Prometendo mudanças, Guterres presta juramento de posse na ONU
O ex-primeiro-ministro de Portugal António Guterres prestou juramento nesta segunda-feira (12) diante dos representantes dos 193 membros da Assembleia Geral das Nações Unidas. O português, que começará a exercer o cargo de 9º secretário-geral da instituição no dia 1° de janeiro, disse que "a ONU deve estar preparada para mudar".
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Com informações de Sophie Malibeaux
Falando em inglês no início do discurso, Guterres jurou solenemente exercer lealdade e defender os interesses da ONU. "As Nações Unidas nasceram da guerra e hoje devem estar aqui para a paz", declarou o próximo chefe da instituição. Em seguida, ele anunciou que além da segurança, suas prioridades serão o desenvolvimento sustentável e a reforma da entidade.
Guterres assume o cargo no lugar do sul-coreano Ban Ki-moon, que termina seu segundo mandato de cinco anos com um balanço contestado por muitos, principalmente por causa de sua impotência diante da crise síria. E esse contexto aumenta as expectativas sobre a chegada do português.
Para o diplomata Jean-Marc de La Sablière, representante permanente da França na ONU entre 2002 e 2007, o desafio de Guterres não será nada fácil. “Para exercer essa função, o secretário-geral tem que se dar bem com os membros permanentes”, comenta, lembrando que a divisão do Conselho de Segurança sobre as crises na Síria e no Oriente Médio tornam esse exercício delicado. Afinal, o substituto de Ban Ki-moon terá que tentar aproximar Rússia e Estados Unidos sobre esse tema, apesar da imprevisibilidade de ambos os lados a partir da chegada de Donald Trump ao poder.
Transparência da eleição favorece
Porém, alguns observadores são otimistas e apostam na personalidade do ex-premiê para o sucesso de seu mandato. Alexandra Novosseloff, pesquisadora do Centro para a cooperação internacional, estima que “Guterres assume o cargo beneficiando de uma espécie de aura, seja entre os representantes dos Estados-membro ou dentro da própria instituição. Todos os funcionários das Nações Unidas estão muitos contentes com sua eleição”, o que pode ajudá-lo, analisa. Além disso, o português é o primeiro secretário-geral eleito por meio de um processo totalmente transparente, já que até então a escolha era feita por meio de negociações de bastidores, geralmente permeadas pelas tensões dentro do Conselho de Segurança.
Outro aspecto que pesa a favor do novo chefe da ONU é sua experiência dentro da instituição, principalmente após dez anos atuando em zonas de risco para os programas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). “Guterres é um homem de justiça social”, comenta o diretor-geral do Programa Conjunto da ONU sobre HIV/Aids (Unaids), Michel Sidibé, que trabalhou oito anos ao lado do português. “Ele vai lutar pela democratização, pelo acesso aos recursos para as ONGs e pelas estruturas intermediárias, pois não podemos continuar com o mesmo tipo de governança no sistema das Nações Unidas. É preciso uma abertura para as ONGs e para o setor privado”, analisa.
Os planos do próximo secretário-geral parecem avançar nesse sentido, já que o português terminou seu discurso desta segunda-feira dizendo que "todos nós vivemos em um mundo complexo e que as Nações Unidas não podem fazer tudo sozinhas". Para Guterres, "a parceria deve ser parte central da nova estratégia".
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