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"O kimono vernacular é o sweatshirt de hoje": Gustavo Lins, estilista

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O estilista brasileiro Gustavo Lins vive em Paris há 27 anos. Nesta entrevista, ele nos fala de seu começo em Paris, dos momentos importantes de sua carreira, das dificuldades e dos belos projetos que marcam o seu recomeço, com uma nova loja e uma nova coleção.

Gustavo Lins, estilista brasileiro radicado em Paris
Gustavo Lins, estilista brasileiro radicado em Paris LC
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Gustavo Lins chegou em Paris como estilista independente e trabalhou em diversas grifes famosas, entre elas, Jean-Charles de Castelbajac, John Galliano, Kenzo, Louis Vuitton, Guy Laroche, Agnès b. e Jean-Paul Gaultier Couture. Formado em arquitetura, mas apaixonado por alfaiataria, ele conquistou o seu espaço na capital da moda com esse "savoir faire". "Eu me formei em arquitetura, mas aprendi o ofício de alfaiate como modelista e como costureiro na máquina, e trabalhei fabricando diversos protótipos. Rapidamente, eles viram que eu tinha uma maneira especial de trabalhar e tive a sorte de trabalhar com vários nomes", diz Gustavo.

O estilista criou a sua marca de prêt-à-porter em 2003, sendo uma de suas fontes de inspiração, o Japão. Será que hoje os kimonos e os trajes nipônicos ainda o inspiram? "Sim, muito! Mas o que mais tem me inspirado ultimamente é a cultura do swetshirt. A última coleção que fiz se chama "Linha 4" do metrô parisiense, que liga a Porte d'Orleans à Porte de Clignancourt. Essa linha liga o sul ao norte de Paris, então, você passa por todas as camadas sociais da cidade, todos os extratos sociais da cidade, com os códigos estéticos que vão junto. Então, foi uma lição de sociologia, eu levei um ano e meio percorrendo essa linha. E o kimono, que é uma roupa vernacular no Japão, é o sweatshirt que nós usamos hoje, que os jovens, que todo mundo usa hoje. Essa é a nova direção que estou dando ao meu trabalho", ele explica.

Couro, algodão, seda, crepe, são os tecidos utilizados nos sweatshirts de Gustavo Lins, na sua releitura contemporânea do kimono japonês.

Recomeçar e se adaptar aos novos tempos

O nosso entrevistado foi o primeiro latino-americano a se tornar membro permanente da Câmara Sindical da Alta-Costura de Paris, em 2011, passando a apresentar suas coleções com o selo alta-costura nas Semanas da Moda da cidade. Ele nos conta o que aconteceu a partir daí e fala da herança que essa experiência lhe deixou.

"Alta costura é um bastião do século 20, e o século 20 acabou"

"Foi muito importante (...). Ter sido eleito membro permanente da Câmara Sindical é por mérito, então, isso faz parte do meu currículo, da minha história, mas não foi muito bom. Eu tive um acidente de percurso, tive que rever toda a minha história, estou recomeçando toda a minha vida profissional com essa bagagem que ninguém pode tirar de mim, (...) mas hoje estou muito mais bem armado para enfrentar a nova economia, a mudança que o mundo está atravessando. A alta-costura ainda é um bastião do século 20 e o século 20 acabou, temos que nos projetar neste novo século", diz o criador, lembrando que a campanha eleitoral francesa está mostrando exatamente como o século 20 está sendo enterrado. "Quero guardar tudo do passado com muito carinho, mas quero olhar para a frente, e o que tem pela frente é uma aventura muito interessante", observa

Gustavo Lins acabou de abrir no bairro do Marais, em Paris, uma loja-galeria; ele tem um projeto com um grupo japonês envolvendo uma técnica com 4.000 anos de know-how, além de trabalhar com a Maison Hermès no projeto "petit h", em que é reciclada a matéria-prima que não passa no controle de qualidade.

Ele também acaba de lançar uma coleção transgênero, de tamanho único, e sem idade como alvo. Abrir um novo espaço e vender diretamente ao público seus artigos, é uma estratégia para diminuir os preços e dar, ao maior número possível de pessoas, a possibilidade de ter acesso a roupas de alta qualidade. "Estou muito preocupado com a evasão do know how, e na França temos um know how muito forte em confecção e costura, é importante a gente trabalhar aqui, na França", conclui Gustavo Lins.

 

 

 

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