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Afeganistão/MSF

Um dia depois de bombardeio contra hospital, MSF retira todo seu pessoal de Kunduz

A organização francesa Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou neste domingo (4) a retirada de todo seu pessoal de Kunduz, um dia depois que um bombardeio, supostamente americano, matou 19 pessoas no hospital que a ONG gerenciava na cidade afegã. O fechamento deste centro terá graves consequências para a população civil, encurralada pelos combates entre o exército afegão auxiliado pelas forças da Otan e os rebeldes talibãs para assumir o controle da cidade.

Foto fornecida pela MSF mostra o prédio do hospital em chamas
Foto fornecida pela MSF mostra o prédio do hospital em chamas AFP PHOTO / MSF
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"O hospital já não pode continuar funcionando", informou Kate Stegeman, porta-voz da organização no Afeganistão. "Os pacientes em estado crítico foram transferidos para outros estabelecimentos. Nenhum funcionário da MSF continua no hospital. Neste momento, não sei dizer se o centro de traumatologia de Kunduz voltará a abrir", afirmou. Esse centro era a única instalação médica na região capaz de tratar lesões graves.

Crime de guerra

Em comunicado emitido neste domingo, a Otan anunciou a abertura de uma investigação independente, cujos resultados devem ser apresentados "dentro de alguns dias". O diretor geral da ONG, Christopher Strokes declarou que "diante da forte evidência de que um crime de guerra foi cometido, a MSF exige que uma investigação completa e transparente seja realizada por um organismo internacional independente. O inquérito interno de uma parte do conflito não bastará", estimou.

No sábado, Barack Obama prometeu uma investigação exaustiva sobre o bombardeio, que matou 12 empregados da MSF e sete pacientes, entre eles três crianças. O presidente americano apresentou suas "profundas condolências", mas afirmou que vai esperar pelos resultados da investigação antes de emitir um juízo definitivo sobre as circunstâncias da tragédia.

O ataque deixou o prédio em chamas e dezenas de pessoas gravemente feridas. Fotografias publicadas pela MSF mostram funcionários da ONG em estado de choque. Segundo a MSF, o bombardeio prosseguiu por mais de 30 minutos depois que a ONG avisou aos exércitos americano e afegão que estava sendo atingida. No momento do bombardeio, 105 pacientes e pessoal sanitário e mais de 80 funcionários estrangeiros e locais se encontravam no hospital.

O alto comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Zeid Ra'ad Al Hussein, pediu uma investigação completa e transparente dos fatos, e assinalou que, diante de uma corte de Justiça, "o bombardeio a um hospital pode ser considerado crime de guerra". "Este fato é totalmente trágico, indesculpável e, inclusive, criminoso", acrescentou Zeid em um comunicado.

O secretário de Defesa americano, Ashton Carter, afirmou que foi aberta uma "investigação exaustiva" sobre o bombardeio, mas não informou se o ataque foi realizado pelas forças americanas. Carter assinalou que "as forças americanas, em apoio às forças de segurança afegãs, operam perto do local, assim como os talibãs".

Danos colaterais

O Ministério da Defesa afegão, por sua vez, lamentou o ataque, mas informou que "um grupo de terroristas armados vinha usando o prédio do hospital como posição para atingir forças afegãs e civis". O diretor geral da ONG refutou essa hipótese no comunicado deste domingo: "Nenhum membro de nossa equipe alertou sobre combates no interior do hospital da MSF antes dos ataques aéreos americanos do sábado de manhã".

Outra declaração que revoltou os Médicos Sem Fronteiras foi dada pelo coronel Brian Tribus, porta-voz da missão da Otan no Afeganistão: "As forças americanas realizavam um ataque aéreo em Kunduz contra pessoas que ameaçavam as forças da coalizão, o que pode ter provocado danos colaterais em um centro médico nas proximidades do alvo".

Em comunicado, a presidenta da MSF, Meinie Nicolai, disse que não se pode aceitar que "horríveis perdas em vidas humanas sejam classificadas como simples 'danos colaterais'". Christopher Strokes insistiu que "o prédio principal do hospital foi atingido seguidas vezes, em ataques muito precisos a cada um dos bombardeios, enquanto o resto do complexo foi poupado".

Em comunicado, os talibãs acusaram "as forças americanas bárbaras" de terem realizado o ataque contra o hospital "de forma deliberada, matando e ferindo dezenas de médicos, enfermeiras e pacientes".

Terror talibã

Kunduz está mergulhada numa crise humanitária, com milhares de civis encurralados pelo fogo cruzado das duas forças, as tropas do governo e os rebeldes talibãs. No momento, não se conhece o número preciso de vítimas dos combates, mas autoridades disseram no sábado que ao menos 60 pessoas morreram e 400 ficaram feridas.

Desde que foram expulsos do poder, em 2001, por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, os talibãs concentram seus ataques em seus redutos do sul. Mas no últimos meses, reforçaram suas posições na zona de Kunduz, uma cidade estratégica na rota para o Tadjiquistão.

O Exército assegurou ter recuperado o controle de Kunduz, o que está longe de significar uma vitória a longo prazo de Cabul contra os talibãs. Durante três dias de ocupação, muitos moradores fugiram, e a possibilidade de retorno ao regime fundamentalista dos talibãs (1996-2001) assustou especialmente as mulheres.

A breve tomada de Kunduz, de 300 mil habitantes, constituiu o primeiro grande êxito do novo líder dos talibãs, o mulá Akhtar Mansur, nomeado após o anúncio, em julho, da morte de seu antecessor, o mulá Omar. A designação provocou divisões internas no grupo.

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