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Irã

Por que eleições legislativas do Irã não atrai jovens politizados

Contrariamente aos jovens da década de 70, a nova geração iraniana não tem mais interesse em morrer como mártir e encontrou novas formas de protestar: o silêncio e a abstenção. Com a maioria dos candidatos reformistas desqualificados pelo governo para participar das eleições legislativas desta sexta-feira (26), uma parte da faixa etária entre os 20 e 30 anos - universitária, politizada e não-religiosa -, deve marcar presença boicotando as urnas.

Jovem iraniana passa diante de cartazes de candidatos políticos em Teerã nesta quinta-feira (25).
Jovem iraniana passa diante de cartazes de candidatos políticos em Teerã nesta quinta-feira (25). Behrouz Mehri/AFP
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A um dia de um momento histórico para o país, depois das primeiras eleições desde o acordo nuclear de julho passado e o restabelecimento das relações com o Ocidente, uma boa parte dos jovens está cética sobre a votação. Isso porque o Conselho dos Guardiões da Constituição, entidade religiosa formada por 12 membros, desqualificou recentemente 7 mil dos 12 mil candidatos, a maioria deles de orientação reformista, apoiados pelo presidente Hassan Rohani.

"Para que votar? Não serve para nada", é isso o que alega a maioria dos estudantes da professora universitária Afsaneh, entrevistada pelo jornal Le Figaro. "Apenas dois ou três alunos me disseram que participarão das eleições para receber um carimbo em sua carteira de identidade, imaginando que isso facilitará a busca por um emprego público", explica, revelando que nem ela sabe se também irá às urnas amanhã.

Juventude desiludida

Dos poucos candidatos reformistas que restaram, nenhum deles parece atrair a atenção da juventude iraniana ou parece ser suficientemente engajado para lutar pela nova geração. O chefe da lista progressista, Mohammed Reza Aref, se recusa, por exemplo, a mencionar a repressão do regime, criando mais desilusão entre os eleitores.

Em um comício na capital Teerã para cerca de três mil pessoas, a maioria jovens universitários, Aref foi interrompido durante o discurso por um grupo de manifestantes. Eles queriam saber o que o candidato poderia fazer pelo líder do Movimento Verde, Mir Hossein, em prisão domiciliar há seis anos, proibido de ler qualquer jornal que não seja o do governo, de acessar a internet e até mesmo usar o telefone.

O caso de Mir Hossein é uma espinha atravessada na garganta da juventude iraniana moderna e engajada politicamente, que aspirava verdadeiras mudanças e mais liberdade. A mesma juventude que deve se desiludir ainda mais com a possível vitória de mais líderes conservadores nesta sexta-feira. Ou que se depara com candidatos reformistas como Aref, que mesmo após ser pressionado pelos participantes de seu comício, temeu falar sobre as injustiças enfrentadas por opositores como Hossein.

Resistência tenta mobilizar jovens eleitores

Casado com a professora entrevistada pelo Figaro, Jamchid, 31 anos, ateu e anarquista, nem pensa, como a esposa, na possibilidade de não ir votar amanhã. Sem qualquer relação com nenhum candidato, ele faz campanha pela lista reformista, com o objetivo de barrar os conservadores, maioria no parlamento.

"Além de distribuir material informativo pelas ruas, eu envio mensagens para meu círculo de amigos pelo celular. Aproveito quando tenho que fazer visitas de trabalho a outras empresas para convencer funcionários a irem votar. Passo nos escritórios para avisar as secretárias que elas só poderão continuar usando batom com Rohani e seus aliados no parlamento", diz.

Jamchid tem consciência que Rohani está longe de ser um líder progressista, mas destaca mudanças no país desde que assumiu o poder, em 2013. "É verdade que o presidente é religioso e que a lista reformista não é perfeita mas, com ele, o controle da sociedade foi um tanto aliviado", pondera.

Quase 5 mil candidatos disputam vaga no parlamento

O ministério do Interior do Irã indicou nesta quinta-feira (25) que 4.844 candidatos disputarão os 290 assentos da câmara, entre eles, 500 mulheres. Os colégios eleitorais abrirão às 4h30 GMT (1h30 de Brasília), e devem fechar às 14h30 GMT (11h30 de Brasília).

Na sexta-feira também será realizada a eleição dos 88 membros da Assembleia de Especialistas, um poderoso comitê de clérigos que elegerá o próximo guia supremo. Para o cargo, a briga ficará entre 159 candidatos.

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