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O Mundo Agora

2016: o ano que balançou a ordem liberal mundial

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2016 foi o ano em que a chamada “ordem liberal internacional” balançou. Crises econômicas, movimentos populistas, terrorismo, guerras, enfrentamentos entre grandes potências militares. Como se o carro da história mundial, com os freios desgastados, estivesse rolando ladeira abaixo sem ninguém no volante.  

O presidente chinês Xi Jinping e o presidente eleito Donald Trump
O presidente chinês Xi Jinping e o presidente eleito Donald Trump (Foto: Reuters)
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A falta de confiança dos cidadãos é geral. Hoje, os desafios não respeitam fronteiras e poucos ainda acreditam que seus governos nacionais têm condições de resolver os problemas que se acumulam. Os dirigentes nacionais não dão mais conta do recado diante da mudança climática, da revolução tecnológica, da globalização da informação e da comunicação, das novas maneiras de produzir e consumir, das migrações de massa ou do crime organizado transnacional.

As velhas estruturas políticas, sociais e econômicas dos Estados nacionais não sabem como se adaptar. Nos países desenvolvidos a nova revolução industrial e digital abriu um abismo entre perdedores e vencedores. Grandes cidades e regiões mais dinâmicas e inovadoras ficam cada dia mais ricas. Enquanto territórios rurais e periurbanos, com suas velhas indústrias e empregos desaparecendo, se afundam na depressão e até na miséria.

Em 2016, os perdedores se revoltaram contra a incapacidade dos governos em protegê-los. Metade dos eleitores ingleses votaram a favor do Brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia), na Espanha, o voto populista deixou o país um ano sem governo, na Europa inteira os partidos nacionalistas, soberanistas e xenófobos, da direita e da esquerda, estão ganhando votos.

"Volta a ideia de que a democracia não resolve"

Pior ainda: volta a ideia de que a democracia não resolve e que bom mesmo são os regimes fortes e autoritários. Esse rechaço de uma metade da população contra a outra metade, sem que as autoridades tradicionais possam canalizar a raiva, teve a sua apoteose nos Estados Unidos com a eleição de Donald Trump.

É uma ilusão pensar voltar atrás para os tempos das fronteiras fechadas, das informações controladas, das indústrias nacionais subsidiadas e protegidas, e das políticas sociais generosas. Os que votam em autoproclamados “salvadores da pátria” serão os primeiros sacrificados. Enquanto isso, boa parte das sociedades desenvolvidas estão ameaçadas de mergulhar no caos político e econômico, levando o resto o mundo de roldão. Os países emergentes ou em desenvolvimento tiveram que encarar esse fim da festa.

Quase todos haviam encontrado lucrativos nichos nos tempos da “globalização feliz”. Mas a crise econômica mundial, a queda do preço das matérias primas e a perda de consumidores para as cadeias produtivas globais acabou com a farra. A economia russa está num poço sem fundo e Vladimir Putin se segura no poder apelando para o nacionalismo agressivo e intervenções militares na Ucrânia ou na Síria, com o pretexto de restabelecer a “potência” mundial russa.

A China, com graves problemas internos, decidiu frear as reformas domésticas e garantir o poder autoritário do Partido Comunista, apelando também para provocações militares contra os vizinhos. Boa parte dos governos do Sul do planeta estão em crise, com economias afundando e populações revoltadas.

O balanço do ano 2016 não é dos mais alvissareiros. Muitos já falam até de riscos de guerra geral. O problema central é que desde 1945, havia uma narrativa para justificar a necessidade de uma ordem internacional: democracia, império da lei, liberdade de expressão e culto, liberdade econômica, a paz pela liberdade do comércio sob a égide das Nações Unidas.

"Cada um só pensa no seu"

Só que hoje essa narrativa está desaparecendo. O principal “narrador” era os Estados Unidos, que tinha meios de garantir essa receita, mesmo quando era hipócrita e não aplicava o que dizia. Mas o presidente Trump parece que não quer mais saber disso. Hoje nem a China, nem a Rússia, defendem uma “ordem internacional”.

Cada um só pensa no seu. A Europa, mostrou durante o ano, que não vai sair tão cedo da sua crise interna. E os outros países do mundo não tem capacidade de garantir uma ordem aceitável. Mas se não houver mais um piloto no avião, as chances de um “crash” violento aumentam barbaramente. 2016 não foi um ano bom para a liberdade, a democracia e a paz.

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