Diplomatas iranianos devem deixar Arábia Saudita em 48h
A Arábia Saudita deu um prazo de 48 horas para o corpo diplomático iraniano deixar o país. O anúncio foi feito pelo chanceler Adel Al-Jubeir. Riad rompeu na noite de domingo (4) as relações com Teerã em represália às ações violentas contra representações diplomáticas sauditas no Irã. Manifestantes atacaram os edifícios sauditas revoltados com a execução do clérigo xiita Nimr Baqer al-Nimr, no sábado (2).
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Na noite de sábado, a embaixada saudita em Teerã foi incendiada com coquetéis molotov e o consulado em Machhad, no nordeste do país, foi atacado. Cerca de 40 pessoas foram detidas. O xeque Al-Nimr, de 56 anos, era um crítico ferrenho da dinastia sunita Al-Saud, no poder em Riad. Ele foi um dos líderes de um movimento de contestação que eclodiu em 2011 no leste do país, cuja população é majoritariamente xiita. Ele foi executado com outras 46 pessoas condenadas por terrorismo.
O ministério das Relações Exteriores do Irã declarou que o rompimento diplomático não irá apagar o "erro estratégico" pela execução do líder religioso e acusa Riad de agravar as tensões na região. O presidente iraniano, Hassan Rohani, condenou a execução de Al-Nimr, mas considerou "injustificáveis" os ataques contra as representações diplomáticas. Já o aiatolá Ali Khamenei, chefe religioso do Irã, afirmou que "a mão divina" irá vingar os dirigentes sauditas.
O especialista Thierry Coville, do Instituto de Relações Internacionais Estratégicas (IRIS), de Paris, lembra que Khamenei tinha tomado uma certa distância em relação aos xiitas mais radicais ao aceitar o acordo nuclear com os Estados Unidos. Porém, com essa declaração evocando vingança, o guia supremo xiita busca recuperar legitimidade e se aproxima da ala mais radical, avalia Coville. Os radicais xiitas ainda estão presentes no Parlamento iraniano. O especialista lembra que o Irã tem eleições legislativas marcadas para fevereiro e os mais radicais não querem perder o poder.
Vários países árabes como o Catar e o Egito apoiam o governo saudita. Os Estados Unidos pediram que os líderes acalmem as tensões.
Ruptura já aconteceu no passado
A crise diplomática aberta entre as duas potências sunita e xiita do Oriente Médio pode ter um desfecho perigoso para a região. Pelo menos nas últimas três décadas, a Arábia Saudita e o Irã defenderam posições opostas na Síria, no Iraque, Iêmen, Bahrein ou ainda no Líbano.
Esta é a segunda vez que os dois países muçulmanos irmãos, e ao mesmo tempo inimigos devido a interpretações religiosas divergentes do Alcorão, rompem suas relações. A primeira vez foi em 1987, após uma onda de violência durante a peregrinagem a Meca. O esfriamento durou quatro anos.
Aos olhos do Irã, a Arábia Saudita apoia grupos extremistas sunitas, principalmente na Síria. Já na primeira declaração oficial após o anúncio da ruptura das relações, Teerã acusou Riad de procurar agravar as tensões na região e acrescentou que essa decisão não irá apagar o "erro estratégico" da execução do clérigo xiita.
"A Arábia Saudita baseia sua existência na continuidade das tensões e dos enfrentamentos, e tenta resolver seus problemas internos exportando-os ao exterior", disse Jaber Ansari, porta-voz da diplomacia iraniana.
O vice-ministro de Relações Exteriores iraniano, Amir Abdollahian, acrescentou que a família real saudita também "age contra seu próprio povo e outros países muçulmanos da região ao articular um complô para baixar os preços do petróleo". Nos últimos meses, o Irã acusou a Arábia Saudita de aumentar a produção de óleo para criar um excedente e forçar a queda nos preços em escala mundial. Essa estratégia desequilibrou a economia saudita e tem impactos sobre a generosa política social do governo.
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