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O Mundo Agora

Repressão não vai diminuir número de candidatos ao exílio na Europa

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Durante quanto tempo a Europa vai continuar ignorando o drama de dezenas de milhares de imigrantes e refugiados que chegam quotidianamente, arriscando a pele e a vida? Milhares já morreram afogados nas águas do Mediterrâneo, empilhados em embarcações improvisadas, vítimas da ganância dos traficantes. Outros tantos – homens, mulheres e crianças – se dilaceram no arame farpado anavalhado das fronteiras balcânicas ou dos enclaves de Ceuta e Melilla. Agora é a vez do Eurotúnel que liga a França à Inglaterra. Na cidade de Calais, levas de jovens africanos e árabes pulam uma cerca perigosíssima para tentar entrar num caminhão com destino a Londres. O noticiário está repleto de histórias trágicas e insuportáveis.

Polícia francesa intercepta migrantes clandestinos perto do acesso ao Eurotúnel, em Calais, na França, neste 3 de agosto de 2015.
Polícia francesa intercepta migrantes clandestinos perto do acesso ao Eurotúnel, em Calais, na França, neste 3 de agosto de 2015. REUTERS/Pascal Rossignol
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Enquanto isso, a região mais democrática, mais solidária e mais civilizada do planeta só tem uma resposta: repressão. Mais policiais na entrada do Eurotúnel, mais navios de guerra para impedir a chegada dos migrantes por mar, construção de um muro na fronteira húngara.... Como se o porrete fosse uma solução.

O argumento é que se os migrantes forem acolhidos de maneira mais humana, isso vai provocar uma enxurrada de novas tentativas. Só que isso não faz sentido: as dezenas de milhares de pessoas que arriscam vida e a de suas famílias para pôr um pé no sonho europeu mostram que estão dispostas a enfrentar qualquer tipo de obstáculos. Mais ou menos repressão não vai nem diminuir nem aumentar o número de candidatos ao exílio. Quem quer vir já está vindo e vai continuar.

Diante desses dramas sem fim, os dirigentes europeus finalmente decidiram discutir o assunto de maneira coletiva. Até agora, a gestão do problema era abandonada covardemente aos países situados na primeira linha: a Itália, a Grécia e a Espanha no Mediterrâneo, ou a Hungria nos Bálcãs.

A França também não pode ignorar a questão já que está obrigada a administrar a concentração de migrantes em verdadeiras favelas na costa em frente da Grã-Bretanha. Só que como sempre, os egoísmos nacionais imperam. A Europa está propondo que cada estado membro fique com uma parte proporcional dos que procuram asilo, mas na hora do vamos ver, poucos são os que aceitam a cota definida. Enquanto isso, o morticínio de imigrantes continua na mesma.

É verdade que no meio de uma pesada crise econômica não é fácil para os governos europeus integrar milhares de pessoas sem ter a possibilidade de oferecer-lhes emprego e condições decentes de vida. Mas até esse argumento é meio fajuto. Comparado aos 500 milhões de europeus, o número de imigrantes que chega é uma gota d’água. E além do mais, eles não ficam nos países onde não há perspectivas de trabalho.

O “rush” para a Grã-Bretanha ou para a Alemanha se explica justamente pelas possibilidade de emprego. Poucos são os que querem permanecer numa Europa do Sul que não sabe o que fazer com os próprios desempregados. Mas o pior é que qualquer tipo de política migratória na Europa é hoje refém dos pequenos movimentos nacionalistas e racistas. Com medo de ver aumentar os votos nesses grupos xenófobos, os dirigentes europeus estão paralisados. E às vezes até tomam decisões estúpidas e desumanas achando que podem conter a força dos nacionalismos chauvinistas dando-lhes o que estão pedindo. Ledo engano! Isso só faz aumentar a legitimidade e a popularidade dessas atitudes extremistas.

A Europa hoje está cada vez mais imprensada entre o nacionalismo raivoso e a pressão inelutável dos pobres do planeta fugindo das guerras e da miséria. Todos sabem que não há uma solução milagrosa, mas os dirigentes europeus também sabem que precisam de uma mão de obra estrangeira jovem para dinamizar a economia de um continente que está rapidamente envelhecendo.

Qualquer que seja a solução, ela terá de começar por uma política de acolhida decente e humana que acabe com essa hecatombe repugnante de jovens imigrantes. E também deverá por em marcha um plano de desenvolvimento econômico sério para a África. É só quando os países pobres começarem a oferecer oportunidades às suas populações que os jovens deixarão de arriscar tudo para fugir das insuportáveis tragédias de suas terras de origem.

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