Turquia recusa presença de curdos nas negociações de paz sobre a Síria
A Turquia não participará das negociações de paz sobre a Síria, que começam na sexta-feira (29) em Genebra, caso os curdos sírios do Partido da União Democrática (PYD) participem das discussões. O anúncio foi feito nesta terça-feira (26) pelo ministro turco das Relações Exteriores, Mevlüt Cavusoglu.
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"Se o PYD for convidado às negociações de Genebra, claro que as boicotaremos", declarou Cavusoglu durante uma entrevista ao canal turco de televisão NTV. O ministro ressaltou que Ancara considera o PYD como uma "organização terrorista".
Durante a entrevista, Cavusoglu ainda questionou: "Qual seria a classificação do PYD na mesa [de negociações]? Será que uma organização pode ser considerada como representativa do povo? Essas negociações reúnem o regime e a oposição, não as organizações terroristas".
As declarações do ministro turco das Relações Exteriores fazem eco às do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu. Ele já havia recusado categoricamente a presença do PYD e da milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG) nas discussões de Genebra.
Papel da Turquia nas negociações sobre a Síria
A Turquia não participa diretamente dos diálogos entre o regime sírio e a oposição em Genebra, sob a coordenação da ONU, mas tem o papel de observador.
As Nações Unidas enviaram os convites para os grupos participantes da mesa nesta segunda-feira (25), mas sem especificar quem serão os integrantes. Até o momento, não há nenhuma confirmação se o PYD fará parte das discussões.
Ancara considera o PYD e o YPG como aliados do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), principal oposição ao governo turco. Há cerca de um ano, o governo do presidente turco Recep Tayyip Erdogan fez do combate aos militantes curdos do país sua prioridade.
Curdos fazem frente ao grupo Estado Islâmico
Contraditoriamente, o YPG é uma das principais forças contra o grupo Estado Islâmico na Síria. Os soldados do grupo lutam contra os jihadistas em uma vasta área no norte do território sírio, próximo à fronteira com a Turquia.
A coalizão ocidental liderada pelos Estados Unidos oferece, inclusive, apoio militar aos curdos que lutam na Síria. Mas o governo turco não esconde seu desacordo sobre a ajuda mútua entre o YPG e os ocidentais.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, declarou hoje que as discussões de Genebra não trariam nenhum resultado, caso o PYD não fosse convidado a participar. A Rússia, ao lado do Irã, são os dois únicos aliados que restam do presidente sírio Bashar al-Assad.
As negociações sobre a paz na Síria estavam previstas para começar nesta segunda-feira (25), mas foram adiadas para sexta-feira (29) devido a "um bloqueio" sobre a composição das delegações.
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