Jornais franceses veem Grécia à beira do abismo
Os jornais desta segunda-feira (29) demonstram grande preocupação com a perspectiva de saída da Grécia da zona do euro e a turbulência decorrente de um calote da dívida grega já nesta terça-feira. O jornal Libération chama o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, de "irresponsável" por ter convocado um referendo sobre as reformas exigidas pelo Eurogrupo.
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Em seu editorial, o Libération afirma que nada é mais legítimo, em princípio, do que convocar os gregos para decidir sobre seu futuro na zona do euro. Porém, o jornal critica a forma como Tsipras está convocando os gregos a rejeitar o ultimato dos credores.
Segundo o Libération, Tsipras cedeu aos partidos de extrema-direita e ao neonazista Aurora Dourada, que no Parlamento apoiam a coalizão de governo do Syriza, concedendo o referendo no momento em que um acordo sobre a dívida era iminente. "Tsipras é irresponsável quando diz aos gregos que eles podem rejeitar as reformas exigidas pelos credores que nada vai mudar para a Grécia na zona do euro," escreve o diário.
Libération considera que os europeus farão o possível para manter a Grécia na zona do euro, porque uma desestabilização duradoura do país, vizinho da Turquia e do instável Oriente Médio, teria consequências imprevisíveis para o resto do continente.
Cenário se houver calote
Segundo Libération, se o FMI reconhecer o default de pagamento da Grécia, o país vai enfrentar uma espiral infernal. No dia 30 de julho, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES), que é o principal credor da Grécia e constituído de países da zona do euro, poderá exigir o reembolso imediato de toda a dívida grega.
O montante, nesse caso, será de € 150 bilhões. Atenas não terá esse dinheiro, logicamente, então toda a dívida grega estará em situação de default. A dívida grega perderia todo o seu valor. Como os bancos gregos estão repletos desses papéis, eles estariam falidos.
As manchetes são dramáticas na maioria dos jornais. O diário econômico Les Echos diz que "a Grécia ruma para o caos". Para o jornal, o país entrou em um processo de declínio fatal. Se confirmado o cenário de saída da zona do euro, a Grécia irá trocar a boa moeda, que seria o euro, por uma ainda pior, a dracma, extremamente fraca.
Le Figaro afirma que a Grécia "está à beira do precipício". Segundo o jornal, a Grécia vive uma situação de tragédia anunciada, porque o país, na verdade, "nunca deveria ter entrado na zona do euro". O diário conservador lembra que para se compartilhar uma moeda única, os países de um bloco econômico precisam ter um grau de competitividade compatível, aceitar a cobrança de impostos e praticar o equilíbrio fiscal.
Essas regras são aceitas pelos demais países da zona do euro, por mais dolorosas que sejam, mas não pela Grécia. Como a Europa não quer que o euro fracasse, vários países aceitaram o remédio amargo. Atenas terá de escolher seu futuro, conclui Le Figaro.
O diário popular Aujourd'hui en France vê a Grécia "à beira do naufrágio". "Se a Grécia der um calote no FMI, o governo grego não poderá mais tomar empréstimos nos mercados", lembra um especialista ouvido pelo jornal. O país não terá mais dinheiro para pagar o funcionalismo nem as pensões de aposentadoria.
Quanto ao risco de contágio para outros países da zona do euro, Aujourd'hui en France afirma que as autoridades francesas estão confiantes "porque o PIB da Grécia representa apenas 2% do PIB da zona do euro, e os riscos financeiros de 2012 não são mais os mesmos em 2015 ".
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