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Linha Direta

Crise política une libaneses de partidos e religiões diferentes

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A chamada crise do lixo é somente a ponta do iceberg da crise no Líbano. A campanha por uma solução ao problema da coleta de lixo se transformou recentemente em um amplo movimento contra a corrupção e o atual sistema político no país.

Manifestantes protestam contra política do Estado em uma rua perto do palácio do governo no centro de Beirute, no Líbano 29 de agosto de 2015.
Manifestantes protestam contra política do Estado em uma rua perto do palácio do governo no centro de Beirute, no Líbano 29 de agosto de 2015. REUTERS/Jamal Saidi
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Tarik Saleh, correspondente da RFI Brasil em Beirute

No último sábado (29), mais de 15 mil pessoas compareceram às manifestações anti-governo. Embora ainda um número pequeno, se comparado com o poder de mobilização dos partidos políticos, o movimento vem ganhando cada vez mais adesões e já inclui diferentes classes sociais de várias regiões do país.

O primeiro-ministro libanês, Tammam Salam, alertou a elite política que se os protestos continuarem a crescer, o governo poderá entrar em colapso, o que elevaria a insegurança e a crise no Líbano.

O principal grupo organizador destes protestos é formado por jovens ativistas que iniciaram uma campanha nas redes sociais exigindo uma solução para a coleta de lixo, que inundou as ruas da região metropolitana de Beirute.

Eles são jovens, de classe média, profissionais liberais e universitários, uma nova geração de libaneses cansada com o que eles chamam de incompetência política e o sistema político feudal do Líbano, em que pais passam o poder aos filhos ou aliados.

União de opostos

O que mais chama a atenção neste movimento é a capacidade de reunir, como poucas vezes no país, cidadãos de grupos religiosos diversos, inclusive simpatizantes de partidos opostos. No Líbano, os partidos são divididos praticamente de acordo com as linhas sectárias e isso reflete nas instituições públicas e sociedade.

Mas cansados de negligência do governo, injustiça social e corrupção, pessoas de outros movimentos sociais, classes de trabalhadores, artistas, jornalistas, professores, e até mesmo políticos independentes se juntaram aos protestos para exigir reformas.

Muitos manifestantes gritam a palavra revolução, mas até que ponto o objetivo é derrubar o sistema político atual? Quais são as reivindicações?

Os manifestantes gritam palavras de ordem contra o sistema político vigente, mas o cerne do movimento já declarou que seus objetivos principais são exigir serviços básicos como água, luz e coleta de lixo, combate à corrupção, empregos, um presidente eleito e novas eleições parlamentares.

Os organizadores se mostram conscientes que um colapso do governo seria prejudicial ao país mas, ao mesmo tempo, eles exigem mudanças e não dão sinais de que recuarão. Vale lembrar, que o país enfrenta constantes cortes de energia que somadas podem chegar a 9 horas diárias. Há deficiência no fornecimento de água e, é claro, a coleta e a reciclagem de lixo é deficiente. Somado a isso, a corrupção afeta visivelmente o dia a dia dos cidadãos e muitos jovens libaneses emigram a outros países à procura de emprego e de uma vida melhor.

Classe política é protestos

Cada vez mais fica óbvio e latente o grande abismo entre a população em geral e a classe política. As declarações de parlamentares, ministros e outros mostra um certo senso de negação, de que não enxergam ou não querem enxergar os inúmeros problemas sociais que afligem o país.

No início, deram pouca importância aos protestos, amparados pelo sistema sectário e patronal no Líbano. Mas agora se sentem ameaçados e temem que um aumento das manifestações em proporções muito maiores poderia significar um fim ao seu monopólio político.

Outros políticos admitem os problemas, mas apenas apresentam discursos demagogos que só aumentam a ira dos manifestantes. Em debates nas emissoras libanesas, ativistas acusam os políticos não apenas de corrupção, mas também de incompetência e clara falta de habilidade para exercer seus cargos.

Há, agora, uma mobilização entre os partidos para chegarem a um consenso e elegerem o presidente do país e também resolver os problemas mais urgentes exigidos pelos manifestantes. Segundo analistas, os partidos esperam que ao atender a algumas das reinvindicações, o movimento antigoverno perca folêgo.

 

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