23 anos estava no navio e conseguiu se salvar, fala da falta de perspectiva em Gaza: "Para a juventude de Gaza não há nenhum futuro, não há trabalho, os estudos são difíceis e custam caro. Meu irmão se formou em Direito Internacional, mas não encontrou emprego, por isto partiu nesse navio", explica o homem.
Guerras e passadores sem escrúpulos
Para Joel Millman, porta-voz da Organização Internacional para as Migrações (OIM), os diversos conflitos políticos fazem jovens desacompanhados e famílias inteiras fugirem de seus países. "As pessoas vêm de onde a violência é constante como Síria, Gaza, Líbia, Sudão e Eritreia, na maior parte.
A imigração clandestina é um negócio que convida muitos criminosos a trabalhar nesta "indústria". Tem muita impunidade no Egito e Líbia, onde há pouca autoridade civil e governamental. E a criminalidade inclui sequestros, extorsões, homicídios, pois os clientes são muito vulneráveis, com pouco poder, que pagaram cerca de US$2.000 para fugir nos barcos. No caso de Malta, onde talvez mais de 500 pessoas morreram, é um exemplo dessa criminalidade.
Respostas europeias
E como a Europa responde a essa situação dramática?
A operação Mare Nostrum foi lançada em 2013, depois de naufrágios na Ilha de Lampedusa que deixaram 400 mortos. Com cinco navios da Marinha militar italiana, helicópteros e aviões, seu objetivo é vigiar o Mediterrâneo e evitar novas tragédias humanas, aumentando a segurança dos clandestinos.
Mas se a iniciativa é vista com bons olhos pelos defensores dos estrangeiros, não é bem recebida pelos próprios italianos, que acham que os desempregados e aposentados modestos do país são prejudicados em relação aos imigrantes. A Comissão Europeia comunga com a ideia, considerando a missão muito onerosa. Caro também custa o reforço da Frontex - Agência de vigilância das fronteiras europeias.
Para Pierre Henri, diretor-geral da ONG "France Terre d'Asile" ("França, Terra de Asilo"), a Europa está totalmente impotente diante do problema: "Primeiro temos que constatar os fatos e a repetição dos fatos. Há mais de seis anos as mortes se sucedem no Mediterrâneo, que se tornou um cemitério sem sepulturas. O que observamos é mesmo uma verdadeira impotência das políticas europeias para dar um fim a esse drama, seja por indiferença, seja por falta de vontade e de solidariedade entre os países do bloco. Digo que é preciso uma resposta adaptada e que, atualmente, a Europa está impotente no que se refere a essa resposta adaptada", observa Pierre Henri.
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