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Afeganistão/Talibã

Indústria mundial de talco financia os talibãs e o grupo EI no Afeganistão

O jornal Le Monde, que chegou às bancas na tarde desta terça-feira (4), revela que uma parte do talco consumida na Europa e no resto do mundo financia a insurreição talibã e os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) no Afeganistão. Segundo a investigação do vespertino francês, os grupos radicais que atuam no país cobram uma taxa sobre os lucros obtidos com a extração do produto na província de Nangarhar, no sul do país, onde estão localizadas grandes reservas.

O talco consumido nos países ocidentais estaria financiando os talibãs e os jihadistas do grupo Estado Islâmico no Afeganistão.
O talco consumido nos países ocidentais estaria financiando os talibãs e os jihadistas do grupo Estado Islâmico no Afeganistão. Captura de vídeo
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Le Monde lembra que além de produto de beleza, o talco é usado na fabricação de papel, cerâmica e tintas. A reserva do produto na província afegã é considerada uma das mais puras do mundo. O talco afegão é exportado para o mundo inteiro e, além de financiar os talibãs e os jihadistas do EI, alimenta a corrupção no país.

A denúncia do jornal é baseada em um relatório confidencial redigido por uma organização internacional sediada no Afeganistão, que prefere manter seu anonimato. O texto estima que em 2014 as taxas cobradas pelos grupos radicais sobre a extração do talco renderam aos talibãs US$ 22 milhões por ano.

Para o jornal, esse tráfico mostra os desafios de Cabul em matéria de governança. O alerta é feito no momento em que começa em Bruxelas uma conferência de doadores para o Afeganistão. O encontro de dois dias, aberto nesta terça-feira, conta com a participação de 70 países e 30 Ongs.

Produção multiplicada por seis

Até os anos 2000, a produção mundial de talco era dominada pela China. Com o aumento do consumo interno chinês, a produção passou a ser insuficiente. Os industriais buscaram outras reservas e começaram a explorar minas no Paquistão e no Afeganistão. Nesses dois países, a extração do produto foi multiplicada por seis, entre 2010 e 2013.

O mercado é controlado por um grupo italo-paquistanês OMAR/IMI Fabi que, de acordo com Le Monde, pagou um valor fixo por caminhão carregado de talco ao governador da província de Nangarhar, em troca das licenças para a exploração das minas na região. As comissões foram pagas até o último 2 de outubro, data da demissão do governador. As licenças autorizavam a extração de 100 mil toneladas de talco e, na prática, mais de 1 milhão de toneladas foram retiradas.

O diretor-geral da empresa italiana que integra o grupo, Corrado Fabi, nega o pagamento de comissões a autoridades afegãs e garante que, atualmente, todos os grandes produtores mundiais são clientes do Paquistão e do Afeganistão.

Pedágio no transporte até o Paquistão

O pagamento da "taxa" aos insurgentes é feito no momento do transporte do produto da província afegã até o porto paquistanês de Karachi, onde o talco é exportado. "Cada motorista de caminhão recebe um ticket de pedágio que garante a passagem pelas barreiras controladas pelos talibãs", explica Le Monde. A cobrança é feita do outro lado da fronteira, em Peshawar, em um local público.

O relatório confidencial descrito pelo jornal aponta um "sistema informal de transferência de fundos e discreto, fundado na confiança". A taxa é paga em dinheiro por intermediários e os valores podem atingir milhões de dólares. A empresa Omar diz que "proibir as exportações não vai ajudar o Afeganistão, que não tem capacidade de transformar as rochas brancas em talco". "A extração garante a sobrevivência de 5 mil famílias que não teriam outra opção que o cultivo do ópio."

A produção ilegal é protegida pelas autoridades da província e o governo central de Cabul quase não tem acesso às minas dessa região, dominada pelos insurgentes.

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