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Rússia deve pressionar regime sírio a respeitar trégua, aponta especialista

A trégua na Síria está mais uma vez fragilizada. Dez grupos rebeldes suspenderam na segunda-feira (2) sua participação nas discussões de paz. Os insurgentes acusam o regime do presidente Bashar al-Assad de não respeitar o cessar-fogo em vigor desde quinta-feira. Em entrevista à RFI nesta terça-feira (3), Agnès Levallois, especialista do mundo árabe contemporâneo no Instituto de Ciências Políticas de Paris (Sciences Po), diz que a única solução é a Rússia pressionar Bashar Al-Assad a respeitar o acordo.

Rebeldes nesta segunda-feira (2), em uma trincheira perto de Douma, cidade a leste de Damasco controlada pela rebelião.
Rebeldes nesta segunda-feira (2), em uma trincheira perto de Douma, cidade a leste de Damasco controlada pela rebelião. REUTERS/Bassam Khabieh
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As negociações de paz sobre o conflito sírio estavam previstas para começar no fim do mês na capital do Cazaquistão, com mediação de Rússia, Irã e Turquia. Em um comunicado, os rebeldes dizem ter "respeitado o cessar-fogo no conjunto do território sírio", mas acusam o governo e seus aliados de abrir fogo e cometer violações principalmente nas regiões de Wadi Barada e de Ghuta Oriental, na província de Damasco, controlada pela rebelião.

Bashar al-Assad tenta retomar o controle dessa região estratégica, onde estão as principais fontes de abastecimento de água potável para os quatro milhões de habitantes da capital e seus arredores. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), ONG que monitora a guerra civil, confirma que tropas do regime, apoiadas por combatentes do Hezbollah libanês, intensificaram na noite de segunda-feira os bombardeios nessa região. Os combates são de extema violência, e segundo o OSDH, opõem tropas governistas e um grupo controlado por uma facção que era ligada à Al Qaeda.

Regime sírio nunca respeitou as tréguas negociadas

Agnès Levallois lembra que o regime sírio nunca respeitou as tréguas negociadas, desde o início do conflito há mais de cinco anos. Segundo ela, Bashar al-Assad se sente hoje em uma posição de força, confortado pelas vitórias obtidas no terreno, principalmente a retomada de Aleppo, graças apoio de seus aliados exteriores.

O regime coloca em risco o acordo ao estimar que tem sua própria agenda e não está engajado nas promessas feitas por seus parceiros intenacionais, acredita a professora da Sciences Po. Para ela, a única solução para que essa trégua seja respeitada é uma pressão, principalmente da Rússia, sobre Damasco.

Bashar al-Assad quer continuar a reconquistar as partes de seu território ainda na mão dos rebeldes, mas precisa dos aliados externos para isso. Mas o presidente russo Vladimir Putin não quer ficar indefinidamente na Síria. A participação militar no conflito custa caro e ele deseja um acordo para pôr fim ao conflito.

No entanto, "assistimos hoje a um jogo dúbio, onde os russos concedem uma pequena margem de manobra ao presidente sírio", analisa Agnès Levallois. "Putin aproveita essas últimas semanas antes da posse de Donald Trump nos Estados Unidos para mostrar que é um ator indispensável no cenário internacional", conclui.

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