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Ciência e Tecnologia

Em 15 anos, câncer deixará de ser doença mortal, diz geneticista francês

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Em 15 anos, o câncer deixará de ser uma doença fatal. A afirmação que traz esperança para quem luta contra o mal é do geneticista francês Laurent Alexandre, cirurgião e dono da empresa DNA Vision. Recentemente, ele lançou o livro “A Derrota do Câncer - A História do Fim de uma Doença”, onde narra como os avanços do sequenciamento do DNA vão mudar a vida dos doentes.

"A derrota do Câncer - o fim da História de uma Doença", o último livro do geneticista Laurent Alexandre
"A derrota do Câncer - o fim da História de uma Doença", o último livro do geneticista Laurent Alexandre http://www.editions-jclattes.fr
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“As tecnologias genéticas vão permitir às pessoas que têm um câncer viverem, dentro de dez anos, como os soropositivos. Hoje, a esperança de vida para quem é portador do vírus da Aids é a mesma para uma pessoa sadia. É uma doença desagradável, com medicamentos difíceis, mas vivemos mais ou menos o mesmo número de anos com ou sem o vírus HIV”, diz o cientista francês. De acordo com ele, em 2030, o câncer não será mais uma doença que mata. Leia a entrevista que ele concedeu à RFI Brasil.

O que o estudo do genoma trouxe para o tratamento do câncer?

Graças ao genoma podemos classificar os tumores em função das características genéticas de cada tumor e criar o que chamamos de tratamento personalizado. É um tratamento que vai atacar especificamente as mutações que atingem os cânceres de um determinado paciente e suas diferentes mutações. Nunca há dois cânceres do seio idênticos, por exemplo. Cada tumor tem suas especifidades. Essa descoberta ocorreu há cinco ou seis anos e revolucionou nossa visão sobre a doença, porque não imaginávamos que havia tantos tipos de câncer.

Concretamente, como isso vai acontecer?

O mais importante é termos a sequência do DNA do tumor, para conhecer as mutações presentes. No momento em que retiramos o tumor, fazemos uma biópsia e analisamos seu DNA. A partir daí, poderemos dar um tratamento personalizado que corresponderá às características ou especificidades do tumor do paciente.

Então é preciso generalizar o acesso ao sequenciamento do DNA?

Sim, isso está previsto. Na França, o sequenciamento do DNA será generalizado dentro dos próximos cinco ou seis anos. Esta é a primeira técnica. A segunda, que permitirá ter tumores menos agressivos, é que já sabemos como identificar o DNA tumoral no sangue dos doentes muito anos antes que a doença seja vísivel em ecografias e ressonâncias magnéticas. Então, no futuro, através de exames de sangue preventivos, saberemos se existe um tumor, mesmo que ele seja menor do que uma ponta de agulha e não possa ser visto em exames radiológicos. Isso permitirá a prescrição de tratamentos extremamente precoces enquanto o tumor ainda estiver menos agressivo. Os pequenos tumores são sempre menos agressivos do que os grandes tumores.

Tudo isso tem uma relação com histórias como a de Angelina Jolie, que decidiu retirar os seios para evitar um câncer no futuro?

Isso é outra coisa. Esta é a busca por fatores que predispõem ao câncer antes da detecção da doença. Os casos que eu citei envolvem as medidas a serem tomadas após a confirmação do diagnóstico. Em alguns casos, quando ainda não temos o câncer, e é o que foi feito pela Angelina Jolie, podemos descobrir, em um indíviduo, fatores genéticos que predispõem à doença. Mas o tumor ainda não existe, é um caso diferente. É possível descobrir isso em um exame de sangue.

Em seu livro, você explica que o câncer é sempre uma anomalia do cromossomo, mas não necessariamente herdada dos pais?

O câncer é sempre uma anomalia do DNA, do cromossomo, e em 15% dos casos ela é hereditária – é o que aconteceu com Angelina Jolie. Em 85% dos casos, a mutação é causada por fatores ambientais, como o tabaco, amianto ou produtos químicos, mas não estava presente inicialmente no indíviduo, não é herdada. É apenas uma célula do organismo –uma célula do pulmão, fígado, do rim -que vai sofrer uma mutação e gerar o câncer. São duas coisas diferentes.

E qual tipo de câncer será mais agressivo?

Não há uma diferença de agressividade entre os dois, são apenas dois tipos diferentes de aparição de mutação. Em um caso ela é transmitida pelo pai ou a mãe, através do óvulo e do espermatozóide, e em outro caso, a mutação foi provocada, como já disse, pelo meio-ambiente.

Você escreveu há alguns anos o livro “A Morte da Morte”, e recentemente em uma reportagem na TV você afimou que o ser humano que vai viver mil anos talvez já tenha nascido. É isso mesmo?

Sim, eu acredito nisso. Mas não graças à tecnologia de hoje, graças à tecnologia de 2100, 2200, 2300...Uma criança que nasce hoje, terá apenas 86 anos em 2100. Você pode imaginar a tecnologia em 2100? A tecnologia em 2100 estará em um nível inacreditável. A esperança de vida será de 150 a 180 anos, no mínimo. E com a tecnologia a esperança de vida não vai parar de aumentar.

Qual mensagem você deixaria para quem tem câncer hoje?

Eu enviaria antes uma mensagem para quem não tem câncer. O melhor tratamento do câncer hoje não é nanotecnologia ou a génética. O melhor é a prevenção: não fume demais, não fique demais no sol, não seja obeso, não coma gordura em excesso, tome as vacinas que previnem contra os vírus que provocam câncer...  o que é mais importante para a cancerologia é evitar o câncer. No caso do HIV, a melhor maneira de se prevenir é usar a camisinha, não os maravilhosos tratamentos que temos hoje. No câncer é a mesma coisa. O melhor tratamento não são as nanotecnologias triunfantes, mas evitar o câncer.
 

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