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Linha Direta

Ao contrário de Espanha e Grécia, austeridade pode reeleger direita em Portugal

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A dois dias das eleições legislativas de domingo (4), das quais sairá o novo primeiro-ministro de Portugal, ainda não existe um cenário claro do resultado. Apesar de a coalizão de direita do atual governo de Passos Coelho estar à frente nas pesquisas, corre o risco de não governar, caso não consiga uma maioria, mesmo tendo mais votos.

Primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho.
Primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho. REUTERS/Rafael Marchante
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Correspondente da RFI Brasil em Lisboa, Adriana Niemeyer.

A coalizão Portugal à Frente (PAF) tem quatro pontos a mais que os socialistas, segundo as últimas sondagens, que apontam 37% e 34% das intenções de votos, respectivamente. Mas os socialistas, sozinhos, sem coalizão, deverão ter a maioria das cadeiras no parlamento e poderão, portanto, rejeitar a formação de um governo composto por dois partidos de direita que, individualmente, tenham menos votos que os próprios socialistas.

Tanto é que, há somente dois dias, o premiê Passos Coelho falou pela primeira vez sobre a “possibilidade de uma maioria de esquerda” que, segundo ele, provocaria um caos e um cenário de “instabilidade” no país.

Vendo que o voto dos indecisos tem se dirigido aos partidos menores da esquerda como o CDU dos comunistas, do Bloco de Esquerda - que nas pesquisas é o que tem mais crescido - e o Livre, não seria nada difícil que surgisse uma coalizão de esquerda, já que os dois últimos se mostraram abertos a um diálogo com os socialistas após as eleições.

“Podemos” português

Mas mesmo com o crescimento da esquerda, não surgiu em Portugal um fenômeno como o Podemos, na Espanha, ou o Syrisa, na Grécia, apesar do país de ter vivido os últimos anos com ajuda externa e com planos econômicos de austeridade. O Bloco de Esquerda - que tem duas candidatas carismáticas, jovens e inteligentes, Catariana Martins e Mariana Mortágua - apresentou um bom crescimento nas pesquisas, mas não existe em Portugal o fenômeno Podemos ou Syriza, apesar do Bloco receber o apoio tanto do partido espanhol como do grego.

O Bloco de Esquerda surgiu há 10 anos da cisão de uma ala do partido Comunista e chegou a ter 16 deputados em 2009. Porem dois anos depois perdeu a metade por não ter conseguido diferenciar-se dos comunistas.

Foi, junto aos comunistas, um dos partidos que mais se confrontou no parlamento com o governo de direita nos cortes salariais e das aposentadorias. Mas agora se diferencia deles porque não quer sair do euro e não fecha as portas a uma possível coalizão de esquerda com os socialistas, desde que certos princípios sejam respeitados.

Também a situação de instabilidade da Grécia com o Syrisa, por exemplo, não tem ajudado muito a esquerda mais radical. Mas mesmo assim pode-se dizer que o crescimento do Bloco de Esquerda é a grande novidade na campanha das legislativas.

Projetos parecidos

Os programas de governo das duas forças tradicionais que lideram as pesquisas, propriamente ditos, nem são assim tão diferentes. Ambos falam em mais justiça social, menos impostos para as famílias e reforma na Seguridade Social.

A coalizão de direita tem a seu favor alguns índices econômicos que tem melhorado, no último ano, depois de tantos cortes sociais, apesar de o país ainda viver numa grande crise. Fala em crescimento econômico sustentável e aprovado pelos parceiros da União Europeia, o que daria estabilidade à economia do país.

As medidas de estímulo a economia estão centradas na criação de emprego, competitividade das empresas e nas exportações. Mas o objetivo mais ambicioso para a coalizão é o de reduzir a taxa de desemprego de 13% para a média europeia de 9,6%.

Os socialistas reconhecem que a evolução demográfica agravou o problema de sustentabilidade e propõe, como resposta, a mobilização de novas fontes de receita para a Seguridade Social. Apontam para a transferência de parte da receita do Imposto de Renda para a Seguridade Social, bem como a criação de um novo imposto sobre heranças de valor elevado, além da captação de uma taxa adicional penalizando as empresas que tem uma rotatividade excessiva de trabalhadores.

Confronto

Os socialistas tentam lembrar os eleitores que a direita não cumpriu as promessas eleitorais e foi a responsável pela redução de salários e vários cortes na saúde, educação e ajuda sociais, rebaixando em muito o nível de vida da classe trabalhadora portuguesa. E provocando um grande fluxo de emigração. Tentam passar a imagem de que o atual premiê é “mentiroso”.

A coalizão de direita acusa os socialistas de “incompetentes”, que levaram o país a pedir ajuda externa do FMI, União Europeia e Banco Europeu. E apontam, sempre que têm oportunidade, os erros do governo do ex-premiê socialista José Sócrates, que está em prisão preventiva há quase um ano, sem que a acusação de corrupção tenha sido comprovada. Sócrates se tornou um verdadeiro fantasma para a campanha socialista.

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