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Linha Direta

Testemunhas falam sobre explosão nuclear em Chernobyl 30 anos depois

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O acidente nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, completa 30 anos nesta terça-feira (26). A catástrofe foi a maior da história e responsável pela morte direta de 31 pessoas e a evacuação completa de 120 vilarejos e 135 mil pessoas. O correspondente da RFI, Sandro Fernandes, que mora em Moscou, esteve recentemente em Chernobyl e conversou com pessoas que presenciaram a tragédia.

Trinta anos depois da catástrofe, a área contaminada está invadida por animais selvagens
Trinta anos depois da catástrofe, a área contaminada está invadida por animais selvagens REUTERS/Vasily Fedosenko
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI em Moscou, de Chernobyl

No primeiro dia do acidente, muitas pessoas começaram a ter fortes dores-de-cabeça, a tossir e vomitar muito, de acordo com relatos feitos ao correspondente da RFI, que passou dez dias no local, onde o acesso ainda é restrito. “Elas achavam que fosse alguma virose. Sabiam que tinha acontecido algo em Chernobyl, mas como não havia nenhum anúncio oficial do governo soviético, não imaginavam que seria algo tão grave”, diz. “Outra pessoa me disse que, no momento da explosão, pensou que um avião tinha rompido a barreira do som”.

Outra testemunha conta que logo depois da explosão do reator, ele viu algo estranho, que brilhava muito, e desconfiou que fosse um acidente. Jamais imaginou, entretanto, que seria o maior acidente nuclear da história. A tragédia aconteceu pouco depois da 1 da manhã do dia 26 de abril, mas a evacuação somente começou às 14h do dia seguinte, ou seja, quase 37 horas depois. Os moradores não tinham noção da gravidade do fato, apenas os especialistas e o governo.

O governo soviético disse que seria uma evacuação temporária, de três dias e pediu às pessoas que levassem produtos de primeira necessidade e comida para três dias. Esses moradores nunca mais puderam voltar à região, e a evacuação acabou sendo definitiva. Oficialmente, 31 pessoas morreram no acidente, mas é impossível saber quantos morreram ao longo desses 30 anos em decorrência da forte radiação.

Região virou zona fantasma

Depois do acidente, toda a região se transformou em uma enorme zona fantasma. A cidade de Pripiat, agora razoavelmente conhecida por causa dos filmes produzidos sobre o acidente, era a mais próxima da usina. Pripiat foi construída na década de 70 exatamente para abrigar os trabalhadores de Chernobyl e era uma cidade-modelo para a União Soviética. Quando aconteceu o acidente, quase 50 mil pessoas moravam na cidade. Hoje a cidade está completamente abandonada. As escolas, os edifícios residenciais, o hotel, a sede do governo local, a piscina e, claro, a mítica roda-gigante. Ainda é possível ver os pertences que tiveram que ser deixados pra trás pelas pessoas desalojadas, máscaras usadas na época e muito sinal de destruição.

Em volta disso tudo, uma natureza que renasce, devido à não-intervenção humana em três décadas. O acidente de Chernobyl lançou na atmosfera material radioativo equivalente a entre 100 e 500 bombas atômicas como as de Hiroshima. Juntamente com o acidente de Fukushima, no Japão, em 2011, é o único acidente que atingiu o grau máximo de acidentes nucleares.

Acesso ainda é muito restrito

Chernobyl fica dentro de uma zona de exclusão de 30km de raio, partindo da usina, criada pelos militares soviéticos, logo após o acidente, pra evitar mais contaminação. O setor engloba uma área de 2,600 km2, na Ucrânia e na Belarus (antiga Bielorrússia). Chernobyl fica dentro dessa área, também conhecida como Zona Morta. O acesso é feito através de agências de turismo, que cobram cerca de US$ 100 (350 reais) para um dia de visita à região do acidente. O salário médio na Ucrânia é de menos de US$ 200 por mês.

Dentro da zona de exclusão, ainda moram quase 200 pessoas, que se recusaram a sair, e aproximadamente 4 mil pessoas trabalham na área diariamente, em diferentes atividades: turismo, meio-ambiente e equipes que trabalham no desmantelamento total da usina. A previsão é que a destruição completa termine em 2023, mas os próximos anos são cruciais: o trabalho inclui entrar no reator quatro, que explodiu, e estar exposto a níveis muito mais altos de radiação. Os funcionários podem trabalhar no máximo duas semanas e descansar outras duas, devido à radiação, que ainda é alta no local. Os guias turísticos afirmam, entretanto, ela é inferior à de um voo entre a Ucrânia e o Brasil.

Cubo protege futuras contaminações

Sete meses após o acidente, foi finalizada a construção de um enorme cubo de cimento que protege a região do reator 4, que explodiu. Essa estrutura de cimento foi apelidada de sarcófago, mas tem vida útil de apenas 30 anos. Ele está sendo substituído por um novo sarcófago, que terá com objetivo garantir a não emissão de radiações do reator quatro pelos próximos 100 anos. Essa nova estrutura é um grande arco de aço e chumbo, com 108 metros de altura, 280 de comprimento e 150 de largura. Ele deve ficar pronto até o final deste ano. O novo sarcófago foi financiado pelo Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento, uma instituição de empréstimos sem fins lucrativos, e o custo total do projeto é de 2,15 bilhões de euros (8,6 bilhões de reais).
 

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