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A Semana na Imprensa

Nova militância na França reflete inconformismo e desejo de mudança

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Um novo fenômeno vem se delineando na França nos dois últimos meses: a militância de jovens organizados, cada vez mais numerosos, que não hesitam em varar a noite na Praça da República, em Paris, para denunciar um sistema que nubla suas perspectivas de futuro e de modelo sócio-político. A atualidade é analisada pelas revistas M, a semanal do jornal Le Monde, e L'Obs.  

M/L'OBS
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A revista l'Obs lembra que tudo começou em Paris em 23 de fevereiro deste ano, na Bolsa do Trabalho, quando os franceses  manifestaram sua revolta com a chamada Lei El Khomri, projeto de lei da ministra do Trabalho Myrian El Khomri, que reforma as leis trabalhistas. Desde 31 de março, centenas de pessoas, a maioria jovens, ocupam durante toda a madrugada a Praça da República da capital, em um movimento chamado "Nuit Debout", "Em pé a noite toda", em tradução livre.
Convocados nas redes sociais, 4 mil já passaram a noite na praça. E a mobilização contra a reforma da lei trabalhista não deixou ninguém indiferente.

Quem vira a noite na Praça da República em Paris?

Estudantes, associações de proteção dos sem-teto, ecologistas, anticapitalistas, cada categoria tem suas próprias reivindicações, que se confundem e dificultam a estruturação de um discurso comum, diz a reportagem. "Queremos nos reapropriar da política", afirma uma professora desempregada. "Mas como?"

Entre denúncias do fracasso da ordem institucional ao apelo à desobediência civil, passando pela acusação das mídias "compradas", o movimento é eclético e espontâneo, diz L'Obs, fazendo um paralelo entre o movimento francês e os Indignados espanhóis. A diferença é quanto ao número de participantes: milhares na Espanha, e algumas centenas em Paris.

Entrevistado, o diretor de pesquisas do CNRS, Albert Ogien, reflete que foi preciso um período de dois anos para que o partido Podemos nascesse na Espanha, tempo para que o movimento se transformasse em formação política.
L'Obs constata que ainda é muito cedo para prever o futuro do "Nuit Débout", mas publica a declaração da manifestante francesa Vera, que lembra: "Na Porta do Sol, em Madri, eram poucos no começo, mas rapidamente se tornaram 5 mil. Temos que manter esse objetivo aqui em Paris", diz a entrevistada.

Estudantes de Rennes super mobilizados

"M", a revista do Le Monde, analisa a nova militância estudantil concentrando-se em Rennes, cidade universitária no noroeste do país. A publicação constata que os jovens vão muito além da manifestações e assembleias, utilizando as redes sociais, ateliês e solidarizando-se com as viradas na Praça da República.

A reportagem de quatro páginas verifica que hoje as universidades não são mais o primeiro lugar de politização dos jovens, mas sim as associações, que deixaram para trás partidos e sindicatos. Como exemplo, é citado o caso da estudante Amélie Terreaux, militante feminista, lésbica, que preferiu entrar para a associação Visão Comum, por não encontrar representação na sua luta nos partidos e nos sindicatos. Albane Buriel, outra estudante, fundou a associação "Ateliê do Sonho" dedicada a realizar sonhos de crianças refugiadas. Ela se diz decepcionada com as propostas dos partidos.

O sociólogo Albert Ogien fecha a matéria da "M" analisando que os estudantes compartilham um sentimento comum de desencanto diante da política e a primazia de objetivos puramente eleitoreiros. Hoje, eles querem mais democracia.

 

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