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Iraque/ terrorismo

Ameaças, fome e destruição: a herança do grupo EI em cidade do Iraque

Uma das faces de um outdoor convoca à jihad (guerra santa islâmica), enquanto a outra ameaça de morte os fumantes. Libertada nesta semana, a cidade iraquiana de Hawija mostra sinais dos três anos que passou sob o controle jihadista.

Placa do grupo Estado Islâmico na estrada de al-Al-Fatiha, ao sul de Hawija.
Placa do grupo Estado Islâmico na estrada de al-Al-Fatiha, ao sul de Hawija. REUTERS/Stringer
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O grupo Estado Islâmico (EI) ateou fogo em tudo que pôde antes de fugir da ofensiva do governo iraquiano na cidade, localizada no norte da província de Kirkuk, rica em petróleo. Uma fumaça negra e densa sobe de poços de petróleo incendiados no local. Assim se vão "os milhões de dólares que deveriam ser destinados aos iraquianos", lamentam moradores das redondezas.

Nesta região, ao norte de Bagdá, conhecida pelo cultivo de cereais e, principalmente, por suas melancias, os jihadistas também incendiaram os campos. Nas estradas que levam a Hawija, último centro urbano nas mãos dos jihadistas no Iraque, moradores imploram por comida aos comboios militares.

População faminta

"Há quatro anos, não vemos chá ou açúcar", diz Um Imed, com lágrimas nos olhos, enquanto aperta o longo vestido preto coberto pela poeira levantada pela passagem de veículos. "Nossos filhos morrem de fome e andam descalços. Apenas as famílias do Estado Islâmico estão alimentadas, porque o EI nos obrigava a lhes dar mais de um quarto de nossas colheitas".

Milícias xiitas e soldados iraquianos se aproximando de Hawija, em 30 de setembro.
Milícias xiitas e soldados iraquianos se aproximando de Hawija, em 30 de setembro. REUTERS/Stringer

Na cidade, resta a desolação. "Quando o EI tomou a localidade, fizeram uso do hospital. Mas à medida que as forças iraquianas se aproximavam, quiseram incendiar tudo, para que ninguém pudesse se beneficiar da infraestrutura", contou à AFP Mohamed Khalil, porta-voz da Hashed al-Shaabi, força paramilitar dominada por xiitas que tomou o controle do hospital.

Parte do local resistiu às chamas. Ele fica em frente à prefeitura, desativada e onde ninguém se atreve a se aventurar, por medo de que tenha minas instaladas.

No interior do hospital, nos consultórios e áreas de descanso das enfermeiras, receitas, folhetos e documentos administrativos narram a vida sob o domínio do EI. Em documentos com o título "Estado Islâmico, província de Kirkuk", líderes jihadistas pedem aos funcionários que atendam com urgência "o irmão Adel, soldado das forças especiais".

Agora, sob o comando xiita

Desde a sua reconquista, na última quinta-feira (5), a cidade está sob novo controle. Os 70 mil moradores sunitas que ali permaneceram não saem de casa.

Sobre as ruínas das lojas do principal mercado público, reduzido a escombros pela explosão de um carro-bomba, o Hashed al-Shaabi fincou suas bandeiras, substituindo as dos jihadistas. A maioria é de cor preta e exibe o retrato do imã Hussein, neto do profeta Maomé e figura reverenciada pelos muçulmanos xiitas.

Os combatentes do Hashed al-Shaabi tiveram um papel importante na retomada de muitas cidades conquistadas pelo EI durante uma ofensiva relâmpago em 2014, que o levou a controlar um terço do país. Juntamente com o Exército e a polícia, esses combatentes participaram das operações de reconquista de Hawija, localizada a 230km de Bagdá e que, sob o regime do ditador Saddam Hussein, derrubado em 2003, já era conhecida por abrigar grupos sunitas radicais.

Após a invasão americana em 2003, era apelidada de "Kandahar do Iraque", em referência ao reduto talibã no Afeganistão. Como lembram os folhetos espalhados pelo hospital e um pouco mais distante, no chamado "tribunal do EI", a jihad não é uma novidade na cidade. Alguns trechos retomam discursos de Abu al-Zarqawi, emir da Al-Qaeda no Iraque que lutou contra a presença americana no país, no começo dos anos 2000.

"Deixa o EI voltar", proclama, desafiador, Udai Salman, 35, que deixou mulher e filha na cidade xiita de Najaf para se unir ao Hashed no combate aos jihadistas. "Estamos aqui, e estamos esperando."

Reportagem AFP

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