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Anoréxicas não querem se parecer com modelos, dizem especialistas

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A França começa a fechar o cerco contra as agências de modelos que empregam jovens magras demais, proibindo a contratação das que apresentam um índice de massa corporal abaixo dos padrões de saúde. Os sites com dicas para as adolescentes emagrecerem sem limites também poderão ser fechados. As duas medidas, entretanto, são criticadas por especialistas em distúrbios alimentares, que advertem que o mais importante seria melhorar o diagnóstico e o tratamento da doença.

Governo francês quer fechar o cerco contra anorexia no mundo da moda.
Governo francês quer fechar o cerco contra anorexia no mundo da moda. REUTERS/Gonzalo Fuentes
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Na mesma semana, os deputados aprovaram os dois projetos de lei, que ainda precisam passar pelo Senado e retornar à Assembleia até serem adotados. O governo quer diminuir as influências negativas sobre as adolescentes vulneráveis aos distúrbios alimentares, em busca dos corpos cada vez mais magros vistos nas passarelas e na publicidade.

A Federação das Associações de Distúrbios de Comportamento Alimentar (FNA-TCA) critica os projetos de lei. A presidente da entidade, Mathilde Pruvo, destaca que a verdadeira solução seria ampliar os centros de tratamento especializados.

“O que aterroriza essas meninas é a ideia de perder o controle sobre a gordura do corpo. Quando nós perguntamos, elas dizem que não querem ficar iguais às modelos. Elas estão apavoradas, não se sentem bem consigo mesmas e com o próprio corpo, mas não querem se parecer com as manequins”, afirma.

Causas

Pruvo ressalta que cerca de 600 mil pessoas têm distúrbios alimentares no país. Entre 30 mil e 40 mil sofrem de anorexia mental, que é causada por fatores como a depressão, problemas de auto-estima e traumas sexuais.

“A anorexia mental é uma doença que sempre existiu, pelo menos desde a Idade Média. Catarina de Siena era anoréxica. A diferença é que hoje a eficiência do diagnostico melhorou”, lembra. “Não tem nada a ver dizer que é uma doença ligada à magreza das modelos.”

Sintomas de mal-estar

O psicanalista Jean-Michel Huet, especializado em distúrbios alimentares, afirma que, mesmo entre as modelos, a anorexia é rara. A bulimia e outros transtornos como a ortorexia, a obsessão por uma alimentação saudável, são mais comuns.

“A anorexia não é apenas um problema alimentar: é, antes de mais nada, um problema social. Tradicionalmente, os humanos comem juntos, e assim que você tem problemas alimentares, você tem problemas sociais. E quando, na adolescência, você se não se sente bem, a melhor coisa fazer para se proteger das relações sociais é não comer”, explica.

Apologia na internet

Em sites e blogs na internet, um fenômeno preocupa particularmente as autoridades, o movimento pro-ana – onde Ana não é um nome, mas um diminutivo de anorexia. O objetivo é trocar dicas sobre como gastar o máximo possível de calorias - até quando já não há mais quilos para perder.

Mas para a presidente da federação francesa, as páginas poderiam se tornar uma via de contato com adolescentes em busca de ajuda. “Na verdade, em vez de diabolizar esses sites, o mais importante seria aproveitá-los, até porque os sites não vão deixar de existir. O melhor é termos uma presença inteligente na internet: abrir fóruns com psicólogos, para tentarmos entrar em contato com essas jovens através da internet.”

Classe social

Jean-Michel Huet observa que, através da magreza, as pacientes buscam a aceitação social. “Na nossa sociedade atual, ser magra significa ter um certo status. Quem é gordo são os pobres, ao contrário de um século atrás, quando os ricos eram gordos. Hoje, para mostrar que somos de uma determinada social, é preciso ser magra”, ressalta.

Os especialistas advertem que cada vez mais profissionais do esporte e das artes sofrem de anorexia. Na França, a doença é a segunda maior causa de mortes de adolescentes e jovens, atrás dos acidentes de trânsito.
 

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