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Linha Direta

Repórter da RFI vai à Síria assistir a "sucesso" de operação russa

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Na semana passada, o governo russo convidou um grupo de jornalistas para uma viagem à Síria, onde Moscou realiza operações militares desde o ano passado, sob a desaprovação das potências ocidentais. O correspondente da RFI em Moscou, Sandro Fernandes, participou da incursão e conta com exclusividade os detalhes desta experiência que teve o claro objetivo de mostrar que a campanha militar russa no país de Bashar al-Assad foi "um sucesso".

Aviões de ataque russo, Sukhoi Su-25 decolando da base militar de Hmeimim, na província de Latakia, na Síria.
Aviões de ataque russo, Sukhoi Su-25 decolando da base militar de Hmeimim, na província de Latakia, na Síria. AFP PHOTO / RUSSIAN DEFENCE MINISTRY
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI em Moscou

O Ministério de Defesa da Rússia convidou 120 jornalistas - 90 estrangeiros e 30 russos -, para essa viagem de imprensa à Síria. O convite foi feito por telefone, no dia 30 de abril e a viagem aconteceu na terça-feira seguinte, 3 de março. O governo russo pediu que a decisão a respeito da viagem fosse tomada no mesmo dia do convite e também solicitou o máximo de sigilo.

Somente na manhã da terça-feira, oito horas antes do embarque, os jornalistas foram informados sobre o horário e o local onde se encontrariam para ir à Síria. Nós partimos no dia 3 de maio de um aeroporto militar de Moscou para Latakia, cidade síria onde a Rússia tem uma base militar e ficamos três dias no país.

As incursões aéreas da Rússia na Síria começaram no dia 30 de setembro de 2015, a pedido do presidente sírio, Bashar al-Assad. Em 14 de março deste ano, o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou o fim da missão militar russa e a retirada das tropas do país. Mas, no mesmo mês, intensas operações russas ainda foram feitas, para apoiar o governo de Assad. Moscou alega que as atuais operações russas no país são apenas rotineiras.

Propaganda da campanha militar

Sem dúvidas, a viagem teve como objetivo mostrar que essa campanha militar russa obteve êxito. A Rússia apoiou o exército sírio de Assad e, segundo o governo russo, graças a este apoio, o regime sírio conseguiu controlar o avanço do grupo Estado Islâmico.

A vitória mais importante desses meses de apoio foi a reconquista da cidade de Palmira, um local de grande interesse histórico e arqueológico. O lugar ficou 10 meses sob poder dos jihadistas e foi libertada no fim de março. Os russos argumentam, provavelmente com razão que, sem o apoio de Moscou, os danos a Palmira poderiam ser ainda maiores.

Representantes da Unesco disseram, em Palmira, que eles estavam positivamente surpresos por terem observado que a destruição da cidade é menor do que eles imaginavam, talvez da ordem de 15% do sítio arqueológico. 

No entanto, em coletiva de imprensa a esse grupo de jornalistas, o ministro de Cultura russo declarou que houve 50% de destruição. O dado parece não se confirmar e pode ter sido apenas uma frase de efeito em seu discurso político ou um erro intencional para sugerir uma maior importância ao feito russo de ajudar a reconquista da cidade.

Sinais de bombas e destruição

Na entrada do sítio arqueológico de Palmira, as bandeiras da Síria e da Rússia estão hasteadas ao lado das fotos de Bashar al-Assad e Vladimir Putin. Do lado de fora, na cidade moderna, os sinais de destruição são mais claros, com a grande parte dos edifícios visivelmente atingidos por bombas.

O que deixou os jornalistas ansiosos é a presença do grupo Estado Islâmico a apenas 15 quilômetros de Palmira. Da cidade milenar, era possível ouvir a explosão de bombas e colunas de fumaça.

Neste dia em Palmira, o governo russo organizou também um concerto de música clássica no anfiteatro da cidade histórica, com a orquestra de São Petersburgo. O local foi usado pelos jihadistas para execuções públicas de pessoas que não se adequavam às exigências do grupo terrorista. O concerto de música clássica no anfiteatro foi uma tentativa clara da Rússia para mostrar o sucesso do apoio de Moscou ao Exército sírio e às forças de Bashar al-Assad.

Jornalistas escoltados pelo exército russo

O deslocamento entre Latakia e Palmira impressiononou os jornalistas, escoltados em cinco ônibus pelas forças em 320 quilômetros de trajeto. Diversos tanques participaram da operação, além de pelo menos cinco helicópteros. Todo esse aparato chamou a atenção da população, que acenavam aos repórteres.

Na base em Latakia, os jornalistas assistiram ao ensaio do desfile militar do Dia da Vitória. A data, que a Rússia celebra nesta segunda-feira (9), é uma das mais importantes do país, ao lembrar a vitória soviética contra a Alemanha nazista na II Guerra Mundial.

Devido à presença russa em Latakia, vimos também vários símbolos de Moscou no local. Os supermercados vendem comida russa, os restaurantes mais caros têm menu em russo e vimos até mesmo um restaurante que se chama Moscou e alguns pôsteres com as famosas bonecas matryoshkas.

Visita controlada

Os jornalistas não tiveram acesso à população local de maneira independente porque toda a viagem estava completamente controlada pelo Ministério de Defesa russo. O governo organizou as coletivas, os trajetos e definiu com quem a imprensa falaria.

Em um dos dias da visita, os jornalistas foram levados a um vilarejo na região de Hama para verificar que os sírios apoiam a Rússia. No local, uma centena de pessoas exibiam bandeiras sírias, russas e fotos de Bashar al-Assad.

O governo russo fez uma distribuição de mantimentos, montou um ponto médico e pediu que alguns sírios falassem sobre o conflito. Muitos deles, obviamente, agradeceram à Rússia. Não houve espaço para uma possível crítica ou contestação do apoio russo à Síria de BasharAl-Assad.

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