Acessar o conteúdo principal
Fato em Foco

Mahmoud Abbas completa 10 anos à frente da Autoridade Palestina

Publicado em:

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, completa 10 anos no poder nesta sexta-feira (9). Neste período, as negociações de um processo de paz entre Israel e a Palestina foram interrompidas e as ações para um reconhecimento do estado palestino se multiplicaram.

O presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas
O presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas REUTERS/Mohamad Torokman
Publicidade

Para o jornalista do Le Monde Diplomatique e historiador francês Dominique Vidal, autor de uma série de livros sobre o assunto, Abbas deu continuidade à política de Yasser Arafat: tentar obter uma solução pacífica para o problema palestino, obtendo o reconhecimento de um estado cujas fronteiras seriam baseadas nos territórios de Israel e Palestina antes da guerra de 1967. Para ele, desde que Abbas foi eleito, em 9 de janeiro de 2005, a evolução da situação no plano diplomático e na prática foi bem diferente.

"Na prática, não há dúvidas de que Israel aproveitou do clima aparente de processo de paz para perseguir e acelerar a colonização da Cisjordânia e no leste de Jerusalém. Sob esse ponto de vista, há um fracasso indiscutível", diz. "Já do ponto de vista diplomático, o balanço é positivo. O que nós vimos desde a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza neste ano é uma espécie de onda de reconhecimento do estado palestino. Para começar, uma onda 'parlamentar.' Houve uma quinzena de parlamentos que reconheceram o estado palestino", explica.

De acordo com Vidal, o resultado desse reconhecimento coletivo é a primeira demanda feita recentemente ao Conselho de Segurança da ONU, para pedir o fim da colonização israelense e o reconhecimento do estado palestino. De acordo com o especialista, apesar do fracasso da iniciativa, ela trouxe pontos positivos. Um deles é o fato de a França ter votado a favor do texto, criado em colaboração com a Jordânia. Ou ainda a Grã-Bretanha ter optado pela abstenção, o que em sua opinião também representa um grande avanço.

"A prova é que a resolução palestina será novamente submetida ao Conselho de Segurança, em um contexto diferente. Isso porque, entre os novos membros não-permanentes do Conselho, há aqueles que apoiam a OLP, como a Venezuela ou a Indonésia. Então não é impossível que, nessa segunda votação, a OLP obtenha os 9 votos necessários para obrigar o Conselho de Segurança a se pronunciar e levar os EUA a utilizar ou não o direito de veto".

Estados Unidos tentam evitar veto

Para o especialista, há meses os Estados Unidos fazem tudo para não utilizar o seu veto. "A única maneira de interpretar essa hesitação, essa batalha para não utilizar o veto, acredito que a situação no Iraque e na Síria. A tentativa para reforçar a coalizão árabe-ocidental contra o grupo Estado Islâmico poderia ser prejudicada no caso de um veto contra a Palestina. Isso explica a pressão da parte de John Kerry para fazer com que os palestinos não acionem o Conselho de Segurança", analisa. 

Em relação ao pedido de adesão ao TPI (Tribunal Penal Internacional), aceito nesta quinta-feira, ele explica que não há possibilidade de veto. Isso possibilita a abertura de um processo contra Israel por crime de guerra e contra a humanidade. “Mahmoud Abbas tirou uma lição de seus dez anos na presidência da Autoridade Palestina: não se pode esperar nada das discussões bilaterais entre Israel e os palestinos. Nada pode ser feito se a comunidade internacional não interferir com todas suas forças para reequilibrar as duas partes e para impor uma solução negociada”.

Para Hasni Abidi, diretor do Centro de Estudos e de Pesquisas sobre o Mundo Árabe, Abbas não tinha outra alternativa: o pedido feito à ONU e ao TPI era essencial. "Era uma maneira para ele de dizer que, agora, a questão palestina é responsabilidade da comunidade internacional. Mas, mesmo aderindo ao TPI ele sabe que as chances de Israel ser levado a julgamento são mínimas. É uma mensagem que significa: agimos dessa forma porque não temos outra alternativa, e assim fazemos um apelo para que a comunidade assuma suas responsabilidades."

Para Dominique Vidal, a ausência de uma interferência mais eficaz das potências ocidentais também levou ao acordo entre o Fatah, partido de Abbas, e o Hamas. “Para que o estado palestino seja reconhecido, é preciso que haja um governo de união. Desde a divisão entre o Fatah e o Hamas, Israel ganhou margem de manobra. Hoje, a existência de um governo de união, mesmo frágil, mesmo que ainda haja muitos problemas entre os dois movimentos palestinos, continua sendo uma garantia para dar continuidade ao avanço democrático registrado nas últimas semanas.”

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.