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Árabia Saudita/mulheres

Crise econômica obriga Árabia Saudita a autorizar mulheres a dirigir

As sauditas serão autorizadas a dirigir a partir de junho de 2018, um avanço que está sendo comemorado em todo o país. A decisão é considerada histórica no reino ultraconservador, onde o wahabismo, uma interpretação rígida do Islã, é a religião dominante. Mas esconde interesses econômicos.

Uma mulher dirigindo um carro na Árabia Saudita
Uma mulher dirigindo um carro na Árabia Saudita REUTERS/Faisal Al Nasser
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A Árabia Saudita é o único país do mundo onde as mulheres ainda não podiam dirigir e a proibição era vista como um símbolo da repressão vigente no país, onde as sauditas ainda dependem da tutela de um homem da família para estudar ou viajar. Há anos movimentos de resistência tentavam, sem sucesso, driblar essa proibição.

A decisão, entretanto, foi tomada levando em conta os interesses do governo saudita, que lançou um grande plano de reformas sociais e econômicas, apesar da oposição de setores ultraconservadores. Isso porque, com a queda do preço do petróleo, e a diminuição dos recursos, a inserção das mulheres no mercado profissional torna-se uma prioridade, mas dificultada pela proibição de dirigir.

A questão foi levantada em 2016 pelo príncipe saudita Al-Walid ben Talal, lançou um apelo para que as mulheres obtivessem esse direito. Na época, ele se justificou destacando o custo econômico dessa proibição. Em média, cada família saudita gasta € 950 em táxis ou na contratação de motoristas particulares para suas mulheres. Nesse contexto, a autorização, disse, “era uma demanda social urgente que a conjuntura econômica justificava”.

Palavras bem colocadas para evitar a ira dos mais radicais, que compõem uma boa parte da sociedade wahabista, e defendem que a mulher continue tendo não só um papel secundário na sociedade, mas também seja privada de suas liberdades individuais. Desta maneira, o decreto oficial que autoriza as sauditas a dirigir, publicado nesta terça-feira (25) pela agência oficial de notícias SPA, não deixa de ser um avanço, mas está longe de indicar uma real evolução no país dos direitos das mulheres.

“A proibição não tem nada a ver com Islamismo”

Independentemente dos motivos reais que conduziram o reino a tomar a decisão, as mulheres estão comemorando. Uma delas é a professora Fawzya Al Bakr. Primeira mulher a desafiar essa proibição nos anos 90, ela formou um grupo de 47 mulheres e saiu às ruas dirigindo, desafiando a proibição. “Foi uma forma de protesto. Dirigir é um direito legítimo”, disse em entrevista à RFI.

Ela lamenta que, em 27 anos, não tenha havido nenhuma mudança. “Somos todos apegados à religião, somos todos muçulmanos, mas a proibição de dirigir não tem nada a ver com o Islamismo. As pessoas misturam tudo, tradição e religião”, diz. “A proibição de dirigir era exclusivamente saudita. Suspender essa interdição não vai causar nenhuma polêmica. Em todos os países muçulmanos as mulheres têm o direito de dirigir", declara.

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