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França

"Se uma mulher for violentada no metrô de Paris, ninguém vai reagir", diz associação

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A associação francesa Osez le Féminisme (Ouse o Feminismo) lançou recentemente uma campanha no país na tentativa de diminuir a violência contra as mulheres nos transportes coletivos. A ideia é conscientizar os usuários sobre os riscos de agressão e assédio sexual, principalmente no metrô parisiense.

Cartaz da campanha, intitulada "Take back the metro" (recupere para si o metrô).
Cartaz da campanha, intitulada "Take back the metro" (recupere para si o metrô). http://takebackthemetro.com
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Enquanto no Rio de Janeiro um vagão foi criado especialmente para as mulheres para evitar situações desagráveis, a França prefere apostar na conscientização. A campanha #TakeBackthemetro, inspirada de um movimento similar em Nova York, espera sensibilizar a população sobre certas atitudes que atrapalham o cotidiano das viajantes. Assobios, cantadas baratas e até mesmo hábitos que parecem inofensivos, como homens que se sentam com as pernas abertas.

Uma pesquisa feita pela associação com 150 mulheres mostrou que 94% delas já foram vítimas de machismo. Com medo de serem agredidas, três quartos delas confessaram adaptar a roupa e o comportamento para evitar  aborrecimentos. Rima Achtouk, representante da associação Osez le Féminisme, conta que a ideia da campanha veio de um caso ocorrido em 2014 no metrô de Lille, no norte do país. Um jovem lutou para agarrar à força uma menina que tentou se desvencilhar, gerando uma reação violenta do agressor, que tentou quebrar uma garrafa em sua cabeça.

Dentro do vagão, onde estavam cerca de 10 pessoas, ninguém protegeu a garota, que conseguiu escapar, mas foi perseguida na rua durante 15 minutos, chegando a parar um carro para pedir ajuda. No fim, ela foi salva graças à intervenção tardia dos vigias do metrô. O homem acabou detido e condenado a um ano e meio de prisão.

Fatos como esses ilustram as dificuldades das mulheres francesas no dia-a-dia. De acordo com a representante da Associação, "como as mulheres não se sentem à vontade ou em segurança no transporte coletivo, mudam seu comportamento: elas evitam pegar o metrô a partir de certos horários, às vezes optam por um táxi...isso tem consequências financeiras. Às vezes elas chegam a mudar de trajeto", diz.

Rima Achtouk também lembra que, para as mulheres, tomar uma atitude quando a agressão acontece é um problema. “É complicado recomendar às mulheres quais atitudes elas deveriam ou não tomar, se deveriam fazer isso ou fazer aquilo...Podemos, claro, responder no caso de um insulto. Mas é complicado dar uma "resposta universal", porque algumas situações podem ser realmente arriscadas", avalia. "Em vez de incitar as mulheres a reagir, preferimos nos posicionarmos do outro lado e dizer: se você for testemunha de uma agressão no transporte, reaja. Se não fizer nada, pode ser acusada de omissão de socorro”, explica.

A luta da associação é para que também haja uma proteção mais apropriada das mulheres nos transportes, que segundo ela, “poderiam ser estupradas no metrô e nada aconteceria”.

Francesas contam suas experiências

A RFI pegou o metrô para saber como se sentem as mulheres que andam de transporte público na capital francesa. Muitas preferiram não se identificar, mas todas tinham alguma história para contar. É o caso de Atuma. Ela diz que nunca se sentiu ameaçada, mas já mudou de vagão para evitar aborrecimentos. “Já percebi alguns olhares insistentes. Mudo de vagão se for o caso, mas nunca pedi ajuda”, diz.

As mulheres também sofrem mais furtos do que os homens, indica a pesquisa da associação. A jornalista Gaëlle, por exemplo, teve o seu celular furtado no metrô. O adolescente que levou o objeto acabou sendo encontrado pela polícia e condenado a três meses de prisão. Gaëlle recebeu uma indenização, mas ela perdeu todos os seus contatos. “Eu ainda não tinha ativado todos os meus aplicativos necessários para recuperar meus contatos. Isso era o mais importante. Quando me perguntaram no tribunal quanto ele me devia eu nem sabia o que responder, porque o problema não era o próprio Iphone, mas os contatos dentro!”
 

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